Fiz, uma vez, uma longa entrevista com o ex-presidente José Sarney, no gabinete que ele ocupava no Senado Federal.
( a íntegra da entrevista ocupa 51 páginas do nosso livro "Dossiê Brasília: os Segredos dos Presidentes". Lá estão, também, entrevistas com Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso ).
A certa altura, ao passar em revista as atribulações que sofreu no exercício do Poder, o ex-presidente Sarney deu uma declaração intrigante e algo enigmática:
"A Presidência é um cargo perigoso, porque expele os ocupantes - pela doença, pela incompetência, pela deposição ou pela renúncia".
( Sarney disse que, num momento de crise agida com o Congresso, resolveu, sozinho, que iria renunciar ao cargo de Presidente da República. Chamou o ministro da Justiça, Paulo Brossard, para comunicar a decisão. A crise acabou contornada ).
Pelo jeito, chegou a hora de a Presidente Dilma Rousseff - uma mulher pessoalmente honrada, até prova em contrário - sentir na pele os "perigos" da Presidência.
Não deve ser fácil.
Cinco jovens metralhados pela polícia dentro de um carro. Cinquenta perfurações de bala na lataria. Não há, em lugar algum do mundo, "tática" policial que justifique tal selvageria. Só há uma esperança: a de que a imagem ( chocante ) do carro perfurado por cinquenta balas se transforme num "divisor de águas". Tomara que a indignação, por fim, vença a indiferença. Que polícia é essa?