Pesadelo recorrente: chego ao inferno. O diabo da portaria me pergunta: "Fez alguma coisa de útil na vida?". Arrisco: "Jornalismo serve?". E ele: "Quá-quá-quá! Guardas, levem-no!".
Quem já transitou por aquelas esteiras eternamente quebradas haverá de concordar: por uma questão de justiça, o Aeroporto do Galeão - hoje privatizado - deveria entrar para a história mundial da administração como o exemplo mais clamoroso, mais reluzente, mais vergonhoso, mais estúpido e mais indiscutível da imensa incompetência gerencial brasileira. Não é culpa apenas de partido "a", "b" ou "c": é incompetência, desleixo e estupidez, acumulados ao longo de anos, anos e anos. O resultado é o que se vê ali. Ninguém precisa falar. Basta olhar. Num país sério, os responsáveis por aquela pocilga deveriam sair de lá algemados.
ADEUS, TEORIAS CONSPIRATÓRIAS. PROMOTOR OBCECADO COM CASO KENNEDY REÚNE CINQUENTA E TRÊS PROVAS QUE APONTAM PARA UM ÚNICO CULPADO (MAS UMA PERGUNTA FICARÁ SEM RESPOSTA)
(Vincent Bugliosi: veredito definitivo sobre o Caso Kennedy aponta Oswald como único atirador. O resto é invenção)
A GLOBONEWS reapresenta, nesta sexta, às 7: 05 da manhã e às 17:05, o DOSSIÊ especial que reúne sete entrevistas gravadas, ao longo de vinte anos, com personagens que estiveram de uma maneira ou de outra ligados ao “crime do século”: o assassinato do presidente John Kennedy. Um dos entrevistados é o promotor americano Vincent Bugliosi, autor de “Reclaming History” – um livraço de 1.612 páginas aclamado como a “palavra final” sobre o atentado. Durante duas décadas, o promotor cruzou, obsessivamente, todas as informações disponíveis sobre aquele fim de semana em Dallas. Terminou reunindo o que ele chama de provas indesmentíveis do envolvimento de Lee Oswald. Eis a palavra do promotor – que ficou célebre no julgamento da Família Manson, o bando de fanáticos que, em 1969, cometeu crimes em série na Califórnia, entre eles, o assassinato de Sharon Tate, a mulher do cineasta Roman Polanski:
(Lee Oswald: desprezo por "representantes" tanto do comunismo quanto do capitalismo)
Atenção, senhores seguidores de teorias conspiratórias sobre Caso Kennedy: um dos mais conhecidos promotores americanos lamenta informar que Lee Harvey Oswald é o único responsável pelo assassinato do presidente.
Cinquenta anos depois da morte do presidente, finalmente é hora de despachar as teses conspiratórias para o cemitério das suposições que não conseguem ser provadas. As teses continuarão a render livros, livros e livros – alguns, francamente interessantes. Mas falta a elas algo que não pode faltar quando se fala de Justiça: provas, evidências materiais, credibilidade.
O promotor vai direto ao ponto: ao longo de exatos cinquenta anos, jamais apareceu uma prova confiável de que tenha havido outro atirador, além de Lee Harvey Oswald, um ex-fuzileiro naval de vinte e quatro anos. Jamais apareceu uma prova confiável que ligasse Oswald a qualquer grupo – seja ele a Máfia, a CIA, a KGB, os cubanos.
Um historiador já constatou: é difícil acreditar que “alguém tão inconsequente” quanto Lee Oswald tenha retirado brutalmente de cena alguém “tão consequente” quanto o presidente John Kennedy. Mas foi o que aconteceu. Guardadas as proporções e as particularidades de cada tragédia, o raciocínio do historiador pode ser aplicado a outros atiradores solitários, como Mark Chapman, o fã inconsequente que tirou a vida do ex-beatle John Lennon. Ou Shiran Bushara Sirhan, o imigrante inconsequente que interrompeu a caminhada do senador Robert Kennedy rumo à presidência.
Gravando!
Qual é a pergunta que não foi respondida no caso do assassinato do presidente ?
Bugliosi: “Não há perguntas relevantes sobre quem é o culpado ou se houve conspiração que não tenha sido respondida em “Reclaiming History”.
O rifle de Oswald foi apontado por experts como a arma do crime. Ou seja: a arma que matou o presidente era de propriedade exclusiva de Lee Oswald. Depois dos tiros na Dealey Plaza, Oswald foi o único empregado do Depósito de Livros Escolares que deixou o prédio. Todos os outros permaneceram lá. Cinquenta e três minutos depois, ele matou o policial J.D.Tippit. Quando foi interrogado, por doze horas ao longo de três dias, mentiu repetidamente.
Reuni 53 diferentes provas que apontam irresistivelmente para a culpa de Oswald. Não seria humanamente possível, para ele, ser inocente…Você pode ter uma, duas ou três indícios de que você é culpado, ainda que você seja inocente. Mas não pode ter 53!
Informo à Globonews que reuni 32 provas , em Reclaiming History, de que não existiu conspiração.
Não há evidência confiável – a palavra-chava é esta: confiável! – de que a CIA, a Máfia ou qualquer outro grupo estejam envolvidos no assassinato. O que há são alegações sem provas ou pura especulação.
Teorias conspiratórias acusaram 42 grupos e 82 assassinos e 240 pessoas de envolvimento no assassinato ! Ora, três pessoas podem guardar um segredo – mas só se duas já estiverem mortas…Cinquenta anos depois, jamais uma palavra confiável vazou de uma conspiração. Por quê ? Porque as teorias não fazem sentido!
Se um desses grupos, como a CIA ou a Máfia, tivesse decidido matar o presidente – algo que considero prodigiosamente improvável – , Oswald seria uma das últimas pessoas na face da terra a quem eles procurariam. Não era um atirador “expert”. Era um bom atirador – que tinha comprado pelo correio um rifle de vinte dólares. Era notoriamente inconfiável e instável. Tentou deserdar para a União Soviética em 1959 – na era pré-Gorbachev. Queria desesperadamente se tornar cidadão soviético. Quando não conseguiu, cortou os pulsos. Vou ser sarcástico agora: era o tipo de pessoa em quem a Máfia ou a CIA iria confiar para cometer o maior crime da história americana.
De qualquer maneira, na suposição de que algum desses grupos decidira matar o presidente e, por alguma razão, mobilizara Oswald para a tarefa: depois de Oswald atirar em Kennedy na Dealey Plaza e sair do prédio, se ele tivesse cometido o atentado para a CIA ou a Máfia, um carro estaria esperando por ele para conduzi-lo à morte…É o que aconteceria. Mas sabemos que Oswald, depois de sair do prédio, foi para a rua, com treze dólares no bolso, para tentar pegar um táxi ou um ônibus….
O roteiro da comitiva presidencial – que previa a passagem em frente ao Depósito de Livros Esccolares – só foi determinado no dia 18 de novembro de 1963 – quatro dias antes do assassinato. Alguém acreditaria que uma conspiração para assassinar o presidente dos Estados Unidos fosse estabelecida a apenas quatro dias do assassinato? É ridículo”.
O caso do assassinato de John Kennedy foi cem por cento resolvido?
Bugliosi: “Sempre se acreditou que jamais haveria uma solução completa deste caso: até os que, como eu, acreditavam que Lee Oswald agiu sozinho ao matar Kennedy, diziam que haveria sempre alguma dúvida. Com “Reclaiming History”, eliminei todas as questões pendentes. Todas as resenhas, por sinal, dizem que o livro é a “palavra final” no assassinato. Respondo, ali, a centenas de perguntas que a maioria nem sequer sonhava em fazer.
A única pergunta que jamais será respondida com cem por cento de certeza é: por que Oswald matou Kennedy? Nós podemos imaginar por quê, mas não podemos ter cem por cento de certeza. Mas não é preciso saber. O “motivo” não é algo a ser provado num caso criminal. Já mandei gente para o Corredor da Morte sem saber precisamente por que cometeram seus crimes. Tudo o que eu sabia é que eles tinham matado a vítima. Não tinham nenhuma “justificativa legal” para fazê-lo, como legítima defesa, por exemplo. Insisto: por que Oswald cometeu o atentado é a única pergunta que jamais será respondida com cem por cento de certeza. Sabemos de várias das razões, mas não saberemos de todas”.
Que motivo Oswald consideraria “razoável” ?
Bugliosi: “Se Oswald estivesse vivo, eles mesmo talvez não fosse capaz de explicar a você toda a “dinâmica” de uma mente turbulenta – que o levou a este ato monstruoso. Mas há certas coisas que sabemos. Oswald tinha ilusões de grandeza. Chamava seus diários de “históricos”. Lia biografias de grandes líderes, com quem se comparava. Seu companheiro nos fuzileiros navais disse que Oswald queria produzir algo que fosse falado daqui a dez mil anos. Queria mudar o rumo da história.
Oswald amava e reverenciava Fidel Castro. Kennedy tinha apoiado a invasão de Cuba, na Baía dos Porcos. Oswald não gostou, claro. Cinco dias antes do assassinato, Kennedy fez um discurso sobre política externa em Miami Beach, em que pedia ao povo cubano que se insurgisse contra Fidel Castro. Prometeu ajuda americana. O amor de Oswald por Fidel Castro e pela revolução cubana foi um dos motivos que levaram Oswald a fazer o que ele fez. Oswald imaginava que, se ele matasse um inimigo de Castro, como Kennedy era, poderia ajudar a revolução cubana.
Estive trabalhando no Caso Manson. Posso dizer que Charles Manson não conhecia as identidades das pessoas mortas por seus seguidores. Apenas sabia que eles eram membros de um establishment que ele odiava. O que quero dizer é que as mortes cometidas pelos seguidores de Manson eram “assassinatos representativos”. Ou seja: ele não sabia a identidade das vítimas. Ao ler os diários de Oswald, vi uma anotação em que ele diz: ”Vivido sob o comunismo e sob o capitalismo. Desprezo os representantes de ambos”.
Não há prova de que Oswald odiava Kennedy. Gostava das leis de direitos civis – mas era contra Kennedy pelo que Kennedy tinha feito em relação a Fidel Castro. O que se sabe é que Oswald odiava os Estados Unidos da América. Talvez a mente turbulenta de Oswald visse Kennedy como o representante máximo de uma sociedade que ele desprezava. Quando atirou em Kennedy, ele estava atirando nos Estados Unidos da América.
Ninguém saberá com cem por cento de certeza por que ele matou – mas não é necessário saber”.
Os que acreditam em teorias conspiratórias apontam o movimento da cabeça do presidente para trás na hora do tiro fatal como uma indicação de que alguém atirou de lado. Qual é a credibilidade desta explicação?
Bugliosi: “Um grande número de pessoas começou a acreditar em teorias conspiratórias depois que foi exibida a imagem que sugere que o tiro veio da frente – e não de trás, onde Oswald estava. A resposta é a seguinte: se você olhar o filme, não notará. Mas, se você olhar o fotograma 313, verá quer o presidente é atingido na cabeça. É possível ver a cabeça “explodindo”. A cabeça vai para a frente por 5,8 centímetros, o que indica que a bala veio de trás – não da frente. Quando ocorre o impacto, a cabeça do presidente vai para a frente. Depois, no fotograma 314 a0 321, o presidente tem o que se chama de reação neuro-muscular. Danos provocados nos nervos pela entrada da bala no cérebro do presidente fizeram com que os músculos se contraíssem. Isso forçou a cabeça para trás. Ou seja: neste exato momento do impacto, a cabeça do presidente não vai para trás, mas para frente. Uma foto em contraste mostra a terrível imagem de pedaços do cérebro do presidente indo para a frente, o que, de novo, indica que o tiro vem de trás. Era lá que Lee Oswald estava”.
Chega de teorias conspiratórias sobre o Caso Kennedy. Promotor obcecado com a tragédia de Dallas diz que jamais apareceu uma prova confiável de que tenha havido uma conspiração ( ele é um dos personagens do DOSSIÊ GLOBONEWS - que será reapresentado nesta quarta, às 7:05 e ás 17:05, no dia em que a tragédia de Dallas completa 50 anos ):
http://goo.gl/XjI4
Refiz o cálculo: se todos os jornalistas que se acham gênios pulassem de uma vez só, o Brasil sofreria um terremoto de 9,2 na Escala Richter. Ia ser devastador.
O nome : Rosa. É assim que se chama a mulher que telefona para a redação tarde da noite à procura de um repórter. Quer dar uma notícia sobre “a aparição de uma baleia”.
O repórter suspira, desalentado: a mulher – que fala com sotaque espanhol – deve ser uma dessas loucas que escrevem cartas para as redações ou ligam de madrugada para dar notícias absurdas sobre profecias, iluminações, códigos, conspirações, segredos.
O sotaque só serve para agravar a suspeita: o espanhol é a língua preferida por cartomantes que inventam nomes e carregam no sotaque para impressionar os desesperados que as procuram.
Rosa insiste : a notícia sobre a aparição da baleia merece ser ouvida porque é algo “sumamente importante”. A entrevista fica marcada para o dia seguinte, num lugar improvável : um banco de praça.
Rosa chega na hora marcada: meio-dia ( Noto que os cabelos pretos estão penteados como se, numa subversão absurda do calendário, ela estivesse posando, agora, para uma foto que já nascia amarelada, num álbum dos anos setenta. Aquele corte de cabelo um dia foi chamado de Pigmalião. Virou febre, nos anos setenta, não em homenagem ao escultor da mitologia, mas porque era usado por uma atriz numa novelinha medíocre das sete da noite. Ah, o implacável poder simplificador da televisão…)
Informa a idade: 56 anos. Traz, nas mãos, um livro em que, na capa, a imagem de uma menina de vestido rosa se sobrepõe a uma velha foto de família. Os outros nove personagens retratados na capa estão em preto-e-branco. Só a menina ganhou a graça da cor.
Noto um detalhe banal: o título do livro que ela traz para a entrevista tem doze letras. Por um segundo, cedo às tentações da superstição: são doze os apóstolos, são doze os signos, são doze os meses do ano, são doze as horas que dividem as duas metades do dia. As doze letras do título terão algum significado ?
Não! – repreendo-me, em silêncio. Toda superstição é idiota.
A visitante se move com gestos rápidos.
Não há tempo a perder. Pergunto como foi, afinal, a aparição da baleia. Por que diabos a aparição de um animal terá sido tão aterradora, tão reveladora e tão importante? Rosa move a cabeça em direção ao gravador que seguro nas mãos. Não quer que o alvoroço do barulho de carros na rua e de crianças na praça encubra o que ela vai falar:
- “De repente, sem nenhum aviso, aconteceu. Um estampido aterrador agitou o mar ao nosso lado : era um jato d´água, o jato de uma baleia, poderoso, enorme, espumante, uma voragem que nos encharcou e fez o Pacífico ferver em torno de nós. E o ruído, aquele som incrível, aquele bramido primordial, uma respiração oceânica, o alento do mundo. Essa sensação foi a primeira : ensurdecedora, ofuscante; e imediatamente depois emergiu a baleia. Primeiro, emergiu o focinho, que logo depois tornou a se meter debaixo d´água; e depois veio deslizando todo o resto, numa onda imensa, num colossal arco de carne sobre a superfície, carne e mais carne, brilhante e escura, emborrachada e ao mesmo tempo pétrea, e num determinado momento passou o olho, um olho redondo e inteligente que se fixou em nós, um olhar intenso vindo do abismo. Quando já estávamos sem fôlego diante da enormidade do animal, ergueu a toda altura aquela cauda gigantesca e afundou-a com elegante lentidão na vertical; e, em todo esse deslocamento do seu corpo tremendo, não fez qualquer marola, não provocou a menor salpicadura nem emitiu nenhum ruído além do suave cicio de sua carne monumental acariciando a água. Quando desapareceu, imediatamente depois de ter mergulhado, foi como se nunca houvesse estado ali”.
Rosa fala sem tomar fôlego. Diz que a aparição da baleia pode significar para todos o que significou para ela : a descoberta do Cálice Sagrado, a visão inesquecível que lhe abriu as portas para desvendar o Grande Segredo das Palavras, esta obsessão que há séculos mobiliza tanta gente:
- “Com a escrita é a mesma coisa: muitas vezes, você intui que o segredo do universo está do outro lado da ponta dos seus dedos, uma catarata de palavras perfeitas, a obra essencial que dá sentido a tudo. Você está no próprio limiar da criação, e em sua cabeça eclodem tramas admiráveis, romances imensos, baleias grandiosas que só revelam o relâmpago do seu dorso molhado, ou melhor, fragmentos desse dorso, pedaços dessa baleia, migalhas de beleza que permitem intuir a beleza insuportável do animal inteiro; mas em seguida, antes de você ter tempo de fazer alguma coisa, antes de poder calcular seu volume e sua forma, antes de entender o sentido do seu olhar perfurante, a prodigiosa besta submerge e o mundo fica quieto e surdo e tão vazio”
Pergunto: o que fazer com as palavras, depois da revelação de que elas, no fim, não conseguirão desvendar a “beleza insuportável” do grande animal ? Que utilidade elas terão ?
-”Disparamos palavras contra a morte, como arqueiros de cima das ameias de um castelo em ruínas. Mas o tempo é um dragão de pele impenetrável que devora tudo. Ninguém vai se lembrar da maioria de nós dentro de alguns séculos: para todos os efeitos, será como se não houvéssemos existido. O esquecimento absoluto daqueles que nos precederam é um manto pesado, é a derrota com a qual nascemos e para a qual nos dirigimos. É o nosso pecado original”.
Se a batalha contra esse “dragão de pele impenetrável” um dia estará perdida, por que, então, insistir na tarefa de erguer barricadas com as palavras ?
- “Isto é a escrita : o esforço de transcender a individualidade e a miséria humana, a ânsia de nos unir aos outros num todo, o desejo de sobrepor-nos à escuridão, à dor, ao caos, à morte”
Você diz que escolheu escrever romances para participar dessa batalha. Por que essa escolha ?
- “Escrever romances implica atrever-se a completar o monumental percurso que tira você de si mesmo e permite se ver no convento, no mundo, no todo. E, depois de fazer esse esforço supremo de entendimento, depois de quase tocar por um instante na visão que completa e fulmina, regressamos mancando para nossa cela, para o encerro de nossa estreita individualidade, e tentamos nos resignar a morrer”.
A fita termina. Rosa soletra o sobrenome : Montero, sem “i”. Rosa Montero. Deixa de presente o livro com o título de doze letras (“A Louca da Casa”).
Despede-se com um leve meneio de cabeça. Começa a caminhar em direção ao portão de ferro que, à noite, protegerá a praça da invasão dos mendigos. Dá meia volta, pede para o repórter checar se o gravador funcionou. Fica aliviada quando vê que as pilhas funcionaram, sim. “Gravou tudo”, digo. “Por supuesto”, ela responde.
E vai embora.
**********
PS: Tanto os encontros com a escritora espanhola Rosa Montero quanto as perguntas da entrevista são imaginários. O repórter pede licença aos internautas para, uma vez na vida, inventar um cenário. Mas as respostas da escritora sobre as baleias e as palavras são verdadeiras : foram extraídas do livro “A Louca da Casa”, publicado no Brasil pela Ediouro. Recomendadíssimo.
Por fim, faço minhas as palavras de Tom Carneiro, em algum outro porto deste oceano virtual:
"Um dia, os arqueólogos chegarão, para revirar a poeira de nossos ossos em busca de algum sinal. Descobrirão, boquiabertos, que dificilmente terá havido época tão medíocre quanto a nossa. Cinema medíocre, TV medíocre, música medíocre, jornalismo medíocre. Fecho a porta com cadeado - por dentro. Instalo-me no meu bunker imaginário, às margens do São Francisco. Se o planeta me chamar, direi que não estou. Mas não chamará, por supuesto. Ainda bem. Agradeço a deferência, em silêncio. Abro "A Montanha Mágica" em qualquer página. Começo a ler. Uma lufada de luz acalma a tempestade que se armava em minhas florestas interiores. A vigília vai ser longa. Ainda bem. Pode entrar, Miss Madrugada".
É só uma impressão: se os jornalistas de fato fossem o que pensam que são, a essa altura estariam caminhando sobre as águas - fácil, fácil.
Um militar vê na primeira página de um jornal uma foto do cenário do assassinato do presidente John Kennedy: nota que as janelas do prédio do Depósito de Livros Escolares do Texas estavam abertas.
Chega a uma conclusão: "Há alguma coisa errada, alguma coisa errada!". As janelas não poderiam estar abertas e sem vigilância quando o presidente estivesse passando por ali, a bordo de um carro aberto!
O militar desconfia que a vigilância tenha sido propositadamente afrouxada durante a visita do presidente a Dallas.
Durante anos, alimenta uma teoria conspiratória: a de que Kennedy fora eliminado porque iria iniciar a retirada de tropas americanas da Guerra do Vietnã - um ato que provocaria bilhões de dólares de prejuízo à indústria armamentista.
Um documento produzido pela Casa Branca um mês antes da tragédia de Dallas de fato indica a intenção do governo americano de iniciar um retirada, já no final de 1963.
Quem teria decidido que Kennedy teria de ser removido? Uma entidade onipresente chamada "complexo industrial-militar".
A teoria do militar faz sucesso entre os que acreditam em conspiração. Como tese, é inegavelmente bem articulada. Não parece um daqueles roteiros mirabolantes inventados por "conspiracionistas" de imaginação fertilíssima.
Bati na porta da casa do homem, em Virgínia, EUA, em 1992. Era articulado. O problema é que a teoria era de difícil comprovação: jamais alguém conseguiu provar que Lee Harvey Oswald fazia parte de uma conspiração para matar o presidente Kennedy.
Como bem lembra o promotor que produziu um livro definitivo sobre o Caso Kennedy ( Vincent Bugliosi, em Reclaiming History ), ao longo de cinquenta anos jamais apareceu um indício confiável que ligasse Oswald a qualquer grupo de conspiradores.
O militar - Fletcher Prouty - e o promotor - Vincent Bugliosi - são dois dos personagens que estão no DOSSIÊ GLOBONEWS especial - neste domingo, às 17:05.
Dallas manda lembranças.
Um dos mais conhecidos promotores americanos resolveu produzir uma obra definitiva sobre o assassinato do presidente Kennedy: esmiuçou, uma a uma, as teorias conspiratórias. Conseguiu descrever, com obssessiva precisão, tudo o que aconteceu naquele fim de semana em Dallas. O resultado da empreitada é um livraço de 1.612 páginas.
Fiz contato com o homem. Chama-se Vincent Bugliosi. Ficou famoso ao condenar os integrantes da Família Manson - aquela seita de fanáticos que matou - entre outros - a atriz Sharon Tate, mulher do cineasta Roman Polansky.
O que o promotor nos disse estará no Dossiê Globonews especial deste sábado - um programa que reunirá entrevistas que gravei, ao longo de vinte anos, com personagens importantes do Caso Kennedy - em Dallas, Virgínia, Kansas City.
Convite feito : sábado, 21:05, Globonews.
Constatação sem qualquer base científica: o Brasil só será uma democracia plena no dia em que qualquer brasileiro maior de cinco anos de idade puder dar voz de prisão a quem chamar de "Fuleco" o mascote criado pela Fifa para a Copa do Mundo.
E quando alguém precisa passar o resto da vida tentando encontrar uma explicação para uma "falha" que cometeu?
É o que aconteceu - por exemplo - com os jogadores da seleção brasileira de 1950.
Idem com um personagem que estará no DOSSIÊ GLOBONEWS especial deste sábado: o agente do FBI que tinha recebido, em outubro de 1963, a tarefa de investigar um certo Lee Harvey Oswald - que entrara na lista de "suspeitos" de espionagem depois de ter tentando obter visto de residência na União Soviética e em Cuba.
Semanas depois, no dia 22 de novembro de 1963, Lee Oswald estava numa janela do sexto andar do Depósito de Livros Escolares do Texas, com um rifle que comprara pelo correio, à espera da passagem da comitiva do presidente John Kennedy.
Bang, bang, bang.
O ex-agente do FBI se chamava James Hosty. Consegui um contato telefônico com ele. Aproveitei para gravar uma primeira entrevista, por garantia. Perguntei se ele me receberia para uma entrevista "olho no olho". Resposta: sim. Fui encontrá-lo num subúrbio remoto de Kansas City.
Hosty tinha ficado viúvo havia pouco tempo. Vivia num apartamento relativamente modesto, com um filho - já adulto - que exigia cuidados especiais. Não parecia fácil o dia-a-dia do ex-agente.
O agente que falhou justamente quando não poderia ter falhado é um dos personagens principais do DOSSIÊ GLOBONEWS que irá ao ar neste sábado, às 21:05. Novembro marca, como se sabe, os cinquenta anos do atentado que chocou o mundo: a morte do presidente John Kennedy.
Vale ouvir o que disse o agente que não poderia ter falhado.
Ao escrever um texto sobre o aniversário da morte do presidente Kennedy, um jornalista do New York Times produziu, há pouco, uma boa definição sobre ofício jornalístico: disse que a missão dos repórteres é, em essência, "descobrir as histórias por trás das histórias":
http://goo.gl/bcFmfj
Bingo!
A história principal todos sabem: o presidente Kennedy foi assassinado ao meio-dia e meia do dia 22 de novembro de 1963 quando desfilava em carro aberto no centro de Dallas, no Texas.
Mas há belos personagens cintilando em torno da grande história.
( Pausa para uma pequena digressão. Por falta de talento, vocação e habilidade para exercer alguma atividade que fosse obviamente importante, como a Medicina, por exemplo, terminei caindo no jornalismo. Dentro do jornalismo, desde cedo descobri que a única atividade que me interessava de verdade era a reportagem. Não havia nenhum motivo grandioso: era uma questão de vocação. Nada se compara a sujar o sapato de poeira para testemunhar, longe das redações, o grande espetáculo estrelado por personagens e histórias da chamada "vida real".
Faço esta digressão para dizer que, quando tinha meus sete anos de idade, em 1963, vi uma tia chorando com a notícia da morte do presidente Kennedy. Desde então, nomes que devem ter soado estranhos e remotos aos ouvidos de um menino - Dallas, Kennedy, Oswald - certamente passaram a exercer uma secreta e indefinível fascinação sobre o futuro caçador de histórias. Quem sabe, por carregarem ressonâncias da infância vivida num subúrbio desimportante do cone sul da América ).
Corta. Décadas depois, lá estava o locutor-que-vos-fala em Dallas, diante do Depósito de Livros Escolares do Texas, para entrevistar um homem que foi ferido no atentado que matou Kennedy: um personagem pouco conhecido da tragédia.
Eu teria a chance de ouvir - também - o fotógrafo que estava a poucos passos do carro que conduzia o presidente no instante do atentado. Aparece no filme do assassinato. Ouviu com clareza a exclamação de horror da primeira-dama, Jacqueline Kennedy: "Oh, não!".
Fui bater na porta do apartamento do agente do FBI que tinha sido encarregado de vigiar Lee Oswald semanas antes do atentado. Falhou quando não poderia ter falhado. Oswald tinha entrado na lista do FBI porque tentara conseguir cidadania soviética.
Ouvi a historiadora que era a única pessoa que conheceu pessoalmente tanto o presidente quanto o assassino. Publicou um livro sobre Lee Oswald e a mulher - uma russa chamada Marina.
Perto de Washington, pude ouvir o militar do Pentágono que atribuía a morte do presidente a uma conspiração. Motivo: Kennedy iria iniciar a retirada de tropas americanas do Vietnam. Isso significaria um prejuízo de bilhões de dólares à indústria armamentista.
Também abordei um ministro de Kennedy: o ex-secretário de defesa Robert McNamara. Perguntei se a morte do presidente teria alguma conexão - remota que fosse - com a guerra do Vietnam.
As entrevistas foram feitas entre 1992 e 2003 - para reportagens levadas ao ar pelo Fantástico.
Agora, estes personagens estarão reunidos numa edição especial do DOSSIÊ GLOBONEWS - que irá ao ar no próximo sábado, dia 16, às 21:05, no mês em que a morte de Kennedy completa cinquenta anos.
As gravações originais foram preservadas. Há material que nunca foi ao ar.
Sujar o sapato com a poeira da estrada, em busca de personagens. Pode ser em Dallas, em Hanói, em Bonsucesso, em Santa Maria da Boa Vista. Não importa. Haverá sempre uma história por trás da história.