setembro 29, 2013

CHANCE ÚNICA DE UM ENCONTRO COM UM PERSONAGEM MARCANTE: PAI DE TRÊS DESAPARECIDOS POLÍTICOS ARGENTINO VEM AO RIO PARA ENCONTRO NA LIVRARIA DA TRAVESSA/LEBLON

Quem quiser ter a chance de conhecer um personagem inesquecível deve ir, sem falta, à Livraria da Travessa, no Leblon, às oito da noite de quinta-feira, para ouvir a palavra de um argentino que viveu um drama indescritível mas encontrou forças para ir adiante.
O homem que, na noite de quinta, caminhará, anônimo, pelos corredores do shopping Leblon em direção ao pequeno auditório da livraria chama-se Rafael Belaustegui. É um dos personagens mais impressionantes que tive a chance de entrevistar: Rafael é pai de três desaparecidos políticos. Os três ( dois rapazes e uma moça ) sumiram durante a ditadura militar argentina. Octogenário, ele encontra disposição para viajar e debater temas como anistia, punição, ditadura, reconciliação.
A filha de Belaustegui estava grávida quando desapareceu. O que terá acontecido com o filho que ela esperava ? São perguntas que Rafael faz a si mesmo.
O encontro é aberto aos interessados. Entrada gratuita. Participarei como entrevistador. E Rafael Belaustegui responderá a perguntas da plateia.

Posted by geneton at 11:43 AM

setembro 28, 2013

UM "FALCÃO" FALA!

O que passa pela cabeça de um "falcão" da era Bush? Globonews reprisa, neste sábado, às 21:30, entrevista com um dos "cérebros" da invasão do Iraque. A pegunta que não quer calar volta a ser feita: onde estavam as tais "armas de destruição em massa do Iraque" - argumento usado pelos EUA para justificar a invasão?

Posted by geneton at 11:43 AM

setembro 14, 2013

"AS PAREDES NÃO GUARDAM NADA DA GENTE". SÓ A MEMÓRIA EXISTE. EIS A CONSTATAÇÃO DO POETA FERREIRA GULLAR AO VOLTAR AO CHILE DÉCADAS DEPOIS DE TER TESTEMUNHADO A QUEDA DO PRESIDENTE SALVADOR ALLENDE.

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A GLOBONEWS reexibe neste sábado, às 21:05, na Faixa Acervo, o DOSSIÊ com o poeta Ferreira Gullar. Para quem não sabe: exilado da ditadura brasileira, Gullar desembarcou no Chile, país que vivia uma experiência inédita: pela primeira vez, um presidente socialista era eleito pelo voto do povo. Mas a "primavera chilena" durou pouco: o golpe militar comandado pelo general Pinochet derrubou o governo Allende.
Gullar percorreu os cenários do drama: o Palácio de La Moñeda, a rua onde morou.
Se fosse um cientista político, Gullar faria um tratado sobre o que viu. Se fosse um jornalista, anotaria suas impressões. Se fosse um economista, recitaria números. Mas, felizmente, é um poeta. Preferiu notar que as paredes "não guardam nada da gente". O que existe é a memória - impalpável, mas viva, fascinante e onipresente.

Eis um trecho do que ele nos disse,na entrevista que a Globonews reexibe esta noite, na semana em que o golpe militar do Chile completa quarenta anos:
“Estava lá o mesmo palácio onde Salvador Allende foi assassinado e diante do qual fiquei tantas vezes em manifestações políticas. Não havia mais nada. Era aquele silêncio. Eu, então, senti saudade daqueles tempos. Agora, tudo está tranquilo, mas falta o fogo, a luta pelo mundo melhor e pela transformação! A gente nunca está contente”.
“De repente, estou de novo diante daquele prédio – e não ficou nada do que aconteceu lá. O porteiro que me recebe não sabe quem sou nem sabe que morei ali. A escada é a mesma, os degraus são os mesmos. Mas não têm nenhuma marca de mim ou do que aconteceu. Da mesma maneira que diante do La Moneda, falei assim: mas cadê aquelas coisas que aconteceram aqui ? Cadê a tragédia ? Cadê o drama humano ? Apagou tudo! Por um lado, tudo bem: o Chile agora é muito mais feliz do que naquele momento. Mas é uma coisa contraditória. Porque a gente vê que nós, na verdade, é que carregamos as coisas conosco”.
“Fui ao prédio onde morei, na avenida Providência. Era diferente. Não reconheci. A sensação que dá é essa: as paredes, as ruas não guardam nada da gente. É como se nada tivesse acontecido ! Está tudo em minha cabeça. É tudo memória minha. As paredes, os prédios, as ruas são indiferentes ao que a gente faz, ao que a gente pensou, sofreu e chorou. Tudo se apaga”.

Posted by geneton at 11:48 AM

SEM DIZER UMA PALAVRA, MOTORISTAS DE CARRÕES QUE AVANÇAM SINAIS E ARRISCAM A VIDA DE PEDESTRES FAZEM UM DISCURSO ELOQUENTE

Vou me arriscar a cometer "sociologia de botequim" - mas não resisto. Hoje, em torno das 17:20, o sinal estava vermelho para os carros no final da Bartolomeu Mitre, perto do Jóquei. Sinal vermelho! Os carros param - menos o motorista de um carrão Suzuki ( placa KDS 58...). O que ele faz? Numa manobra rápida, desvia do velho Fiat que estava parado à frente, acelera e avança o sinal, indiferente ao resto do planeta. O sinal já estava verde para os pedestres - que aguardavam a hora de atravessar. Se algum tivesse feito a coisa certa ( ou seja: atravessar ), correria o risco de ser atropelado pelo carrão.
Não resisto à tentação de pensar: o motorista do carrão Suzuki deu uma estupenda demonstração do comportamento de um certo tipo de "elite" : truculenta, insana, insensível, violenta, destruidora.
O que é que o gesto do motorista traduz ? Sem dizer uma só palavra, ele fez um discurso que, desgraçadamente, se repete todos os dias nas ruas do Brasil : "Tenho o meu carrão. Estou pouco ligando para o sinal vermelho ! Se algum motorista otário parar para obedecer ao sinal, eu corto e vou em frente ! Eu sou o dono da rua ! Tenho 50, 100, 200 mil reais para pagar num carro ! O pedestre que trate de tomar cuidado ! Porque estou pouco ligando para o que pode acontecer com a patuleia que anda a pé! Depois, o atropelado que vá penar nos hospitais públicos ! Eu vou estar em Miami dando comida às focas ou fazendo teste drive em alguma concessionária !. Eu tenho a força! Eu sou o Rei da Rua! Danem-se vocês todos! O meu cartão de crédito compra tudo! Quá-quá-quá ! Quá-quá-quá !".
( O pior de tudo é que o motorista que avança sinais com o carrão e arrisca a vida dos outros talvez seja um exemplar acabado daquilo que a tolerância brasileira chama de "um doce de pessoa". Eis aí - aliás - um dos traços mais trágicos do brasileiro: a capacidade de ser truculento,insano, insensível, violento e destruidor com um meio sorriso tolerante e condescendente nos lábios ).

Posted by geneton at 11:48 AM

setembro 09, 2013

"JORNALISTA EXPERIENTE", EM GERAL, É AQUELE SUJEITO QUE VIRA DERRUBADOR DE MATÉRIA. SE É ASSIM, ESTOU FORA. QUERO DISTÂNCIA. COMIGO NÃO, VIOLÃO. XÔ, SATANÁS!

A Rio TV Câmara me transforma - por um dia - em entrevistado. Topo o convite, porque, depois de quarenta anos pastando em redações, devo ter aprendido duas ou três coisas que podem ser úteis às almas ingênuas que estão se iniciando na profissão.
Por que não passá-las adiante?
Mas faço logo uma ressalva: prefiro não em enquadrar no "universo mental" do jornalista. Porque "jornalista experiente", em geral, é aquele sujeito que um dia teve entusiasmo pela Grande Marcha dos Fatos mas, com o passar do tempo, termina se tornando um exímio derrubador de matérias. Ou seja: passa o tempo jogando no lixo notícias, histórias e personagens ou criando dificuldades imaginárias para o exercício da profissão.
Se este é o caminho, digo "não, obrigado". Estou fora. Deus me livre. Parto pra outra. Comigo não, violão. Quero distância. Xô, Satanás !
E tudo poderia ser simples assim: fazer jornalismo é passar adiante - da maneira mais fiel e mais atraente possível - o que foi visto e ouvido. Ponto. Só que, na prática, o céu não é tão azul.
Sobre a profissão: prefiro tentar manter a ( patética ) ingenuidade de quando tinha dezesseis anos de idade. É assim ou nada.
Voilà:
http://goo.gl/oWwfol

Posted by geneton at 11:48 AM

setembro 05, 2013

"ONDE ESCONDESTE O VERDE CLARÃO DOS DIAS ? / E PASSAMOS / CARREGADOS DE FLORES SUFOCADAS / MAS, DENTRO, NO CORAÇÃO/ EU SEI / A VIDA BATE / SUBTERRANEAMENTE/ A VIDA BATE" ( GLOBONEWS REEXIBE NESTE SÁBADO BELO DEPOIMENTO DE FERREIRA GULLAR - UM POETA BRASIL

Tempo de mergulho intensivo na ilha de edição, para preparar o documentário DOSSIÊ 50: COMÍCIO A FAVOR DOS NÁUFRAGOS.
( em breve,detalhes sobre a empreitada ).
Mas, antes, um aviso aos navegantes :a Globonews reexibe, neste sábado, às nove da noite, na Faixa Acervo, um belo e sincero depoimento do poeta Ferreira Gullar ao DOSSIÊ GLOBONEWS sobre duas experiências marcantes que viveu no Chile.
Em resumo: um poeta brasileiro – que também era militante político – desembarca no Chile, no início dos anos setenta, para viver uma experiência que tinha tudo para ser historicamente fascinante: pela primeira vez, o país era governado por um presidente socialista que chegara ao poder pelo voto direto.
Exilados brasileiros apostavam que uma primavera estava nascendo ao pé da Cordilheira dos Andes. O Eldorado dos militantes políticos ganhava um novo nome : Santiago do Chile.
O poeta era Ferreira Gullar. O presidente era Salvador Allende. A experiência terminou em tragédia: as Forças Armadas bombardearam o Palácio de La Moneda no dia 11 de Setembro de 1973.
Allende saiu do Palácio sem vida ( há controvérsias sobre se teria cometido suicídio ou se teria sido morto, o que não faz tanta diferença).
A Junta Militar, comandada pelo general Augusto Pinochet, instalou uma ditadura que, como se sabe, não brincou em serviço. Há relatos de cenas tétricas: helicópteros pousavam no gramado do Estádio Nacional para recolher presos que, em seguida, desapareciam. Nem sempre se sabia para onde eram levados. Pelo menos cinco exilados brasileiros estão até hoje desaparecidos.
Traumatizado pela experiência que viveu no país, Ferreira Gullar passou décadas sem voltar ao Chile. Quando finalmente voltou, teve sentimentos “contraditórios”.
Nesta expedição de volta ao cenário das turbulências que testemunhou no início dos anos setenta, o poeta Ferreira Gullar contemplou, por exemplo, a fachada do Palácio de La Moneda. Pegou um táxi para visitar a rua onde vivera.
Descobriu que a paisagem é absolutamente indiferente ao que a gente sente. As cidades, diz ele, são feitas de “pedra”. Não se contaminam com as lembranças, dramas, aventuras, alegrias, tragédias e vitórias de cada um.
A memória é algo pessoal e intransferível – que cada um carrega dentro de si, até o dia do apagão final. Fora deste território feito de lembranças, o que há é a paisagem, com seus palácios, edifícios, ruas, becos e avenidas, gloriosamente indiferentes aos nossos espantos.
Um trecho da entrevista que Ferreira Gullar nos concedeu para o DOSSIÊ GLOBONEWS:
“Estava lá o mesmo palácio onde Salvador Allende foi assassinado e diante do qual fiquei tantas vezes em manifestações políticas. Não havia mais nada. Era aquele silêncio. Eu, então, senti saudade daqueles tempos. Agora, tudo está tranquilo, mas falta o fogo, a luta pelo mundo melhor e pela transformação! A gente nunca está contente”.
“De repente, estou de novo diante daquele prédio – e não ficou nada do que aconteceu lá. O porteiro que me recebe não sabe quem sou nem sabe que morei ali. A escada é a mesma, os degraus são os mesmos. Mas não têm nenhuma marca de mim ou do que aconteceu. Da mesma maneira que diante do La Moneda, falei assim: mas cadê aquelas coisas que aconteceram aqui ? Cadê a tragédia ? Cadê o drama humano ? Apagou tudo! Por um lado, tudo bem: o Chile agora é muito mais feliz do que naquele momento. Mas é uma coisa contraditória. Porque a gente vê que nós, na verdade, é que carregamos as coisas conosco”.
“Fui ao prédio onde morei, na avenida Providência. Era diferente. Não reconheci. A sensação que dá é essa: as paredes, as ruas não guardam nada da gente. É como se nada tivesse acontecido ! Está tudo em minha cabeça. É tudo memória minha. As paredes, os prédios, as ruas são indiferentes ao que a gente faz, ao que a gente pensou, sofreu e chorou. Tudo se apaga”.
Ferreira Gullar é um poetaço.
Um trecho do belo “A Vida Bate” :
“Alguns viajam:
vão a Nova York,
a Santiago do Chile.
Outros ficam
mesmo na Rua da Alfândega,
detrás de balcões e de guichês.
Vista do alto,
com seus bairros e ruas e avenidas,
a cidade é o refúgio do homem,
pertence a todos e a ninguém.
São pessoas que passam sem falar
e estão cheias de vozes
e ruínas.
És Antônio ?
És Francisco ?
És Mariana ?
Onde escondeste o verde
clarão dos dias?
E passamos
carregados de flores sufocadas.
Mas, dentro, no coração,
eu sei,
a vida bate.
Subterraneamente,
a vida bate.
Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi,
sob as penas da lei,
em teu pulso,
a vida bate.
E é essa clandestina esperança
misturada ao sal do mar
que me sustenta
esta tarde
debruçado à janela de meu quarto em Ipanema
na América Latina”

Posted by geneton at 11:52 AM