PMs pediram dez mil reais de propina para liberar carro do atropelador e “desfazer” local do atropelamento de Rafael Mascarenhas, filho de Cissa Guimarães. Afirmação do pai do atropelador, em depoimento à polícia.
Só há quatro coisas a dizer sobre a PM do Rio no caso do atropelamento de Rafael:
Vergonha. Vergonha. Vergonha. Vergonha.
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/07/pai-de-atropelador-de-rafael-diz-que-pms-pediram-r-10-mil-para-liberar-carro.html
PS: É triste, é lamentabilíssimo: a investigação sobre o atropelamento revelou um Grande Festival de Crápulas. Não há outra palavra. Quem inventou a história de que o atropelador estava apenas fazendo um retorno, em baixa velocidade, para ir fazer um singelo lanche, consegue se olhar no espelho de manhã ? Eu passaria o resto da vida coberto de vergonha de mim mesmo.
É assim : seja qual for a situação, morrer jovem é um imenso,um grande,um intolerável absurdo.
A morte de Rafael Mascarenhas, o filho da atriz Cissa Guimarães e do músico Raul Macarenhas, provocou comoção ainda maior, diante das circunstâncias do acidente.
Não há o que dizer. O sentimento de perda é, sempre, devastador – mas há o que perguntar,sim.
Ninguém precisa ser policial para constatar que o atropelador cometeu não um, mas vários crimes.
Nada, absolutamente nada, nenhum argumento, nenhuma desculpa, nada justifica o que ele fez : deixou a vítima de um atropelamento agonizando no asfalto. Pisou no acelerador e abandonou a cena do acidente. Isso é moralmente indesculpável. Funciona, aliás,como um atestado de culpa. Ponto.
A lista de absurdos começou antes: o motorista estava dirigindo carro dentro de um túnel interditado. Como se não bastasse, fez um retorno proibido. Testemunhas dizem que ele estava disputando um pega. Resultado: atropelou um rapaz de dezoito anos. Pior : deixou o local sem prestar socorro à vítima.
A sucessão de crimes não pára aí : abordado por uma viatura da polícia em local próximo ao atropelamento que acabara de cometer, o atropelador recebeu “autorização” para seguir para casa, como se nada tivesse acontecido. Vale lembrar: neste exato momento, a vítima agonizava no asfalto, dentro do túnel. A autorização dada pela polícia é suspeitíssima. Não por acaso, os policiais já foram afastados de suas funções.
A nota divulgada pela PM do Rio é um insulto e um escárnio : dizia que os policiais não detiveram o carro porque não notaram nenhum sinal de acidente.
Horas depois, quando o carro apareceu, o Rio de Janeiro viu a dimensão do absurdo: a frente do carro do atropelador estava totalmente danificada. Um cego teria notado que aquele carro tinha se envolvido num acidente. Os policiais que o abordaram não “notaram”.
Em suma: um carro com evidentíssimos sinais de ter se envolvido num acidente sai de um túnel interditado. É abordado pela polícia, mas segue viagem.
A polícia continuou errando : qualquer criança sabe que o local do acidente deveria ter sido isolado e preservado. Não foi. Doze horas depois do acidente, um fotógrafo do jornal O Globo fotografou, no local, evidências que, eventualmente, poderiam ser úteis à investigação.
Em seguida, o atropelador despachou o carro para uma oficina num bairro distante – outro gesto suspeito.
É óbvio que somente um inquérito pode reconstituir,na medida do possível, o que aconteceu. Mas…a soma de absurdos é,desde já, escandalosa.
O pior já aconteceu. Fica pelo menos uma pergunta (e uma esperança) : não haverá, em toda a polícia do Rio de Janeiro, alguém que ponha fim a este escárnio ?
O jornalista Jorge Antônio Barros, titular do blog “Repórter de Crime” no site do jornal O Globo,lembrou bem : ao comando da PM cabe apurar que tipo de serviço, afinal, estes policiais estão aptos a prestar à população ( http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/reporterdecrime/)
Mas chega de tragédia.
Os que conviveram com Rafael Mascarenhas certamente não vão guardar lembranças tristes. Pelo contrário.
Sala de aula: José, Priscila (professora de música),Rafael e Zeca
Nem faz tempo, fui a uma apresentação que meu filho Daniel,aluno da Escola Parque, faria em companhia de amigos. O grupo – todos eles com quinze, dezesseis,dezessete anos – era formado por garotos que, no Século XXI, amavam ídolos dos anos sessenta, como Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Jimi Hendrix. Lá estava Rafael, também aluno da Escola, na guitarra. Tocaram “Hey Joe” e ” Purple Haze” (“Névoa Púrpura”). A letra falava em “kiss the sky” ( beijar o céu).
Ah, sim: chega de tragédia, agora e sempre.
Quando alguém falar de Rafael Mascarenhas não haverá de lembrar de atropeladores, bandalhas, fugas ou policiais suspeitos. Não. Cenas assim haverão de ficar confinadas num filme de terror que ninguém jamais quererá ver de novo.
A imagem que fica, felizmente, é outra. Nem de longe sugere tristeza : garotos empunhando guitarras - como Rafael e seus amigos – sugerem música, juventude, alegria. É a imagem que ele deixa. E, feitas as contas, é o que há de ficar.
Rafael: "Purple Haze" na guitarra
Felipe, Lucas, Daniel, João Werneck, Rafael : dia de show
Daniel, João Werneck, Rafael : fãs de Jimi Hendrix
NADA DE CELEBRIDADES – DIZ O MESTRE QUE CORRE O MUNDO EM BUSCA DE ROSTOS ANÔNIMOS
A menina afegã : a foto mais famosa de Steve McCurry
Aviso aos navegantes : a Globonews exibe neste sábado, às 21:05, com reprise no domingo às 12:30 e na segunda, às 15:30, uma entrevista exclusiva com aquele que é apontado, com justiça, como um dos maiores nomes da fotografia do Século XX. Chama-se Steve McCurry. Americano. Sessenta anos. Autoproclamado “peregrino”, viaja pelo planeta em busca de rostos e paisagens marcantes. Vive com o pé na estrada, literalmente. Já tesmunhou guerras, já foi ameaçado de morte, já percorreu cenários remotos de países como Índia, Paquistão, Iraque, Irã, Afeganistão.
Quem avisa amigo é : Steve McCurry dá uma aula de fotografia na entrevista ao DOSSIÊ GLOBONEWS.
Adotou um princípio curioso : não faz a menor questão de fotografar rostos famosos. Prefere os anônimos.
E um dos rostos anônimos mais marcantes que Steve McCurry já flagrou é o de uma menina afegã que vivia num campo de refugiados no Paquistão, nos anos oitenta. A foto corre mundo até hoje.
Pergunta-se: as celebridades fazem falta a McCurry ? A resposta: não, não e não.
Ah, as “celebridades”….Precisam tanto de fotógrafos para sobreviver. E vice-versa. O resultado: a humanidade assiste ao perene desfile de peruas siliconadas (e outras variações do zoológico da fama) nas páginas das revistas expostas no varal das bancas. Mas, entre estas imagens, certamente não estará nenhuma produzida pelas lentes de McCurry.
Steve McCurry: o fotógrafo que não fotografa celebridades ( Imagem: Jorge Mansur )
Pergunto ao homem – que esteve em São Paulo para participar da FotoFest,o Festival Internacional de Fotografia: por que ele prefere os rostos anônimos ? Gente anônima é mais interessante do que gente famosa ?
McCurry : “Fotografar celebridades e pessoas famosas é quase como um gênero próprio de fotografia, é como fotografar vida selvagem, natureza morta ou paisagens. Sou atraído pelas pessoas nas ruas - pessoas comuns, porque as pessoas comuns não estão familiarizadas com as câmeras. E têm mais paciência. Pessoas famosas tendem a querer ver suas fotos, querem ser maquiadas, querem tudo em cinco minutos,é tudo muito organizado. Querem atuar,de certo modo.
Quando vejo alguém na rua, digo: “Gosto do seu olhar, gostei do seu rosto, senti uma ligação. Posso fotografar você?” É tudo muito espontâneo. Costumo fotografá-las na mesma hora, no mesmo lugar. Não vamos a um estúdio. Geralmente, essas pessoas me dão o tempo de que preciso para tirar minha foto. Já as celebridades ou pessoas famosas já foram fotografadas um milhão de vezes.Para elas, ser fotografadas não é nada de especial. Quando fotografamos pessoas que não estão acostumadas, elas são mais vulneráveis,mais sinceras, não atuam. É mais divertido, é uma experiência mais autêntica. É isso: é mais autêntico”.
Qual será o segredo da foto da menina afegã ?
Ninguém melhor do que McCurry para explicar:
“A foto da menina afegã capturou a imaginação do mundo todo em parte porque é uma combinação de emoções diferentes. Em primeiro lugar,é uma menina muito bonita. Há sinceridade na foto.Você olha a foto: não parece uma pose, não parece que ela está tentando fazer uma expressão qualquer. É muito bonita, mas tem olhos muito intensos, olhos quase assustados. O olhar é um pouco perturbador. Não quero compará-la com a Mona Lisa – Leonardo da Vinci era um gênio,uma figura histórica -,mas a semelhança é que há uma ambiguidade na expressão. A menina não está necessariamente triste, não está necessariamente feliz. Por um lado, ela tem esse rosto bonito, muito sensual. Olhos lindos, lábios lindos. É muito jovem, tem 12 anos de idade…Mas a foto também tem esse elemento: é bonita, mas também é pobre. Há um buraco no xale. O rosto está um pouco sujo. Há um elemento de realismo,de verdade. É como se fosse arrancada da vida. Não está posando. Era a única foto que ela havia tirado na vida: a pela primeira vez ela foi fotografada. Olha para mim, o fotógrafo, com uma espécie de espanto: está um pouco intrigada, está curiosa. “Quem é esse homem? Por que não fala minha língua? Por que usa essa roupa engraçada? O que é aquela câmera?”.
EX-JOGADOR DA SELEÇÃO DIZ QUE BRASIL DEVE PENSAR “DUAS VEZES” ANTES DE PROGRAMAR FINAL DA COPA DE 2014 PARA O MARACANÃ. MOTIVO: A LEMBRANÇA DE 50
O ex-zagueiro da seleção Ricardo Rocha ( vestiu a camisa do Brasil na Copa de 1990 e no primeiro jogo da Copa de 1994, quando se machucou) entrou para a história do tetracampeonato como o grande “animador” do time. Depois da contusão, passou a atuar fora do gramado para “dar força” ao grupo. Virou uma espécie de psicólogo amador.
E é nesta condição que ele levanta uma lebre polêmica : em entrevista que concedeu ao locutor-que-vos-fala logo antes do início da Copa da África do Sul, Ricardo Rocha diz que pensaria “duas vezes” antes de programar a final da Copa de 2014 para o Maracanã. Motivo: se o Brasil chegar à final, a pressão sobre os jogadores e o técnico será monumental, diante da lembrança do que aconteceu em 1950. O Brasil precisava apenas de um empate contra o Uruguai para levantar o título . Fez um a zero. Inacreditavelmente, perdeu de dois a um. O silêncio da torcida brasileira entrou para a história do estádio.
O trecho da entrevista em que Ricardo Rocha dá o sinal de alerta:
Você estava dizendo antes da gravação que a grande preocupação não é a Copa de 2010,mas uma possível final no Maracanã, na Copa de 2014. O que é que você faria para preparar psicologicamente os jogadores do Brasil para esta possível final ?
Ricardo Rocha: “A gente já tem alguns problemas para 2014.O Brasil só vai jogar amistosos. Não vai disputar eliminatórias, porque é o país-sede. É ruim, porque nas eliminatórias você já sente como é que estão as equipes.Amistoso é diferente. Mas faz parte de quem faz a Copa do Mundo. O que penso ? Eu trocaria qualquer título do Brasil pelo título de 2014. Por quê ? Porque tivemos um insucesso em 1950. Aquilo marcou todos. Se a gente tiver outro insucesso em 2014….É claro que não penso nesta possibilidade, mas a gente tem de lembrar. Os jogadores de 2014 não terão jogado naquela época, claro. São outros. Mas é igual à gente: quando íamos jogar contra o Uruguai, todo mundo só falava em 1950. Eu dizia: “Meu amigo, não sou daquela época.Não joguei..”
É preciso fazer um trabalho psicológico forte. Teremos jogadores de muita qualidade, como Neymar, Ganso, Pato, Robinho ainda tem idade para ir a uma Copa do Mundo. Mas os jogadores experientes vão ser fundamentais. O próximo treinador tem de se preocupar com este trabalho psicológico. Quando acabar a Copa na África e a gente vir que a Copa vai ser mesmo aqui no Brasil, haverá muita lembrança de 1950, porque o Brasil perdeu. E perder novamente seria uma catástrofe geral para o futebol brasileiro. 2014 me preocupa até por causa da euforia do povo brasileiro – de achar que a gente vai ser campeão em casa. Não é assim ! Fico preocupado porque é uma Copa dentro do Brasil.E a primeira a gente perdeu”.
Você acha que é um risco manter a final da Copa do Mundo de 2014 no Maracanã – que foi palco da chamada “tragédia de 50″ ?
Ricardo Rocha: “Não é que seja um risco. Falo do que pode acontecer no dia desta final, se o Brasil for. Fico preocupado, sim, porque virão coisas negativas do passado. Adoro o Rio de Janeiro. Vivo aqui há doze anos. Minha cidade é o Rio,junto com o Recife. Eu pensaria duas vezes antes de fazer a final da Copa de 2014 no Maracanã. Se o Brasil chegar a esta final - e,se Deus quiser, vai chegar -, eu sei da pressão que haverá em cima de todos: os atletas, a comissão técnica, os dirigentes. Se Deus quiser, seremos campeões, mas eu pensaria duas vezes: eu não exporia o Maracanã num evento como esse. Por quê ? Porque o Maracanã já viveu a decepção de 1950. Pode ter outra ? Eu, particularmente, tentaria fazer a final em outro lugar. Mas já foi definido que será no Maracanã. O povo carioca é maravilhoso. Todo mundo vaiu incentivar. Mas, hoje, tenho esta dúvida sobre se faria ou não no Maracanã esta final, por tudo o que vai acontecer: se o Brasil for para a final, as lembranças serão muito pesadas em cima dos atletas e da comissão técnica”.