AQUI:
http://www.geneton.com.br/archives/000281.html
Jornalista é bicho esquisito. Quem duvidar deve fazer um teste. Sem chamar atenção, aproxime-se de um grupo de jornalistas o mais sorrateiramente possível, para observar um fenômeno curiosíssimo. É fácil identificá-los, pelos ruídos que emitem: latidos, trinados, uivos, rugidos e outros sons menos votados. Apure os ouvidos. Com toda certeza, um jornalista ( provavelmente, um editor) estará dizendo a outro ( provavelmente, um repórter) : "Pode fazer, mas curta ! Trinta linhas, no máximo!". Ou: "Nada além de um minuto e meio!".
Ou seja: cinquenta por cento dos jornalistas que exercem de verdade a profissão nas redações passam noventa por cento do tempo útil proibindo os outros de escrever. Parece que escrever é uma praga. Nenhum assunto seria digno de merecer mais do que um punhado de parágrafos mambembes. Devem achar que todos os leitores sofrem de alfabetofobia ( se a palavra não existe, acaba de ser parida). "Não se estenda !". "O espaço não vai dar!". "Ficou grande!" "Vou ter de cortar!" etc.etc.etc. Os outros cinquenta por cento dos jornalistas passam noventa por cento do tempo implorando por espaço e por tempo.
Parte-se da suposição de que a) ninguém pode escrever; b) ninguém quer ler.
Ah, racinha desgraçada....
Brigar contra o tamanho dos textos - ou o tempo de uma reportagem - passou a ser a ocupação principal desses bípedes esquisitos.
É como se os médicos passassem o dia dizendo uns aos outros: "Vou fazer uma cirurgia, mas tem de ser rápida! Nada de passar dez minutos operando ! "
Ou os engenheiros jogassem fora energia e neurônios discutindo coisas como "vamos fazer a ponte, mas, pelo amor de Deus, nada além de dois metros ! ".
Conclusão: não existe maior inimigo da escrita do que o jornalista.
Se o Brasil fosse uma democracia, qualquer cidadão com idade superior a cinco anos deveria ter o direito de dar voz de prisão ao primeiro jornalista que aparecesse pela frente.
Eu estaria a esta hora na terceira cela à esquerda da ala norte da Penitenciária Agrícola de Itamaracá.
Bem que o Sopa de Tamanco tinha prevenido: um bando de otários reunidos em um só lugar forma o quê? A platéia de um show de Madonna!
Hoje, os jornais trazem a informação de que os ingressos para o show da mala aqui no Brasil custam muitíssimo mais do que para as apresentações no Chile e na Argentina.
Ou seja: além de tudo, é um assalto a mão desarmada.
O inacreditável é ver que tantos, por livre e espontânea vontade, estão prontos para fazer o papel de otários.
Ainda dá tempo: se não comprou, não compre ingresso para esta farsa.
Os preços estão, obviamente, superfaturados ( basta ler a coluna de Arthur Dapieve na última página do Segundo Caderno da edição do Globo desta sexta-feira).
http://www.geneton.com.br/archives/000174.html
Que falta faz o mestre Joel Silveira.
Faz um ano e um mês que ele morreu. Durante vinte anos, tivemos uma convivência que guardo como se fosse um tesouro: eu era o discípulo tentando aprender com o mestre.
Uma das falhas da personalidade de um repórter é agir como repórter até diante de amigos. Que coisa! Confesso: é o que fiz com Joel Silveira. Éramos amigos. Mas, ali, eu era, também, um repórter diante de um personagem. Não poderia voltar para casa de mãos vazias. Não voltei. Ao longo desses anos todos, gravei conversas que tive com ele, na sala do apartamento de um sexto andar da rua Francisco Sá, em Copacabana.
Modéstia à parte, a causa era nobre: eu não queria que as coisas que ouvia de Joel ficassem somente comigo. Era preciso repartir, espalhar,compartilhar aqueles ensinamentos, críticas, boutades, lembranças e confissões de um grande repórter que, com todo merecimento, ocupa uma vaga no esfarrapado Panteão do Jornalismo Brasileiro. Joel foi um dos grandes pioneiros no uso de técnicas literárias em textos jornalísticos.
Guardo comigo, com todo cuidado, a pequena coleção de fitas. Pergunto: que outra coisa de útil pode fazer um repórter, além de sair coletando da maneira mais cuidadosa possível as lembranças alheias, para dividí-las com os leitores ? Nada. A essência do jornalismo é esta.
Sem pretensões descabidas, sem megalomanias risíveis, sem exibicionismo vulgar: o repórter pode, sim, ser útil ao funcionar como o pequeno guardião de histórias e memórias que - de outra maneira - estariam inevitavelmente condenadas a desaparecer na poeira da estrada, destino inescapável de tudo e de todos. Em seus melhores momentos, o repórter atua como se fosse um bombeiro ingênuo: tenta fazer com que a Grande Fogueira do Esquecimento não devore tudo. É uma batalha inglória, mas, como nas piores e mais piegas histórias edificantes, ele descobrirá que, feitas as contas, o esforço "vale a pena", sim. A alternativa é terrível: cruzar os braços e não fazer nada. Chamuscado, ele sairá do prédio em chamas com alguma coisa nas mãos: quem sabe, uma velha fita cassete, um bloco de anotações. O resultado do trabalho do repórter é, no fim das contas, uma coleção de "salvados do incêndio".
(Assim, não me arrependo nem um pouco de ter importunado Carlos Drummond de Andrade em agosto de 1987 sem imaginar que ele vivia uma dor indizível: a filha, Maria Julieta, estava à beira da morte, na cama de um hospital. Drummond cedeu à minha insistência. Deu-me uma longa entrevista. Dias depois, a filha morreu. Em duas semanas, o próprio Drummond estava morto. A entrevista terminou virando uma espécie de testamento do maior poeta brasileiro. Importunei o poeta, sim, mas cometi uma "boa ação": produzi um documento sobre ele. Ah, o belo desafio de transformar lembranças em matéria "palpável": as palavras impressas....As declarações que arranquei do poeta arredio ocupam setenta páginas do livro "Dossiê Drummond", republicado há pouco tempo pela Editora Globo, em edição "revista e atualizada". Bem ou mal, as declarações que o poeta quis fazer apenas duas semanas antes de morrer não se perderam no ar: ganharam vida, ficaram guardadas em bibliotecas, vão ajudar um ou outro leitor a compreender o personagem Drummond. Missão cumprida, portanto. Um dia, o "Dossiê Drummond" haverá de cumprir o destino final de tantos e tantos livros: escondido lá no fundo de uma prateleira de um sebo empoeirado, cairá nas mãos de um leitor anônimo. Como se fosse um escanfandrista em busca de ostras perdidas no fundo do oceano, o leitor curioso desembolsará um punhado de reais por aquele feixe de lembranças impressas. O destino do livro terá se cumprido, na íntegra).
Paro por aqui. Ouço o ruído inconfundível das patas de uma fera roçando na porta dos fundos: é o Cão da Subliteratura querendo entrar. Já o conheço de outros carnavais, é claro. Bato em retirada antes que ele se instale na sala.
Mas deixo uma promessa por escrito.
Prometidíssimo: cedo ou tarde, vou reunir em livro as gravações que fiz com Joel. Podem ser úteis à troupe minoritária dos que se interessam de verdade por jornalismo. Joel foi pioneiro no uso de técnicas literárias no texto jornalístico.
Já tínhamos até escolhido um título: "Diálogos com o Último Dinossauro".
Há um ano, a gente falava da visita indesejada que bateu à porta do apartamento de Joel Silveira:
A VIDA IMITA O POEMA NA MORTE DE JOEL SILVEIRA: O AGENTE FUNERÁRIO CHEGOU NA HORA. E A PLACA DO CARRO ERA LFR 1236
Faz pouco tempo, descobri um belo poema de Lawrence Ferlinghetti. O poeta diz, com outras palavras, que o mundo é um belo lugar, mas um dia, cedo ou tarde, ele virá : o agente funerário sorridente.
E o agente veio. Acabo de sair da casa de Joel Silveira. Não quis ver a saída do corpo. A Santa Casa de Misericórdia avisou que o agente chegaria às duas horas. Pensei comigo: "Com a pontualidade brasileira, ele vai chegar lá para as quatro da tarde". Engano. Nem uma hora e cinquenta e nove minutos nem duas horas e um : eram duas em ponto quando o agente apertou a campainha, no apartamento de Joel Silveira, no sexto andar de um prédio da rua Francisco Sá, em Copacabana. O agente encenava, sem suspeitar, o poema de Lawrence Ferlinghetti. Era como se dissesse: tudo pode atrasar no Brasil, mas a morte, quando vem, chega exatamente na hora, sem tolerância. Nem um segundo de atraso.
Desci do sexto andar. Lá embaixo, tive o gesto inútil de observar a placa da Kombi branca da Santa Casa de Misericórdia: LFR 1236. A Kombi trazia, nas laterais, o nome da Santa Casa e o telefone: 0800 257 007.
Joel tinha inveja de um personagem de Vitor Hugo que, minutos antes de ser guilhotinado, dizia, resignado, que estava pronto para a execução,mas "gostaria de ver o resto". Ou seja: o personagem gostaria de descrever a própria morte. Que palavras Joel usaria ?
Quanto a nós, discípulos e aprendizes, já não há o que fazer, além de anotar a placa da Kombi : LFR 1236, três letras e quatro números amargamente inúteis.
O propofol (ah, nome feio desgraçado) é um sedativo também usado para acalmar cães histéricos.
Um veterinário especializado em administrar propofol foi visto esta semana nas proximidades da residência do sr. Nicomar Lael.
Por uma extraordinária coincidência, desde então o sr. Nicomar desapareceu das páginas do Sopa de Tamanco.
Deveras curioso.
Olho para a nova porta da sala : tenho a clara impressão de que já a conhecia de algum lugar. A porta: aquela superfície plana, monótona, sem nuances.
Ah, já sei! Tudo não passou de uma pequena confusão: confundi a coitada da porta com aquele ator que faz papel de jornalista da novela das oito, Carmo alguma coisa.
Acontece...
Crianças sonham em ir à Disneylândia. Vou fazer uma confissão: sonhei que estava num imenso parque chamado Chatolândia.
Que coisa...
Logo na entrada, numa espécie de palanque, um coral emite trinados de variados decibéis, para dar as boas-vindas aos visitantes. Aproximo-me do palco: lá estão Oswaldo Montenegro, Elba Ramalho, aquelas mulheres que só cantam músicas de Chico Buarque, uns rappers paulistas, um grupo de seresta cantando Peixe Vivo, Marcelo Camelo, Carlinhos Brown, os Engenheiros do Hawai, cantoras gordas de bossa-nova fazendo "ba-da-ba-da-ba-da-baiá-ba-da-ba-da-baiá", um repórter de televisão pronunciando trocadilhos em série, uns índios encenando a dança da chuva em torno de uma fogueira cenográfica, um conjunto de forró repetindo os versos de Asa Branca, um publicitário se elogiando diante de um espelho, um aparelho de TV exibindo comerciais da NET, um locutor lendo com voz empostada artigos do caderno "Mais" (Folha de S.Paulo), atores e atrizes querendo parecer engracadinhos em anúncios de companhias telefônicas, um ecologista discursando sobre "sustentabilidade". Misturados, os sons formam uma trilha indescritível.
Imobilizadas pelos pais para não fugirem das cadeiras em desabalada carreira, crianças choram na platéia. O espetáculo, como se dizia antigamente, é "dantesco". Mas vou em frente. Um imenso painel, à moda dos dazibaos chineses, exibe as certidões de nascimemto dos personagens que habitam o palco. Todos, absolutamente todos, têm os mesmos nomes: "Chatolino da Silva Xavier" e "Chatolina da Silva Xavier". Imagino-me num filme barato de terror: todos os personagens que me rodeiam se chamam ou Chatolino ou Chatolina.Como poderei distinguir uns dos outros ? A quem poderei pedir socorro para sair daquele labirinto ?
Penso: deve ter havido algum engano. Não estarei no inferno, por acaso ?
Como se tivesse ouvido meus pensamentos, uma atendente com sotaque paulista me saúda: "Boa tarde! O senhor acaba de entrar na Chatolândia! Nós estaremos disponibilizando um guia. Assim, o senhor estará aproveitando ao máximo a visita! ".
Acordo coberto de suor, com o coração aos pulos.
O pior: um minuto depois que voltei a dormir, o pesadelo recomeçou. Quando, afinal, acordei, já manhã alta, tive o cuidado de anotar o que vi na excursão à Chatolândia.
Em breve, contarei, aqui, neste Batcanal.
Confirmadíssimo: quem, por um terrível azar geográfico, termina morando ao lado de um professor (ou professora) de piano, jamais, jamais, jamais conseguirá ficar cem por cento contra a pena de morte.
É claro que a pena de morte é uma demonstração de barbárie, rechaçada pela maioria das nações ditas civilizadas.
Mas....é assim que séculos e séculos de civilização vão para o ralo:
basta que duas mãos invisíveis passem horas e horas e horas extraindo do teclado do piano aquela música que diz "Rio de Janeiro, gosto de você....", com floreios, variações, repetições infinitas. Não há quem resista!
É um fenômeno físico, uma questão de ação e reação: começo a admitir a possibilidade de que a pena de morte poderia, sim, ser aplicada em benefício da humanidade, não contra os professores (as), mas contra os pianos usados nas aulas!
Sem os pianos utilizados como mísseis sonoros para atormentar os vizinhos, os professores poderiam se dedicar a tarefas menos incômodas, como, por exemplo, latir baixinho.
Depois de ver meus tímpanos fatigados serem atacados durante horas a fio pela tormenta sonora, começo a delirar, febril:
vejo, claramente, uma força tarefa multinacional invadindo o prédio pelo elevador social, pela garagem, pelas portarias. Não, as falanges não planejam atacar ninguém. Querem apenas fazer um grande favor à humanidade: destruir com rajadas certeiras a fonte de todo infortúnio, o grande emissor de sons insuportáveis, o arauto de todas as repetições, sim, ele, o desgraçado do piano que, neste exato momento, agora, seis e meia da tarde de uma segunda-feira, ataca com variações da Marselhesa.
Ressuscitai, revolucionários da Bastilha! Vinde,urgente, em socorro de nossos tímpanos dilacerados!
O Corpo de Bombeiros, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a equipe médica do Hospital das Clínicas finalmente deram por encerradas as buscas.
Não, não foi possível localizar nenhum neurônio no cérebro do sr. Nicomar Lael.
Nada, nada, nada - nem o mais leve vestígio.
Registre-se que pequenos animais invertebrados podem ter até um milhão de neurônios no cérebro.
Ou seja: o time do PAI ( Pequenos Animais Invertebrados) ganharia de goleada um campeonato de sapiência disputado contra o sr. Nicomar Lael.
O placar seria de um milhão a zero.
Os jornais ingleses publicam fotos da cantora Amy Winehouse bêbada, drogada, incapaz de se manter em pé.
http://www.dailymail.co.uk/tvshowbiz/article-1054873/Ravaged-Amy-Winehouse-gives-best-snarl-eve-25th-birthday.html
A sra. Winehouse é uma boa cantora ? É.
A sra. Winehouse quer morrer de overdose aos vinte e cinco anos de idade? Quer.
Que morra,então!
Ao contrário do que acontece no Brasil, a terra do tapinha nas costas, a imprensa inglesa publica frequentemente aquelas opiniões "incorretas" que todos compartilham mas poucos têm coragem de pronunciar em voz alta. Exemplo: quando aquele ex-roqueiro Jerry Garcia morreu num quarto de uma clínica de reabilitação, em 1995, um articulista zangado escreveu, num jornal inglês, algo como: já não aguento ouvir história de roqueiros suicidas que se entopem de drogas por livre e espontânea vontade, jogam fora a carreira, desperdiçam a vida e, depois, viram objeto de piedade alheia: "Coitadinhos....".
Chega! Querem morrer ?
Boa viagem! Há excelentes crematórios em atividade em Londres.
Do Grande Dicionário de Sinônimos:
Marcelo Camelo = tédio mortal.
Para quem não ligou o nome à pessoa: Marcelo Camelo é aquele senhor que, invariavelmente, faz declarações entediadas sobre as músicas entediadas que ele compôs em momentos de tédio. Já tocou num conjuntinho chamado Los Hermanos.
Um investigador do Sopa de Tamanco conseguiu uma cópia da certidão de nascimento do dromedário.
O nome real do bicho é Chatolino da Silva Xavier.
Marcelo Camelo é pseudônimo.
Eu bem que desconfiava.
Do Grande Dicionário de Sinônimos:
Marisa Monte = pretensão descabida.
Para quem não ligou o nome à pessoa: Marisa Monte é aquela moça de voz afinada que se julga a Rainha da Cocada Preta. O maior indício de que ela sofre da Síndrome da Cocada é a persistência com que foge de entrevistas, por exemplo.
Intrigado com o mutismo da dama, o distinto público aguarda um pronunciamento. Quando, finalmente, ela resolver falar não consegue pronunciar nada além de uma coleção de platitudes e obviedades de fazer corar o Conselheiro Acácio. É igual ao sr. Marcelo Camelo. Os dois provêm da mesma estirpe. Chegaram empatados em primeiro lugar na última rodada do campeonato da pretensão descabida.
O olheiro do Sopa de Tamanco conseguiu uma cópia da certidão de nascimento da candidadata a diva.
O nome verdadeiro de Marisa Monte é Chatolina da Silva Xavier.
Eu bem que desconfiava.
As palmeiras que crescem, inadequadas, nas areias do Leblon se agitaram hoje pela manhã (Digo "inadequeadas" porque elas, as palmeiras, devem ter estar ali não por um favor da natureza, mas por terem sido plantadas, à beira-mar, por algum político em campanha, devidamente escoltado por uma matilha de ecologistas fêmeas de sovaco cabeludo, sandália de dedo, óculos de aro redondo e saias que parecem balões extra-terrestres).
Como eu ia dizendo antes de ser interrompido por mim mesmo: a agitação das folhas das palmeiras não se deveu a alguma erupção inesperada de ventos de sudoeste. Não. O que moveu as folhas foi o enorme, inédito suspiro de tédio que exalei ao concluir a leitura da última diatribe do sr. Nicomar Lael.
Ah, a irresistível compulsão exibicionista dos beócios...
O sr. Nicomar ( que nome! De que escrivaninha de cartório interiorano terá brotado tal combinação desconjuntada de vogais e consoantes ?) quer que os incautos creiam que ele é o guardião da "alta cultura". A julgar pelo que ele diz, eu, ao acusá-lo de exibicionismo, não passaria de um apóstolo do horrível relativismo cultural: aquele que proclama como bom o que é indefensavelmente ruim - e chama de apenas ruim o que é incuravelmente péssimo.
Aos olhos simplistas do sr. Nicomar, o mundo se divide em duas porções. De um lado, os simplórios - que chamam os cultos de "exibicionistas". De outro, os "cultos" - que precisam desesperadamente dar amostras de que leram os livros que ninguém leu.
Que tempos ! Que costumes! Acorda, Paulo Francis! Ele, Nicomar, enlouqueceu!
O que declarei em blogs anteriores reafirmo agora diante deste tribunal imaginário: relativista é o sr. Nicomar - que teve chiliques simplesmente porque chamei de ignorante gente que diz "meu óculos" e "o óculos". Não importa que esta gente seja diplomada ou supostamente ilustrada: ao cometer erro tão crasso, cometem, sim, um ato de ignorância. É preciso dar nome aos bois - e aos burros.
Ao defender, indiretamente, esta gente, o sr.Nicomar ( que nome! De que academia de letras sub-interiorana terá surgido tão desafinado arranjo de vogais e consoantes ?) faz exatamente o que me acusa de ter feito: tolera manifestações de óbvia ignorância como se fossem saudáveis variações da norma culta.
Não me animo a ir adiante nesta polêmica porque o sr. Nicomar ( que nome! De que balcão de farmácia suburbana terá saído tal cacofonia de consoantes e vogais?) é um armarinho ambulante de contradições: quer se fazer de culto,mas defende, indiretamante, os ignorantes. Ora, defender os ignorantes é rezar para que a ignorância se perpetue. A vereda da civilização é outra: combater a ignorância é abrir caminho para a felicidade.
O sr. Nicomar chama-me de relativista cultural, mas comete o pior dos relativismos: admite a estultice alheia como se fosse algo tolerável. Não é.
Gestos assim provocam o que já sentimos há tempos sob nossos pés fatigados: tremores que indicam, inequívocos, os últimos suspiros de uma civilização.
Retiro-me de cena. Mas advirto o sr. Nicomar ( que nome ! De que discurso de vereador de aldeia terá saído tão estapafúrdia combinação de vogais e consoantes ?): minha guerra contra as empulhações não pára aqui. É uma guerra perdida por antecipação, eu sei. Mas as melhores e mais belas batalhas são, justamente, aquelas em que o melhor guerreiro não terá chances de vitória. Sempre foi assim.
Assim, rogo aos céus: Deus, dai-me paciência. Mas não agora.
Porque,agora, preciso de impaciência e destemor para enfrentar as falanges do mais sorrateiro dos inimigos: os congregados nicomarianos, gente que, sob um suposto verniz culto, bate palmas para a sagração da ignorância!
Vou ao estábulo imaginário. Acordo o amigo Rocinante. Os moinhos de vento nos chamam: é hora de partir.
Cientificamente comprovado: enquanto Ronaldindo Gaúcho estiver usando aquela bandana, aquele brinco e aquela pulseira, não há a menor possibilidade de a seleção brasileira jogar algo parecido com futebol.
Quem me soprou o caminho das pedras foi João Sandanha - numa rápida aparição às três e cinco da manhã desta sexta-feira.
Nasce um idiota a cada minuto, diz o ditado, atribuído a um empreendedor americano.
Haverá sempre um idiota pronto a consumir qualquer idiotice que lhe ofereçam.
E quando dezenas de milhares de idiotas se reúnem formam o quê ?
Fácil: a platéia de um show de Madonna.
A mulher é chatíssima. Sempre que aparece em entrevistas patéticas exibe aquele ar entediado de quem se julga superior ( o pior de tudo é que o ex-marido da anta, o ator Sean Penn, consegue ser tão blasé e tão antipático quanto: invariavelmente, aparece, tanto em filmes quanto em entrevistas, com expressão de quem tomou um litro de purgante).
Idiota diplomada, Madonna jamais disse uma frase aproveitável. Há anos não lança uma música memorável.
Agora, vem ao Cone Sul da América, recolher dólares dos incautos.
Nascem mil idiotas a cada segundo.
A pior forma de solidão é a companhia de um aparelho de TV.
Desavisadamente, abro um exemplar da revista TPM. Boa leitura. Mas eis que, no texto de um anúncio, leio uma pérola digna de entrar na antologia da cavalice: a palavra "antibraço" !!
Prefiro não acreditar. Mas não há como fugir da evidência espetacular dos fatos: a página é 115 da edição número 80 da revista - a que traz Cláudia Abreu na capa.
O autor(a) do anúncio inventou um membro novo para o corpo humano: o inimigo do braço!! O antibraço, portanto. O incrível é que o texto deve ter sido escrito, reescrito, revisado, aprovado "n"vezes.
O gênio do antibraço haverá de ganhar o prêmio Nobel de Fisiologia, por merecimento. Jamais tinha ocorrido a alguém que o braço possuía um inimigo tão próximo. O anúncio, meio disfarçado de matéria, é de uma marca de óculos - a Arnette.
O "antibraço" nos faz lembrar uma pérola publicada num anúncio milionário de um carro Toyota na revista Veja: o gênio do texto escreveu que era hora de "encarar de frente".
Por acaso alguém já encarou de trás ?
A pergunta que fica no ar é inevitável: quantos mil dólares as empresas devem ter pago aos produtores desses anúncios para que eles produzissem tamanhas estultices ?
É a velha história: nascem mil otários a cada minuto.
Haverá sempre um publicitário pronto a cometer uma gracinha, escrever um absurdo
e, pior, posar de gênio.
Ah, antes que alguém lá na última fila faça a pergunta inevitável - "E os jornalistas ?"-, respondo, sem pestanejar:
os jornalistas são dez vezes piores, é claro.
Alguma dúvida ?
Simples assim: um bom jornalista não escreve trocadilho.
Deus, dai-me soberba para suportar o rugido das feras - mas não agora.
Porque agora, para surpresa de beócios do quilate de Nicomar Lael, cometerei um gesto de magnanimidade suprema, nada compatível com a soberba a que preciso recorrer para me proteger da idiotia alheia.
Direi a Nicomar Lael, este animal rastejante que vive prospectando páginas dos dicionários em busca de palavras e expressões em desuso que lhe concedam a aparência de sábio: oh, pulha, festejai, gritai "alvíssaras!" ao céu mudo, porque confessarei que concordo contigo num ponto - apenas num! Já, já, direi qual é o único e escasso motivo de nossa concordância.
( Mas, antes, quero te deixar ciante de que, em homenagem a teus neurônios de baixa extração, atuarei como atuam adultos diante de crianças: farei de conta que não, não conheço, sequer desconfio de teus truques. Farei de conta que não sei que, como se fosse um labrador faminto, deslizas as patas pelas páginas de velhas edições de dicionários comprados em sebo, em busca de vocábulos como "charneca", "brâmane", "trautear", "atólito", "estrídulas" , "estúrdia" "eutimia" e coisas que tais, com a única intenção de contrabandeá-los em teus textos e, assim, tentar atrair, pelo exotismo das expressões, a atenção de leitores desavisados. Debalde. Direi que consegues apenas atrair a piedade.
Obterias efeito idêntico se, no lugar da recitação de tais anacronismos, simplesmente te dedicasses a um exercício mais simples: bastaria afastar ligeiramente a arcada dentária superior da arcada dentária inferior, mobilizar as cordas vocais e produzir o som que emites com tanta graça e desenvoltura desde o dia do nascimento: au-au-au-au. Bastaria fazer o que fazes tão bem: latir!
Mas, não. Insistes em escrever).
Feita a ressalva, digo que sou forçado a concordar num ponto com o sr. Nicomar Lael (volto a indagar aos céus: de que balcão de cartório de floresta terá brotado tal nome, uma cacofonia formada por vocais e consoantes em choque ?):
é perda de tempo ficar chocado com os barbarismos ditos por gente supostamente "ilustrada" na TV.
Sempre achei que, desde que mantida sem som, a TV pode ter uma excelente utilidade: deixa o ambiente à meia-luz, o que pode ser bom para as retinas fatigadas. Mas este eletrodoméstico que fala não deve, claro, ser levado a sério, porque, com raríssimas exceções, só consegue emitir três coisas: luz, som - e parvoíces.
Assim, não é de estranhar o desfile de horrores que assaltam nossos olhos a cada vez que olhamos de soslaio para os vídeos. Lá estarão anúncios engraçadinhos paridos por publicitários que se julgam gênios; celebridades idiotas tentando nos vender produtos e serviços que vão de telefones celulares a cervejas e bancos; jornalistazinhos fazendo trocadilhos infames, como se trocadilho fosse capaz de dar nobreza a textos capenguíssimos; o lixo, o lixo, o lixo.
Tive,portanto, uma iluminação. Da próxima vez que ouvir alguém dizer "meu óculos" na TV, restarei indiferente. Farei o que deveria ter feito das outras vezes:
tirarei o som.
Assim, esta fábrica de estultices finalmente cumprirá o papel que lhe cabe,por merecimento: deixar o ambiente à meia-luz.
Poderei, então, mergulhar no sono profundo, cavalgar por toda a noite por territórios de sonho, onde não há lugar para os parvos e os beócios - e os aparelhos de TV.
Há ilusões de ótica - e ilusões auditivas. É o que acabo de ter: uma indescritível ilusão auditiva. Tive a claríssima impressão de ter ouvido uma sucessão de relinchos, partidos do meu terminal de computador.
Corri até a máquina, uma das poucas heranças maravilhosas que o Século XX nos legou (quase todo o resto poderia ser jogado na poubelle da história, especialmente os aparelhos de TV, habitados por jornalistas que fazem trocadilhos). Cheguei, por um átimo de segundo, a duvidar de minha sanidade: como pode uma máquina sem uso emitir repetidos relinchos ?
Logo descobri o óbvio encadeamento dos fatos: a cada vez que o sr. Nicomar Lael resolve dar sinal de vida, em forma de posts indigentes, os terminais sintonizados neste site emitem, automaticamente, retumbantes, cristalinos, claríssimos relinchos. É como se estivessem avisando ao planeta: correi, incréus, ateus, descrentes. Vinde ver esta maravilha: cavalos podem escrever,sim! Cavalos de todas as raças: andaluzes, anglo-árabes,appaloosas,berberes, crioulos e galicenos! Ah, o indescritível
rol de surpresas com que a natureza nos brinda a cada romper da manhã!
Não,não era uma ilusão auditiva: era uma manifestação internética do quadrúpede.
De toda forma, depois de espalhar imprecações por cada centímetro quadrado da tela do computador, a ponto de atingir com coices até o confrade Paulo Rubens, que caminhava, distraído, pelo local, o sr. Nicomar Lael não explicou que razões o levam a ter um ataque de fúria quadrúpede a cada vez que eu, zeloso guardião do que resta do idioma, denuncio a ignorância de quem pronuncia coisas como "meu óculos" e "o óculos".
Ah,o doce prazer de batalhar em guerras perdidas: é o que faço ao tentar, debalde, corrigir o mundo e a parvoíce alheia, tão bem representada na figura nicomariana.
Bem sei que chegarei ao fim da guerra com o corpo coberto de chagas, as botas enlameadas de cansaço e desilusão, o coração estilhaçado, os olhos fatigados pela contemplação de tanta impostura, as lanças dos infiéis apontadas para mim. Mas, a caminho do cadafalso, onde serei imolado pelos dardos da igonorância, repetirei, em voz baixa, o mantra que me move há décadas: "No pasarán! No pasarán! No pasarán!".
Não, sr. Nicomar, vossas parvoíces, vossos coices, vossa cegueira, vossa igonorância no pasáran !
Um segundo antes de me recolher à minha caverna, constato: o corte moicano no cabelo de Júnior, o ex-parceiro de Sandy, é a quadribilionésima evidência de que a humanidade não é viável. Nunca foi. Jamais será.
Dizem que Madonna não gosta de dar entrevista. Marisa Monte também não.
Ainda bem!
Alguém da platéia poderia lembrar da uma única e escassa frase original e interessante jamais dita por uma cantora à imprensa ?
Vocês têm dez anos para pensar.
Depois de ouvir um dos mesários do Manhattan Connection dizer, com todas as letras, "um óculos", eis que, no dia seguinte, segunda à noite, sintonizo a Rede Bandeirantes para acompanhar a edição semanal do CQC, um bom programa. Não demorou, a casa caiu de novo.
Um dos repórteres disse, com toda clareza, "o óculos".
De repente,como num espasmo involuntário, minhas cordas vocais começaram a sussurrar,para meus botões fatigados, o mantra maldito: a casa caiu, a casa caiu, a casa caiu.
Não faz tempo, Jô Soares pronunciou "o óculos" no programa. Regina Casé, numa das "n" vezes em que esteve no Programa do Jô, também disse, claramente, "o óculos". Durante a transmissão de um jogo de volibol de praia na Olimpíada de Pequim, um repórter cometeu um tropeço feíssimo: ao vivo, para quem quisesse ouvir, ele soltou "o óculos" ao entrevistar o atleta brasileiro derrotado. Um médico (!!), supostamente alfabetizado, disse, em horário nobre, na TV, "o óculos". Demonstrou, assim, que pode até ter ouvido falar em algo chamado plural, mas é perfeitamente incapaz de diagnosticar um, quando solicitado pelo idioma.
Atenção, apresentadores de TV, repórteres, médicos: não custa nada aplicar o plural quando ele é necessário! Não dói, não custa caro, não dá trabalho! O certo é "os óculos" ! Jamais, "o óculos" ou "um óculos" ou "meu óculos". Simples assim. Dizer "o óculos" ou "um óculos" é como dizer "a casas", "o carros", "o jornais". Mas, pela frequência com que gente "ilustrada" comete o erro bárbaro, tudo indica que aplicar um recurso tão básico quanto o plural é dificílimo....
Enquanto o Sopa uiva para o vento contra a praga do "o óculos", a GMI ( Grande Marcha da Ignorância) avança, impávida, por nossos canais auditivos...
Depois de ler a coleção de relinchos do sr. Nicomar, declaro-me temporariamente impossibilitado de oferecer uma resposta.
Motivo: ainda não encontrei um veterinário que pudesse traduzir aqueles grunhidos. Ou seja: transformá-los em sentenças compreensíveis por gente alfabetizada.
Ah, um veterinário. Que falta faz essa criatura, a única capaz de entender a linguagem dos irracionais....Mas, cedo ou tarde, há de aparecer um, para matar nossa curiosidade.
De qualquer maneira, causa-me espécie o fato de o sr. Nicomar ter um ataque hidrófobo (ou será bibliófobo ?) apenas porque ousei corrigir um erro cometido com assustadora frequência por tanta gente,inclusive a que porta diplomas e certificados : dizem "o óculos" e "meu óculos".
A reação do sr. Nicomar nos deixa uma lição que faria Pavlov soltar coquetéis Molotov de contentamento: a gente aprende que, a cada vez que alguém tenta corrigir um parvo como o sr. Nicomar, as cordas vocais da besta emitem um relincho característico.
Como é sábia a natureza...
Eis que o espectador que vos fala estava postado diante do Manhattan Connection, Canal 41, pouco antes da meia-noite deste domingo. Lá pelas tantas, um dos mesários do programa, jornalista de respeito, tropeçou feio no idioma: disse, claramente, "um óculos".
A casa caiu. O conceito do Manhattan Connection sofreu uma queda de cinquenta pontos na EPF. Aos não iniciados: EPF significa Escala Paulo Francis de estima televisiva.
Fui dormir sussurrando aos meus cinco botões um mantra de três palavras : a casa caiu, a casa caiu, a casa caiu.