Poucos segundos depois do anúncio do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, eis que aparece a cena indescritível ( e, pelo jeito, inevitável) : uma mulata brasileira requebrando ao lado de uma bandeira rodopiante.
Acendo uma vela inútil a Nossa Senhora do Perpétuo Espanto. Em silêncio contrito, peço que ela nos poupe das cenas que, inevitavelmente, acontecerão antes de cada jogo da Copa:
a) um idiota puxará a camisa à altura do peito e berrará para a câmera: "vai ser quatro a zero! vai sr quatro a zero!".
b) pior: um repórter terá perguntado a ele quanto será o placar...
c) mulatas requebrarão no saguão do aeroporto, para dar as boas vindas aos turistas estrangeiros, como se estivessem em busca de clientes numa boate de oitava categoria
d) batucadas de samba. Caboclinhos. Maracatu. Índios dançando. Todas estas manifestações de primarismo musical, estético, filosófico e cultural invadirão os vídeos para mostrar o quão exótica é esta grande nação do sul.
e) vai ser bom ver os jogos. Mas, com o avanço das novas tecnologias, não haveria um jeito de tirar o áudio e apagar o vídeo de tudo o que será dito e mostrado antes e depois de cada partida ?
f) dizei-nos, Nossa Senhora do Perpétuo Espanto: não haveria um jeito ?
O Brasil só será uma democracia plena no dia em que qualquer cidadão maior de oito anos de idade possa dar voz de prisão a quem cheirar o vinho no copo e, em seguida, bebê-lo com o dedo mindinho estirado.
É inafiançável.
Vinte minutos depois da escolha do Brasil como sede da Copa, ouço no rádio a primeira estatística: um comentarista esportivo diz que a seleção brasileira tem, desde já, 95 por cento de chances de levantar a taça no Maracanã, em 2014.
Tomara que aconteça.
Em 1950, as chances eram de 99 por cento.
Qualquer criança sabe que as empreiteiras estão por trás de noventa vírgula quatro por cento dos casos de mega-corrupção ocorridos no Brasil.
Com uma ou outra variação, o esquema sempre funcionou assim: quando ocupa um cargo exectuvo, o político corrupto super-fatura uma obra pública. A empreiteira enche as burras de dinheiro. Em seguida, paga uma comissão ao corrupto - de preferência, em dólar, no exterior.
Há variações em torno deste enredo: em troca de "agrados", o político corrupto pode também defender com unhas e dentes,no Congresso, emendas de interesse das empreiteiras. É um jogo de corruptores e corruptos que se arrasta há décadas.
Dá para imaginar a festa que as empreiteiras não devem ter feito ontem com a confirmação da Copa no Brasil.
Bilhões serão gastos em obras.
O Sopa de Tamanco fez todos os cálculos: as chances de super-faturamento são de nove vírgula oito em dez.
Tomara que, num gesto de fervor patriótico, as empreiteiras separem uma parte do dinheiro para recompensar cada juiz que marcar um pênalti contra a Argentina.
Terminada a festa, deveriam ir todos para a cadeia.
A Tamanco Corporation lança um novo produto: o Muro das Tamancações. Aqui, aos pés deste muro virtual, nós, devotos, podemos acender velas diárias para Nossa Senhora do Perpétuo Espanto.
A primeira oração: Nossa Senhora do Perpétuo Espanto, fazei com que nunca, jamais, sob hipótese alguma, a gente inadvertidamente veja, ouça ou leia reportagens sobre "celebridades" barrigudas.
Como diria Jaqueline Kennedy em Dallas, "oh, no!".
O Sopa de Tamanco insiste: o Brasil bem poderia surpreender o mundo ao lançar um novo conceito jurídico: o da pena preventiva.
Exemplo: assim que saísse da faculdade, todo publicitário recém-formado passaria dez anos num presídio de segurança máxima, como castigo antecipado por todos os anúncios estúpidos de cerveja que um dia ele irá criar.
Idem para os jornalistas. Pegariam dez anos de pena preventiva em Guantánamo pelo crime inafiançável de provar uma comida estranha, olhar para a câmera com cara de falso espanto e dizer : "hum....delícia". Ou "hum....estranho....".
Idem para políticos. Poderiam cumprir vinte e cinco anos de pena preventiva porque um dia, no futuro, com toda certeza, dirão em entrevistas com a maior desfaçatez do mundo que não, não são candidatos ao cargo "x", quando todo mundo sabe que são,sim. Por que insistem nesta empulhação ? Por que fazem os outros de idiotas ? Para que esta palhaçada ? Por que não dizem logo que querem, sim, ser candidatos a governador,a senador, a presidente, a seja o que for ?
Vinte e cinco, não. Trinta anos seriam suficientes.
O Sopa lançará, em breve, uma grande campanha publicitária: pena preventiva, já !
O patriota que escolheu aquela música de Gonzaguinha como tema da novela das oito continua solto ?
Duzentos anos da vinda da família real.
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
Quando o festival acabar, por favor, me acordem.
Sites informam que um carro atropelou o cachorrinho de uma atriz - tida, aliás, como casca grossa. O cachorro tinha, antes da tragédia, tomado a sábia providência de moder o namorado da atriz. Informações relevantes. Relevantíssimas.
Dá vontade de morder os sites.
Começou a eleição do filme mais chato já produzido sob o sol. Desde que alguém descobriu que uma parede branca podia ser usada, também, para projeção de imagens em movimento, a lista de chatices concebidas em nome da chamada Sétima Arte é interminável.
Votei em "Striptease", com Demi Moore, uma porcaria que, além de chata, era inominavelmente ruim.
Nem sempre o que é chato é ruim. Ou o que é ruim é chato. "2001,uma Odisséia no Espaço" não é ruim. Mas é chato.
Vi um pedaço de "O Padre e a Moça" outro dia no Canal Brasil. Chato. Chato. Chato. "Macunaíma" é chato.
(a votação começou,aqui: http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/nelson/ )
Às urnas, cidadãos!
"Duvido que a arte de pensar possa ser ensinada - pelo menos,por professores do segundo grau.Não é adquirida,mas congênita. Algumas pessoas nascem com ela. Suas idéias fluem com clareza e elas são capazes de raciocínio lúcido; quando dizem alguma coisa, esta é instantaneamente compreensível; quando a escrevem, são luminosas e convincentes. Eu diria que essas pessoas constituem cerca de 1/8 de 1% da espécie humana. Os demais filhos de Deus são tão incapazes de pensamento lógico quanto de esquiar na lua.Tentar ensiná-los será uma empreitada tao presunçosa quanto tentar ensinar a uma pulga os Dez Mandamentos. A única coisa a fazer com eles será transformá-los em PhDs e mandá-los escrever livros sobre estilo"
("O Livro dos Insultos de H.L. Mencken)
"Todo governo é composto de vagabundos que,por um acidente jurídico, adquiriram o duvidoso direito de embolsar uma parte dos ganhos de seus semelhantes"
("O Livro dos Insultos de H.L.Mencken")
"O homem é o caipira par excellence, um ingênuo incomparável, o bobo da corte cósmica. Ele é crônica e inevitavelmente tapeado, não apenas pelos outros animais e pelas artimanhas da natureza, mas também (e mais particularmente) por si mesmo, por seu incomparável talento para pesquisar e adotar o que pe falso, e por negar ou desmentir o que é verdadeiro"
(H.L.Mencken em "O Livro dos Insultos de H.L.Mencken")
"Se você despreza a sabedoria popular, dê uma espiada no seu Shakespeare: suas peças escorrem pessimismo de ponta a ponta. Se há uma idéia geral nelas, é a de que a existência humana é uma penosa futilidade, apagável como uma vela.No entanto, nos atrelamos a ele de uma maneira atabalhoadamente fisiológica - ou, para ser mais preciso, patológica - e até tentamos recheá-la com pomposas cantilenas. Todos os homens verdadeiramente sensíveis lutam poderosamente pela distinção e pelo poder, isto é, pelo respeito e inveja dos seus semelhantes,pela admiração de uma interminável série de carcaças portando aminoácidos em rápida desintegração. E para quê ? Se eu soubesse, certamente não estaria escrevendo livros neste infernal verão americano; estaria exposto numa sala de cristal e ouro e as pessoas pagariam 10 dólares para me contemplar através de buraquinhos"
"Vejamos o caso do escritor medíocre que defende o seu trabalho de escrever seriados para revistas de cinema, afirmando que tem uma mulher para sustentar.Tendo conhecido algumas dessas mulheres, não vejo por que se submeteriam a tais sacrifícios...Quanto aos subprodutos biológicos desta fidelidade - os filhos - , minha avaliação deles seria ainda mais baixa. Montre-me cem cabeças de crianças comuns que valham um único O CORAÇÃO DAS TREVAS e eu mudarei de idéia. Quanto a LORD JIM,eu não o trocaria por todos aqueles pirralhos nascidos em Trenton, New Jersey, desde a guerra contra a Espanha em 1898"
( "O Livro dos Insultos de H.L.Mencken")
Uma medida extremamente simples poderia ser tomada pelo Supremo Tribunal Federal:
assim que saísse da escola, todo publicitário cumpriria uma pena preventiva de dez anos numa ilha remota do rio São Francisco.
Assim, ele já pagaria, por antecipação, por todos os trocadilhos e anúncios engraçadinhos que viesse a cometer ao longo da carreira.
Todos ficariam felizes.
Nossos olhos e ouvidos ganhariam dez anos de trégua.
O Brasil surpreenderia o mundo ao lançar um novo conceito jurídico: o de pena preventiva.
E os publicitários pensariam duas vezes antes de infestarem as TVs, rádios, outdoors e adjacências com coisas insuportáveis como aqueles anúncios do Bar da Boa, Zeca-Feira, o coronel da Net e outras inumeráveis pérolas.
É tudo tão simples. Um grande problema estaria resolvido com uma simples canetada do Supremo.
Por que é que os humanóides teimam em tornar tudo complicado ?
Relincho, logo, existo.
Mas não custava nada alguém providenciar um farelo de melhor qualidade para as refeições no self-service.
Dou uma navegada por portais que hospedam blogs. Depois de tropeçar pela tricentésima vez com expressões como "caraca" e "irado" ou relatos sobre festinha de aniversário, constato que noventa e cinco por cento dos blogs são baboseiras da primeira maiúscula do primeiro parágrafo ao ponto final. Três por cento são leseiras. Dois por cento são legíveis.
Faço nova inspeção. "C´est dommage": o Sopa de Tamanco não se enquadra na última categoria.
Defender o quartel-general da Coca-Cola em Atlanta contra ataques de alienígenas é a única causa que me faria aderir à luta armada hoje.
A vida sem Coca-Cola (num copo sem gelo e com limão) deve ser intolerável.
Não troco uma lata de Coca-Cola estupidamente gelada por toda a produção de vinho do sul da França dos próximos cinquenta anos. Vinho é chato por natureza. Coca-Cola não.
Quem inventou esta mistura escura de gás, açúcar e aditivos misteriosos é um benfeitor da humanidade.
Só perde para quem inventou o futebol de botão.
Guardo meus times até hoje.
Pagar quinhentos reais para ver Sting cantar no Maracanã.
Óbvio que sim.
Mas só na outra encarnação.
Compositor de música popular existe, basicamente, para inventar melodias que os outros possam assoviar.
Sting só inventou uma. Aquela: Every Breath You Take.
É bonitinha mas não vale cinquenta mil centavos, o preço que estão cobrando por um ingresso em lugar decente no estádio.
No way.
Criança trabalhando em novela, em qualquer horário, qualquer emissora.
Se houvesse justiça no planeta, eis aí um exemplo acabado de crime inafiançável.
Você olha para o céu cinzento, mira o Grande Nada e pergunta a si mesmo:
você seria capaz de sair de casa para ir ver um show de um grupo chamado Sorriso Maroto ? De novo: Sorriso Maroto. Outra vez : Sorriso Maroto.
A última de suas vísceras repete instintivamente o que Jaqueline Kennedy disse, horrorizada, quando viu os miolos do marido explodirem dentro daquele carro em Dallas : "Oh,no!"
É pule de dez: Kimi Raikkonen, aquele finlandês que ganhou o campeonato de Fórmula-1, com toda certeza deve ter sofrido um trauma de infância irrecuperável.
Só um doente pode reagir daquele jeito à adulação que o cerca: com uma frieza e uma antipatia jamais vistas.
Os jornais ficam repetindo o apelido carinhoso de "homem de gelo".
Para que tanto eufemismo ?
Por que não chamá-lo do que ele realmente é : um idiota antipaticíssimo ?
Pergunta-se : por que traumatizados de infância como Raikkonen não procuram um bom psiquiatra, em vez de ficarem se exibindo pelo mundo com os seus focinhos intragáveis ?
Coincidência: anteontem,a TV passou uma entrevista com Sean Penn, um bom ator e diretor.
É outro que, independentemente de talento, deve ter sofrido na infância algum trauma inapagável.
Somente assim, pela psiquiatria, é possível justificar a cara de limão azedo que mister Penn exibe até quando é elogiado por algum entrevistador condescendente.
De qualquer maneira, por uma questão de justiça, não se pode nem se deve comparar Sean Penn com o idiota-mor da Fórmula-Um.
O finlandês é um débil mental que não evoluiu da primeira infância: resolveu passar o resto da vida brincando de carro, só que com um rosto de adolescentezinho revoltadinho.
O outro pelo menos fez alguma coisa mais útil do que ficar produzindo aquele barulho ridículo em carrinhos coloridos.
A espécie humana é sem solução.
É pule de dez: Kimi Raikkonen, aquele finlandês que ganhou o campeonato de Fórmula-1, com toda certeza deve ter sofrido um trauma de infância irrecuperável.
Só um doente pode reagir daquele jeito à adulação que o cerca: com uma frieza e uma antipatia jamais vistas.
Os jornais ficam repetindo o apelido carinhoso de "homem de gelo".
Para que tanto eufemismo ?
Por que não chamá-lo do que ele realmente é : um idiota antipaticíssimo ?
Pergunta-se : por que traumatizados de infância como Raikkonen não procuram um bom psiquiatra, em vez de ficarem se exibindo pelo mundo com os seus focinhos intragáveis ?
Coincidência: anteontem,a TV passou uma entrevista com Sean Penn, um bom ator e diretor.
É outro que, independentemente de talento, deve ter sofrido na infância algum trauma inapagável.
Somente assim, pela psiquiatria, é possível justificar a cara de limão azedo que mister Penn exibe até quando é elogiado por algum entrevistador condescendente.
De qualquer maneira, por uma questão de justiça, não se pode nem se deve comparar Sean Penn com o idiota-mor da Fórmula-Um.
O finlandês é um débil mental que não evoluiu da primeira infância: resolveu passar o resto da vida brincando de carro, só que com um rosto de adolescentezinho revoltadinho.
O outro pelo menos fez alguma coisa mais útil do que ficar produzindo aquele barulho ridículo em carrinhos coloridos.
A espécie humana é sem solução.
Carl Bernstein, como se sabe, é o super-repórter que ficou famoso no mundo inteiro ao publicar no jornal Washington Post, em parceria com Bob Woodward, as reportagens investigativas que, em última instância, provocaram a renúncia do presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon.
Não é exagero dizer que ele entrou para a História.
Quem acredita que o papel do Jornalismo é ficar a serviço de idéias preconcebidas deve ver a entrevista que o locutor-que-vos-fala fez com o super-repórter: lá, com todas as letras, Bernstein diz que os jornalistas devem reaprender a ouvir. Porque se tornaram maus ouvintes. Se tivesse da dar um conselho a um jovem jornalista, ele diria :"Seja um bom, ouvinte!".
Em outras palavras: jornalistas "engajados" querem que os entrevistados apenas confirmem o que eles, jornalistas, pensam. Lástima. Bernstein diz que, frequentemente, as coisas que ele descobre ao longo de uma apuração são diferentes do que ele esperava.
O repórter do Escândalo de Watergate dá um exemplo pessoal: é óbvio que ele não concordava com um milímetro do que o governo Nixon fazia. Mas os melhores informantes que ele obteve durante o Escândalo de Watergate eram republicanos diretamente ligados ao presidente. Era gente que, no fim das contas, ele poderia até ver com certo desprezo, mas a quem ele ouvia com todo interesse. É assim que se faz Jornalismo de verdade.
O papel do Jornalismo não é, jamais, o de querer dizer como o leitor deve se comportar. A única função do Jornalismo, diz o super-repórter, é o de apresentar a melhor versão que se possa obter da verdade. Ponto final.
A entrevista com Carl Bernstein vai ser reprisada na Globonews, dentro da série Dossiê História, nesta segunda-feira, às onze e meia da manhã e às cinco e meia da tarde. Passa de novo no próximo sábado, às quatro e meia da tarde - e no domingo,às nove e cinco da manhã.
O que ele diz sobre Jornalismo merecer ser ouvido.
De Londres, Ivan Lessa faz perguntas sobre a conduta dos policiais ingleses que executaram o brasileiro Jean Charles com seis tiros na cabeça dentro de um vagão do metrô. Pensaram que ele era terrorista. Primeiro, atiraram. Depois, descobriram o erro. Era tarde. Protegidos por biombos e pseudônimos, os policiais compareceram a um tribunal. Um dos assassinos soluçou, compadecido,diante do juiz...
(Aqui, o texto completo:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/10/071019_ivanlessa_tp.shtml)
Um deputado, arquiteto, dá entrevista à rádio CBN e pronuncia - de maneira clara e límpida - a palavra "seje".
Um arquiteto dizendo "seje" !!! Nome: Luiz Paulo.
Um profissional diplomado não pode pronunciar uma palavra que não existe na língua portuguesa. Não pode.
Zapeio. Uma deputada (nome: Renata do Posto) fala para um grupo de estudantes, numa TV a cabo, em programa gravado no plenário da Assembléia. Um estudante pergunta como é possível saber se um deputado é bom ou não. A deputada diz que basta observar um deputado discursando. Se ele estiver lendo o discurso, não presta. Se estiver falando sem consultar nenhum papel, é bom.
Parece mentira, mas é este o raciocínio da ilustríssima parlamentar: quem lê discurso não presta!!!
Ulisses Guimarães deu trinta e cinco voltas no túmulo.
Nossa Senhora do Perpétuo Espanto, rogai por nós.
Onde é que essa comédia de erros vai parar ?
Faz exatamente quatro meses que o Sopa de Tamanco perguntou: o ceguinho que vive dando entrevista à Tv sobre enquadramento fotográfico continua solto ?
(Dica para a Interpol: chama-se Evgen Bavcar. Vive em Paris. Já passou pelo Brasil)
Lastimavelmente, a Interpol não se manifestou até agora.
Resultado: o ceguinho fotógrafo continua pontificando sobre enquadramento.
O post original:
11 de Junho de 2007
OS POLITICAMENTE CORRETOS E NOSSA GRANDE COMÉDIA DE ERROS
Desde que a praga politicamente correta tomou de assalto as mentes simplistas, pega mal dizer que o feio é feio, a gorda é gorda, o negão é negão, o gay é gay, o branquelo é branquelo, o burro é burro, o bêbado é bêbado, o idiota é idiota.
Qual é o problema?"Pega mal" dizer que um cego não pode ser fotógrafo. Mas peço licença à patrulha para dizer: não pode! Vi outro dia um fotógrafo cego pontificando na TV sobre enquadramento. Falava francês, claro ( não há língua que se preste tanto a imposturas intelectuais).Cego falando de fotografia é algo tão grave e despropositado quanto este locutor participando de desfile de moda.
Fiz aos meus botões a pergunta que todos fazem na surdina : por que é que o fotógrafo ceguinho não arranja outra profissão? Por que não aprende música? Por quê? Por que precisa aparecer na televisão falando de enquadramento fotográfico? Por quê? Por quê?Os meus botões se quedaram silentes.
Diante da mudez de meus botões, desisto de lançar perguntas ao vento sobre o fotógrafo ceguinho e a miríade de personagens absurdos que compõem,com ele, o elenco desta nossa grande comédia de erros. Quem sabe, o melhor é deixar que o circo planetário siga adiante, sem ser importunado.Como diria Drummond no mais belo poema já escrito em território brasileiro, "A Máquina do Mundo":....."e a máquina do mundo, repelida,/se foi miudamente recompondo/ enquanto eu, avaliando o que perdera,/ seguia vagaroso/ de mãos pensas"
Nunca, jamais, sob hipótese alguma, receba um cheque de quem:
a) chama TV de "telinha"
b) desenha um sinal de aspas no ar com dois dedos de cada mão
c) acrescentou uma letra ao nome por sugestão de um numerólogo
d) chama o marido de "maridão", o filho de "filhão" ou, se for o caso, a mulher de "amorzão"
e) usa rabo-de-cavalo
f) alguma vez na vida já usou ou pensou em usar bandana
g) desfila de camiseta na rua para mostrar aos outros os músculos marombados
i) toma cafezinho com o dedo mindinho estirado
É pule de dez: o cheque é sem fundos.
Observadores notaram que, desde que começou a trégua no circo de baixarias do Senado, a epidemia de vômito registrada entre telespectadores da TV Senado e dos telejornais sofreu uma redução.
Pitoresco.
A seleção brasileira deu uma goleada no Equador. Noventa e oito vírgula cinco por cento dos leitores dos jornais impressos já sabem do resultado.
Se, amanhã pela manhã, os jornais trouxerem como destaque principal do título de esportes da primeira página a "informação" de que o Brasil ganhou de 5 a 0 do Equador, estará explicado - de novo! - por que a imprensa resolveu, "por livre e espontânea vontade", cavar a própria sepultura.
Faça-se o teste. É só passar o olhos nas primeiras páginas que daqui a algumas horas estarão colorindo as bancas.
Uma pergunta ficará flutuando no ar: Deus do céu, por que será que a esmagadora maioria dos jornais trata o leitor como se ele fosse um extra-terrestre surdo,mudo e cego -que acabou de desembarcar de um planeta remoto?
Não ocorre a nenhum editor a idéia de que noventa e oito vírgula cento dos leitores já obtiveram a primeira informação sobre o resultado do jogo pela TV, pelo rádio, pela miríade de sites ? Por que repetir nos títulos uma informação que, inevitavelmente, já é velha quando chega às bancas ?
Não seria tão fácil, tão simples, tão óbvio tentar olhar para a frente ? Com certeza, uma informação que não repetisse simplesmente o que todo mundo já sabe serviria para chamar a atenção do leitor, ao invés de despertar o habitual bocejo. Afinal, não é para "chamar a atenção" do leitor que os jornais existem ? Algo do tipo :"Depois da goleada no Maracanã, Dunga quer outros jogos no Rio"; "Seleção já promete repetir em São Paulo a goleada de ontem" ; "Ronaldinho, barrado por Dunga, pede vaga para jogo em São Paulo" ;"Seleção goleia mas Argentina lidera eliminatórias"; "Comportamento nota 10 do torcedor credencia o Maracanã como palco da Copa" etc.etc.etc. Qualquer estagiário faria uma lista de possíveis novas informações que poderiam merecer um título capaz de estimular minimamente a curiosidade do Senhor Leitor. Eis um bom exercício para as salas de aula dos cursos de Jornalismo.
Mas não: há noventa e nove vírgula nove por cento de chances de os jornais desta quinta anunciarem nos títulos de primeira página,como se fosse a novidade do século, a vitória do Brasil sobre o Equador.
Depois perguntam por que é que a imprensa de papel perde leitores.....
O caso me lembra o que vi uma vez em Londres,onde se fazem jornais de primeira qualidade:
um instituto tinha divulgado uma pesquisa de opinião que indicava a possível derrota dos conservadores nas eleições de 1997. A TV noticiara exaustivamente os números nos telejornais noturnos.
Se fosse no Brasil, os jornais dariam, no dia seguinte, na primeira página, um título como "Ibope dá vantagem ao PT". Ou algo assim. Ou seja :os jornais repetiriam algo que o leitor interessado em política com certeza já sabia.
O que fez o jornalaço Daily Telegraph ? Deu a informação da maneira mais criativa possível. Publicou na primeira página uma bela ( e enorme) foto do então primeiro-ministro John Major sozinho, na porta do número dez da Downing Street, a residência oficial do chefe do governo. O pesquisa indicava que o partido de Major estava cotadíssimo para perder a eleição, o que, afinal, viria a acontecer semanas depois.
A manchete do jornal: "Este homem pensa que vai vencer a eleição".
Não é por acaso que a imprensa inglesa de qualidade é o que é.
Também não é por acaso que nossa imprensa é o que Paulo Francis passou os últimos anos de vida dizendo: "Previsível, empolada, chata. Meu Deus, como é chata".
Não teria chegado a hora de uma autocrítica violenta, uma virada de mesa, uma aposta na criatividade ? Por que os jornais continuam com a cabeça enterrada na areia, sem olhar para a paisagem em volta ?
Ainda há tempo para tentar sacudir a poeira - nem que seja em sinal de respeito à paciência dos leitores....
Help!
Refaço o mantra : a humanidade só será feliz no dia em que a prisão de Guantánamo puder receber jornalistas de todo o mundo que tenham sido,merecidamente, condenados à prisão perpétua pela Corte Internacional de Justiça de Haia por terem cometido o seguinte crime: provaram uma comida, olharam para a câmera com carinha de espanto e disseram : "Hum....Delícia!...".
Não há anistia possível.
Em nome de todos os santos: quem inventou esta campanha do "Bar da Boa" continua solto ? Quanto a cervejaria pagou por aquilo ? Pode existir coisa mais chata na face da terra ?
É impressão ou nunca na história deste país tantos anúncios idiotas infestaram as TVs ? "Bar da boa" é caso de intervenção federal. Quem inventou a tal da "Zeca hora" ou "Zeca-feira" deveria pegar dez anos em Guantánamo. E aquele pseudo oficial russo que aparece dançando pateticamente ?
Como diria Jaqueline Kennedy recolhendo os miolos do marido naquele carro em Dallas, "oh, no!".
A palavra mais feia do Brasil é restinga. A segunda é catinga. Por esta razão, jamais moverei uma palha pela salvação da Restinga de Marambaia - que, aliás, não precisa dos préstimos deste bípede. Tudo certo, então.
O abaixo-assinado teve a chance de entrevistar longamente "o repórter que derrubou um presidente" : Carl Bernstein, famoso internacionlmente por ter publicado, em parceria com Bob Woodward, no Washington Post, reportagens investigativas que, no fim das contas, forçaram o presidente americano Richard Nixon a renunciar, em agosto de 1974.
A primeira parte da entrevista vai ao ar neste domingo, às onze da noite, na Globonews, dentro da série "Dossiê História" ( com reprise na segunda-feira às onze e meia da manhã e cinco e meia da tarde).
Informou o Departamento de Chamadas do Sopa de Tamanco.
O abaixo-assinado teve a chance de entrevistar longamente "o repórter que derrubou um presidente" : Carl Bernstein, famoso internacionlmente por ter publicado, em parceria com Bob Woodward, no Washington Post, reportagens investigativas que, no fim das contas, forçaram o presidente americano Richard Nixon a renunciar, em agosto de 1974.
A primeira parte da entrevista vai ao ar neste domingo, às onze da noite, na Globonews, dentro da série "Dossiê História" ( com reprise na segunda-feira às onze e meia da manhã e cinco e meia da tarde).
Informou o Departamento de Chamadas do Sopa de Tamanco.
A revista Flash News estampa na capa: "Luciano Huck Assassinado por Causa de Um Relógio". E logo abaixo: "Isso esteve muito perto de acontecer".
A capa já nasce como um clássico instantâneo do jornalismo. Porque, numa bela sacada, criou o jornalismo "quase".
O avião do presidente enfrenta uma turbulência sobre o Oceano Atlântico. Mas pousa em paz. A manchete pode ser : "Presidente Morre em Desastre Aéreo".
A seleção brasileira manda três boas na trave da Argentina, mas o jogo termina zero a zero. Manchete :"Brasil dá baile na Argentina".
É só botar, em letras menores, no pé da página, a ressalva lançada pela revista Flash :"Isso esteve muito perto de acontecer".
Sem ironia: parabéns ao editor que teve tal sacada.
Quem faz um esforço desses para viabilizar uma notícia entende dez vezes mais de jornalismo do que a multidão de jornalistas-burocratas que passam o dia inteiro, o dia inteiro, o dia inteiro procurando uma justificativa para "derrubar" uma reportagem. Conheço uns cinco mil. Se fosse fazer a lista, preencheria um catálogo telefônico.
Ou seja: são especialistas em jogar no lixo notícias, reportagens e personagens interessantes.
O "jornalismo quase" é mais defensável do que o jornalismo burocrata.
O Sopa já disse e repete : o maior, o mais nocivo, o mais pretensioso, o mais destrutivo, o mais risível, o mais indefensável inimigo do Jornalismo é..... o jornalista! Não existe outro.
Por que eles destróem, consistentemente, o que o jornalismo pode ter de interesse e vivacidade.
Depois, reclamam da debandada do público....
O diagnóstico é facílimo.
Em nome de Nossa Senhora do Perpétuo Espanto: depois desta nova palhaçada ( ou seja: a destituição de dois senadores que se opunham ao circo armado para salvar a pele do "presidente do senado"), por que é que não mandam logo um camburão para lá ?
Se, por escassas vinte e quatro horas, todas as TVs do mundo parassem de ladrar; se todos os jornais e revistas de todas as cidades do planeta sumissem provisoriamente; se todos os blogs de todos os continentes saíssem do ar; se as editoras parassem de despejar a cota diária de lançamentos na livrarias; se todos os sites estancassem de repente; se todo mundo em todos os lugares fizesse um voto de silêncio planetário nem que fosse por um dia; se, enfim, todas estas maravilhas acontecessem diante de nossas retinas descrentes, o Paraíso estaria instalado nesta esfera esvoaçante também conhecida pela alcunha de Terra.
A receita da felicidade terrena é simples assim. Mas inalcançável.
Que prossiga a barulheira, então.
Sou insuspeito para falar. Tenho simpatia pelos dois lados em guerra.
Eu me lembro de que desde os anos setenta lia Fausto Wolff nas páginas do Pasquim. Sempre gostei. Nem faz tanto tempo, fui surpreendido com uma referência super-generosa que o próprio Fausto Wolff fez ao locutor-que-vos-fala numa entrevista em que tratava de jornalismo. Descobri há pouco o formidável talento de Marconi Leal como autor de textos de humor. Não é um gênero nada fácil. Basta ver o resultado catastrófico de textos pretensamente engraçadinhos cometidos por jornalistas ( quem me chamou a atenção para o show de bola de Mr. Leal num recanto da Internet foi o co-tamanqueiro Toni Marques, desbravador atentíssimo dos mares virtuais).
A história toda da publicação de um texto de Marconi Leal numa coluna assinada por Fausto Wolff no Jornal do Brasil parece que chegou a um desfecho nesta quarta-feira. Fausto Wolff fez um pedido de desculpas público, no Caderno B.
Quero ser cem por cento sincero: acho que o pedido de desculpas ficou abaixo do tamanho da presepada cometida.
O pedido de desculpas deveria ter sido mais explícito, mais cristalino, mais indiscutível, mais irrevogável, mais direto, mais estrondoso, mais indubitável. Deveria estar logo na primeira linha do primeiro parágrafo, em negrito, com letras maiúsculas.
É difícil pedir desculpas. É dificílimo aceitar. É um gesto que transita entre ressentimentos, raiva e mágoa. Páro por aqui, para não soar como autor daqueles textos que a gente lê em revistas na sala de espera do dentista, enquanto ouve, ameaçador, o ruído da broca invadindo o esmalte do coitado que nos precedeu no cadafalso.
Justamente porque é tão difícil, o pedido de desculpas precisa ser claríssimo. Como diria Alex, o personagem genial de "A Laranja Mecânica", claro como um lago límpido num dia de verão, Sir.
Sou insuspeito para falar. Tenho simpatia pelos dois lados em guerra.
Eu me lembro de que desde os anos setenta lia Fausto Wolff nas páginas do Pasquim. Sempre gostei. Nem faz tanto tempo, fui surpreendido com uma referência super-generosa que o próprio Fausto Wolff fez ao locutor-que-vos-fala numa entrevista em que tratava de jornalismo. Descobri há pouco o formidável talento de Marconi Leal como autor de textos de humor. Não é um gênero nada fácil. Basta ver o resultado catastrófico de textos pretensamente engraçadinhos cometidos por jornalistas ( quem me chamou a atenção para o show de bola de Mr. Leal num recanto da Internet foi o co-tamanqueiro Toni Marques, desbravador atentíssimo dos mares virtuais).
A história toda da publicação de um texto de Marconi Leal numa coluna assinada por Fausto Wolff no Jornal do Brasil parece que chegou a um desfecho nesta quarta-feira. Fausto Wolff fez um pedido de desculpas público, no Caderno B.
Quero ser cem por cento sincero: acho que o pedido de desculpas ficou abaixo do tamanho da presepada cometida.
O pedido de desculpas deveria ter sido mais explícito, mais cristalino, mais indiscutível, mais irrevogável, mais direto, mais estrondoso, mais indubitável. Deveria estar logo na primeira linha do primeiro parágrafo, em negrito, com letras maiúsculas.
É difícil pedir desculpas. É dificílimo aceitar. É um gesto que transita entre ressentimentos, raiva e mágoa. Páro por aqui, para não soar como autor daqueles textos que a gente lê em revistas na sala de espera do dentista, enquanto ouve, ameaçador, o ruído da broca invadindo o esmalte do coitado que nos precedeu no cadafalso.
Justamente porque é tão difícil, o pedido de desculpas precisa ser claríssimo. Como diria Alex, o personagem genial de "A Laranja Mecânica", claro como um lago límpido num dia de verão, Sir.
Se eu tivesse um mínimo de talento dramatúrgico, um dia faria uma peça pretensamente psicanalítica sobre o Ente Jornalístico.
O que é este Ente ?
É o sujeito que resolve exercer uma profissão que, bem ou mal, desperta no "público externo" uma discreta fascinação : jornalista seria aquele ser bípede que, rendido à formidável riqueza dos fatos e dos personagens, passa a vida tentando descrever da maneira mais atraente possível tudo o que viu e ouviu. Simples assim.
Parece, mas não é não.
Porque o Ente Jornalístico, quando desembarca numa redação, logo se transforma numa terrível MMM: Máquina de Matar Matérias.
Há um caminhão de exceções, claro, mas as redações estão povoadas por este ser estapafúrdio: o Jornalista especializado em matar o Jornalismo.
As mãos desses entes estão sujas do sangue das reportagens que eles trituraram.
Como eu ia dizendo quando fui interrompido por mim mesmo: se eu tivesse um mínimo de talento dramatúrgico, faria uma peça pretensamente psicanalítica sobre o tal Ente.
Mas não. Porque me falta o talento dramatúrgico. E jamais pus minhas patas num consultório de psicanálise.
Desisto da empreitada, a tempo.
Vou fazer algo um milhão de vezes mais útil: tomar uma Coca-Cola com limão e checar se a lua saiu hoje.
UM ADENDO AO POST ANTERIOR ("FURO INTERNACIONAL DO SOPA DE TAMANCO: O DIA EM QUE O REPÓRTER QUE DERRUBOU UM PRESIDENTE AMERICANO TOCOU GUITARRA NUMA MADRUGADA DO RIO DE JANEIRO"): O REPÓRTER CARL BERNSTEIN - AQUELE QUE FUÇOU O ESCÂNDALO DE WATERGATE ATÉ DETONAR O PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS, RICHARD NIXON - TAMBÉM TOCOU "LA BAMBA" , NA MADRUGADA DE ANTEONTEM, AO FIM DE UM JANTAR NUM CASARÃO NA URCA.
EM NOME DA FIDELIDADE AOS FATOS, QUE SEJA FEITO O REGISTRO.
"PARA BAILAR LA BAMBA / SE NECESITA UNA POCA DE GRACIA".
Uma cena inimaginável na noite do Rio de Janeiro: o repórter que derrubou o presidente dos Estados Unidos empunha uma guitarra de madrugada na Urca para tocar rock-and-roll.
Aconteceu agora há pouco, diante de uma reduzidíssima platéia. Quando o concerto improvisado do repórter mais famoso do mundo acabou, há quarenta minutos, o público era formado por exatamente seis espectadores, sentados diante da fera. O abaixo-assinado, enviado especial do Sopa de Tamanco, testemunhou a cena. É ouro puro!
Aos que nasceram ontem :Carl Bernstein é o repórter que, em dupla com Bob Woodward, entrou para a história ao cobrir o Escândalo de Watergate, entre 1972 e 1974. Do fim da história todos se lembram: as reportagens da dupla provaram que o governo Nixon estava envolvido na espionagem de adversários. Depois de negar até o fim o envolvimento do governo no chamado Escândalo de Watergate ( o arrombamento de um escritório do Partido Democrata no Edifício Watergate), o presidente Nixon foi obrigado a renunciar. Nunca na história americana um presidente tinha renunciado.
Ao final de uma recepção oferecida a ele por Ana Maria Tornaghi num casarão na Urca, Carl Bernstein - de passagem pelo Rio depois de fazer uma conferência em São Paulo na Câmara Americana de Comércio - surpreendeu a todos: pegou uma guitarra, cantou e tocou pérolas como "Sweet Little Sixteen", "Love is Strange" ( música gravada por Paul McCartney no começo dos anos setenta), a bela "Goodnight, Irene" ( folclore americano, regravada "n" vezes por feras como Little Richard) ,Bye,Bye Love" ( aquela que diz "Bye bye, happiness /Hello, loneliness /I think I´m gonna cry") e "Blue Sued Shoes".
Bernstein já foi crítico de rock. Tinha vinte anos em 1964. Ou seja: é um legítimo representante da geração que dançou ao som de Elvis Presley. A bem da verdade,diga-se que, como cantor, Bernstein é um excelente repórter. Como instrumentista, dá para o gasto. Se tivesse tentado a carreira nos palcos, estaria hoje tocando num boate do Alabama.
A família é chegada a música: um dos dois filhos de Bernstein é músico numa banda "punk-rock" chamada The Actual.
Quando acabou de tocar, o super-repórter disse ao abaixo-assinado: "Hey, você tem uma matéria!".
Eu já estava ligeiramente constrangido: em São Paulo, tinha seguido os passos de Bernstein durante a conferência na Câmara Americana de Comércio. Acompanhei a entrevista coletiva. Gravei uma longa exclusiva. Tirei fotos. Pedi autógrafo num livro ( não é coisa que entrevistador faça normalmente com entrevistado. Mas, desculpe, Bernstein é meu ídolo profissional há séculos). Aqui no Rio, o assédio se repetia. Não seria hora de parar a "caçada" ? Minha porção chacal me soprou : não!
Um músico que tinha sido convidado para animar a noite no casarão na Urca terminou fazendo dupla com Bernstein. Chama-se Lê Andrade, paulista, 34 anos, há nove radicado no Rio. Quando o improviso dos dois acabou, Andrade estava nas nuvens: "Fazer dupla com ele ! Eu nunca pensei". Assim o músico resumiu a performance de Bernstein: "Que pessoa simples! Que pessoa feliz!".
O locutor-que-vos-fala entrevistou longamente Bernstein em São Paulo (a entrevista irá ao ar nas próximas semanas num programa especial na Globonews. Avisaremos aqui). Ao fim da entrevista, satisfeito com o jogo de perguntas-e-respostas, o generoso Bernstein me fez, diante da câmera, o maior elogio que ouvi na minha vida profissional. Pensei comigo : ok, stranger, agora já posso ir morar num rancho em Santa Maria da Boa Vista.
Em seguida, me pediu meus contatos: telefone, e-mail, celular. Perguntou se eu estaria no Rio nos próximos dias. Eu disse que sim. Pensei que o gesto de Bernstein fosse apenas uma daquelas cortesias que caem no esquecimento cinco minutos depois.
Sorte minha: não foi.
Neste sábado, quando abro o computador, o que é que pisca na tela ? Um e-mail de Carl Bernstein me convidando para um jantar. Dei uma saída. Quando chego em casa, nova surpresa: um recado na secretária eletrônica. Bernstein em pessoa. Por fim, quando pego o celular,outro recado do homem. Dois recados nos telefones, dois e-mails ( ele mandaria outro). O convite já não era um convite: era uma convocação.
Fui. Ganhei outro autógrafo, em que ele chama nossa entrevista de "terrific". Brincalhão, faz uma ressalva : diz que tinha adorado a gravação da entrevista, mas quer ver como é que ela seria editada. Tranquilizo-o: pretendo usar na íntegra, sem cortes, porque em TVs a cabo, como a Globonews, os entrevistados podem falar. Ficou de me passar um endereço, porque queria receber uma cópia da fita, em casa, em Nova York. Prometo, claro, despachar uma cópia em DVD. Juro por Nossa Senhora do Perpétuo Espanto que mandarei.
Próximo assunto: falamos sobre a possível publicação no Brasil da última empreitada jornalística de Bernstein: a biografia de Hilary Clinton. Bernstein gostaria de ver lançado no Brasil o livro que acabou de lançar com fanfarras nos Estados Unidos.
Comento com a fera: uma boa data para o possível lançamento seria em meados do ano que vem, quando a campanha eleitoral americana começar a pegar fogo. O mundo inteiro acompanhará o duelo eleitoral pela sucessão de Bush. Bernstein concorda: junho é uma boa data. Lá pelas tantas, repito que ele nem de longe as "cifras" do mercado editorial brasileiro podem ser comparadas com as do mercado editorial americano. Bernstein concorda. Informa que a biografia como a de Hilary Clinton já sai com uma primeira fornada de 250 mil exemplares. Fiquei de fazer contatos (informais) com uma editora. Não sou agente literário, mas, neste caso, vale a exceção...
O espírito de repórter de Bernstein se manifesta a toda hora : em meio à recepção, ele sai perguntando aos convidados quem é que gosta e quem é que não gosta da Catedral Metropolitana do Rio. Tinha visitado a Catedral. Pelo visto, gostou. Mas ficou impressionado com a quantidade de gente que fala mal do prédio. "Você gosta da Catedral? Você gosta da Catedral", é o que repete. Depois, a cada vez que é apresentado a alguém, repete em voz alta o nome do convidado.
A uma jornalista em início de carreira, Clara Passi, que aproveitou a chance para perguntar qual seria o primeiro conselho que ele daria a um iniciante, Bernstein respondeu: "O repórter precisa saber ouvir!". Depois, aconselhou a ela que visse a entrevista que será mostrada na TV, porque ali ele dá "a explicação completa para esta pergunta".
A mulher de Berstein, uma loura altíssima, que dançou enquanto o marido tirava acordes da guitarra, disse que ele tem mania de fazer perguntas.
Pudera.
"Quando volto do supermercado, ele fica me perguntando o que é que comprei e onde fica a loja", ela diz. Informa que Hilary Clinton não aceitou dar uma entrevista para o livro que o marido estava preparando. "Carl trabalha há oito anos neste projeto. De início, Hilary disse que iria dar uma entrevista. Mas, depois que ela resolveu que iria tentar a candidatura á presidência, desistiu de falar".
Mr Bernstein não ficou a ver navios. A principal personagem do livro desistira da entrevista, mas ele levou adiante o projeto.
Passaram pelo casarão da Urca, "entre outros", o língua ferina Diogo Mainardi (uma boa chance para matar saudades de Paulo Francis), Chico Caruso, Argemiro Ferreira, o editor Geraldo Jordão e Gilberto Braga, no primeiro compromisso pós "Paraíso Tropical" ( um dia o Sopa de Tamanco terminaria publicando uma nota com jeito de coluna social....).
Informou em edição extraordinária o Plantão do Sopa de Tamanco, o primeiro com as últimas.
E você? O que é que acha da Catedral ?
Zap. Uma mesa-redonda na MTV. Instala-se a dúvida: quem morreu ? Leandro ou Leonardo ? Toda vez que, por algum motivo, alguém cita o nome da dupla, a pergunta ressurge.
Sério: é uma das grandes dúvidas brasileiras.
O resto já foi resolvido.