AQUI:
http://www.geneton.com.br/archives/000259.html
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Uma cena inimaginável na noite do Rio de Janeiro: o repórter que derrubou o presidente dos Estados Unidos empunha uma guitarra de madrugada na Urca para tocar rock-and-roll.
Aconteceu agora há pouco, diante de uma reduzidíssima platéia. Quando o concerto improvisado do repórter mais famoso do mundo acabou, há quarenta minutos, o público era formado por exatamente seis espectadores, sentados diante da fera. O abaixo-assinado, enviado especial do Sopa de Tamanco, testemunhou a cena. É ouro puro!
Aos que nasceram ontem :Carl Bernstein é o repórter que, em dupla com Bob Woodward, entrou para a história ao cobrir o Escândalo de Watergate, entre 1972 e 1974. Do fim da história todos se lembram: as reportagens da dupla provaram que o governo Nixon estava envolvido na espionagem de adversários. Depois de negar até o fim o envolvimento do governo no chamado Escândalo de Watergate ( o arrombamento de um escritório do Partido Democrata no Edifício Watergate), o presidente Nixon foi obrigado a renunciar. Nunca na história americana um presidente tinha renunciado.
Ao final de uma recepção oferecida a ele por Ana Maria Tornaghi num casarão na Urca, Carl Bernstein - de passagem pelo Rio depois de fazer uma conferência em São Paulo na Câmara Americana de Comércio - surpreendeu a todos: pegou uma guitarra, cantou e tocou pérolas como "Sweet Little Sixteen", "Love is Strange" ( música gravada por Paul McCartney no começo dos anos setenta), a bela "Goodnight, Irene" ( folclore americano, regravada "n" vezes por feras como Little Richard) ,Bye,Bye Love" ( aquela que diz "Bye bye, happiness /Hello, loneliness /I think I´m gonna cry") e "Blue Sued Shoes".
Bernstein já foi crítico de rock. Tinha vinte anos em 1964. Ou seja: é um legítimo representante da geração que dançou ao som de Elvis Presley. A bem da verdade,diga-se que, como cantor, Bernstein é um excelente repórter. Como instrumentista, dá para o gasto. Se tivesse tentado a carreira nos palcos, estaria hoje tocando num boate do Alabama.
A família é chegada a música: um dos dois filhos de Bernstein é músico numa banda "punk-rock" chamada The Actual.
Quando acabou de tocar, o super-repórter disse ao abaixo-assinado: "Hey, você tem uma matéria!".
Eu já estava ligeiramente constrangido: em São Paulo, tinha seguido os passos de Bernstein durante a conferência na Câmara Americana de Comércio. Acompanhei a entrevista coletiva. Gravei uma longa exclusiva. Tirei fotos. Pedi autógrafo num livro ( não é coisa que entrevistador faça normalmente com entrevistado. Mas, desculpe, Bernstein é meu ídolo profissional há séculos). Aqui no Rio, o assédio se repetia. Não seria hora de parar a "caçada" ? Minha porção chacal me soprou : não!
Um músico que tinha sido convidado para animar a noite no casarão na Urca terminou fazendo dupla com Bernstein. Chama-se Lê Andrade, paulista, 34 anos, há nove radicado no Rio. Quando o improviso dos dois acabou, Andrade estava nas nuvens: "Fazer dupla com ele ! Eu nunca pensei". Assim o músico resumiu a performance de Bernstein: "Que pessoa simples! Que pessoa feliz!".
O locutor-que-vos-fala entrevistou longamente Bernstein em São Paulo (a entrevista irá ao ar nas próximas semanas num programa especial na Globonews. Avisaremos aqui). Ao fim da entrevista, satisfeito com o jogo de perguntas-e-respostas, o generoso Bernstein me fez, diante da câmera, o maior elogio que ouvi na minha vida profissional. Pensei comigo : ok, stranger, agora já posso ir morar num rancho em Santa Maria da Boa Vista.
Em seguida, me pediu meus contatos: telefone, e-mail, celular. Perguntou se eu estaria no Rio nos próximos dias. Eu disse que sim. Pensei que o gesto de Bernstein fosse apenas uma daquelas cortesias que caem no esquecimento cinco minutos depois.
Sorte minha: não foi.
Neste sábado, quando abro o computador, o que é que pisca na tela ? Um e-mail de Carl Bernstein me convidando para um jantar. Dei uma saída. Quando chego em casa, nova surpresa: um recado na secretária eletrônica. Bernstein em pessoa. Por fim, quando pego o celular,outro recado do homem. Dois recados nos telefones, dois e-mails ( ele mandaria outro). O convite já não era um convite: era uma convocação.
Fui. Ganhei outro autógrafo, em que ele chama nossa entrevista de "terrific". Brincalhão, faz uma ressalva : diz que tinha adorado a gravação da entrevista, mas quer ver como é que ela seria editada. Tranquilizo-o: pretendo usar na íntegra, sem cortes, porque em TVs a cabo, como a Globonews, os entrevistados podem falar. Ficou de me passar um endereço, porque queria receber uma cópia da fita, em casa, em Nova York. Prometo, claro, despachar uma cópia em DVD. Juro por Nossa Senhora do Perpétuo Espanto que mandarei.
Próximo assunto: falamos sobre a possível publicação no Brasil da última empreitada jornalística de Bernstein: a biografia de Hilary Clinton. Bernstein gostaria de ver lançado no Brasil o livro que acabou de lançar com fanfarras nos Estados Unidos.
Comento com a fera: uma boa data para o possível lançamento seria em meados do ano que vem, quando a campanha eleitoral americana começar a pegar fogo. O mundo inteiro acompanhará o duelo eleitoral pela sucessão de Bush. Bernstein concorda: junho é uma boa data. Lá pelas tantas, repito que ele nem de longe as "cifras" do mercado editorial brasileiro podem ser comparadas com as do mercado editorial americano. Bernstein concorda. Informa que a biografia como a de Hilary Clinton já sai com uma primeira fornada de 250 mil exemplares. Fiquei de fazer contatos (informais) com uma editora. Não sou agente literário, mas, neste caso, vale a exceção...
O espírito de repórter de Bernstein se manifesta a toda hora : em meio à recepção, ele sai perguntando aos convidados quem é que gosta e quem é que não gosta da Catedral Metropolitana do Rio. Tinha visitado a Catedral. Pelo visto, gostou. Mas ficou impressionado com a quantidade de gente que fala mal do prédio. "Você gosta da Catedral? Você gosta da Catedral", é o que repete. Depois, a cada vez que é apresentado a alguém, repete em voz alta o nome do convidado.
A uma jornalista em início de carreira, Clara Passi, que aproveitou a chance para perguntar qual seria o primeiro conselho que ele daria a um iniciante, Bernstein respondeu: "O repórter precisa saber ouvir!". Depois, aconselhou a ela que visse a entrevista que será mostrada na TV, porque ali ele dá "a explicação completa para esta pergunta".
A mulher de Berstein, uma loura altíssima, que dançou enquanto o marido tirava acordes da guitarra, disse que ele tem mania de fazer perguntas.
Pudera.
"Quando volto do supermercado, ele fica me perguntando o que é que comprei e onde fica a loja", ela diz. Informa que Hilary Clinton não aceitou dar uma entrevista para o livro que o marido estava preparando. "Carl trabalha há oito anos neste projeto. De início, Hilary disse que iria dar uma entrevista. Mas, depois que ela resolveu que iria tentar a candidatura á presidência, desistiu de falar".
Mr Bernstein não ficou a ver navios. A principal personagem do livro desistira da entrevista, mas ele levou adiante o projeto.
Passaram pelo casarão da Urca, "entre outros", o língua ferina Diogo Mainardi (uma boa chance para matar saudades de Paulo Francis), Chico Caruso, Argemiro Ferreira, o editor Geraldo Jordão e Gilberto Braga, no primeiro compromisso pós "Paraíso Tropical" ( um dia o Sopa de Tamanco terminaria publicando uma nota com jeito de coluna social....).
E você? O que é que acha da Catedral ?
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outros textos: www.sopadetamanco.blogspot.com
O verso modernista de Dom Pedro II :"Grande, como é grande a Ilha Grande".
Paulo Francis nota que, na época, o verso foi tido como estúpido, mas "é puro modernismo".
Aqui:
http://soaressilva.wunderblogs.com/archives/023272.html#more
Não é preciso ser um sabichão para perceber que todo governo em nosso querido país sempre sustentou neste binômio:
cobrar muito e com arrocho - e pagar mal e sem pressa.
Joel Silveira, datilografado por GMN
Tive esta semana o privilégio de ouvir um dos meus ídolos profissionais ( meu e da torcida do Flamengo) : Carl Bernstein, o repórter que, em parceria com Bob Woodward, investigou o Escândalo de Watergate. Fazia anos que eu esperava por uma chance de entrevistá-lo.
Aos recém-nascidos: a dupla Bernstein-Woodward provou que o governo do presidente americano Richard Nixon estava envolvido em operações de espionagem de adversários políticos. Tudo começou quando um bando de mercenários arrombou um escritório do Partido Democrata, no Edifício Watergate, em Washington. O caso parecia, à primeira vista, uma mera escaramuça de gatunos sem importância.
Mas a persistência dos dois repórteres - que de início nem foram levados a sério - terminou expondo o fio da meada. Resultado: a crise provocada pelo chamado Escândalo Watergate adquiriu proporções bíblicas. Nunca na história americana um presidente tinha renunciado. Richard Nixon renunciou.
Bernstein e Woodward se transformaram em ídolos. Não era para menos.
Em apenas vinte e quatro meses, a vida dos dois virou de cabeça para baixo. Um perfil de Bernstein publicado nos Estados Unidos resume bem o que aconteceu : em dois anos, ele saltou da condição de "repórter de cidade" para o de super-celebridade. Uma cena ilustra a mudança de status : Dustin Hoffmann passou a frequentar a redação do Washington Post, para observar os trejeitos do repórter. Logo depois, o super-ator encarnou Carl Bernstein no (emocionante) filme "Todos os Homens do Presidente".
Ouvi Carl Bernstein três vezes esta semana em São Paulo - primeiro, numa conferência na Câmara Americana de Comércio; em seguida, numa coletiva; por fim, numa longa entrevista exclusiva.
Lá pelas tantas, ao falar do nível da imprensa, ele perguntou quantos na platéia tinham ouvido falar de Paris Hilton, a patricinha débil mental que virou "celebridade" apenas por ser "celebridade". Nunca fez nada de notável na vida.
A maioria dos ouvintes levantou a mão. É óbvio que a maioria conhecia a idiota.
Bernstein foi irônico: nem havia o que comentar. A imprensa criou um monstro.
Em seguida, o repórter fez uma nova pesquisa informal. Quantos ali na platéia achavam correta a intervenção americana no Iraque ? Somente um Cristo levantou a mão. Berstein acha que a administração Bush é "a mais desastrosa da história americana moderna". Os Estados Unidos vão demorar décadas para se recuperar. O super-repórter diz que o ataque ao Afeganistão pode ter sido um golpe contra o terror. Mas a invasão do Iraque, não. "O Iraque era um estado totalitário. Não era um estado terrorista".
Em breve, detalhes da minha Maratona Bernstein, o ídolo de todo repórter que se preze.
Leio o artigão do famoso literato, penso:
- Que desperdício ! Tanta gramática, tanto pronome bem colocado, todas as vírgulas no lugar certo, e tudo para dizer o quê ? Absolutamente nada.
Leio o artigão do famoso literato, penso:
- Que desperdício ! Tanta gramática, tanto pronome bem colocado, todas as vírgulas no lugar certo, e tudo para dizer o quê ? Absolutamente nada.
É manhã. O mundo funciona. Os pássaros gorjeiam. Os bêbados dormem. Você olha para o céu e pergunta a Nossa Senhora do Perpétuo Espanto: quem foi o animal irracional que concebeu a legislação penal brasileira ?
Somente um verme togado poderia admitir e aplicar uma lei que permite o seguinte: cinco anos depois de torturar o repórter Tim Lopes, o autor da monstruosidade ganha direito à progressão de pena, sai da cadeia para fazer um passeio e, óbvio, não volta.
Tanto o criminoso quanto quem autoriza tal benesse deveriam estar, por uma questão de justiça, no mesmíssimo lugar: apodrecendo no fundo de uma cela por, no mínimo, cinquenta anos.
Em qualquer sociedade minimamente civilizada, assassinos torturadores ( comprovados, julgados e condenados) passariam o resto da vida longe de outros seres humanos, pela simples razão de que são animais intratáveis.
Mas o Brasil, claro, é exceção.
Aqui, neste grande cabaré ensolarado, eles ganham de presente o direito de passear.
Ah, tristes trópicos....
Ivan Lessa:
"Prefeito que não embarga a voz (fanha ou não) e não recolhe lágrimas em meio a discurso nunca poderá ser perfeito"
(aqui :http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/08/070829_ivanlessaebc.shtml)
Jornalista é bicho esquisito. Quem duvidar deve fazer um teste. Sem chamar atenção, aproxime-se de um grupo de jornalistas o mais sorrateiramente possível, para observar um fenômeno curiosíssimo. É fácil identificá-los, pelos ruídos que emitem: latidos, trinados, uivos, rugidos e outros sons menos votados. Apure os ouvidos. Com toda certeza, um jornalista ( provavelmente, um editor) estará dizendo a outro ( provavelmente, um repórter) : "Pode fazer, mas curta ! Trinta linhas, no máximo!". Ou: "Nada além de um minuto e meio!".
Ou seja: cinquenta por cento dos jornalistas que exercem de verdade a profissão nas redações passam noventa por cento do tempo útil proibindo os outros de escrever. Parece que escrever é uma praga. Nenhum assunto seria digno de merecer mais do que um punhado de parágrafos mambembes. Devem achar que todos os leitores sofrem de alfabetofobia ( se a palavra não existe, acaba de ser parida). "Não se estenda !". "O espaço não vai dar!". "Ficou grande!" "Vou ter de cortar!" etc.etc.etc. Os outros cinquenta por cento dos jornalistas passam noventa por cento do tempo implorando por espaço e por tempo.
Parte-se da suposição de que a) ninguém pode escrever; b) ninguém quer ler.
Ah, racinha desgraçada....
Brigar contra o tamanho dos textos - ou o tempo de uma reportagem - passou a ser a ocupação principal desses bípedes esquisitos.
É como se os médicos passassem o dia dizendo uns aos outros: "Vou fazer uma cirurgia, mas tem de ser rápida! Nada de passar dez minutos operando ! "
Ou os engenheiros jogassem fora energia e neurônios discutindo coisas como "vamos fazer a ponte, mas, pelo amor de Deus, nada além de dois metros ! ".
Conclusão: não existe maior inimigo da escrita do que os jornalistas.
Se o Brasil fosse uma democracia, qualquer cidadão com idade superior a cinco anos deveria ter o direito de dar voz de prisão ao primeiro jornalista que aparecesse pela frente.
Eu estaria a esta hora na terceira cela à esquerda da ala norte da Penitenciária Agrícola de Itamaracá.
Quem costumava contar a historinha era Sandro, o filho mais velho do dulcíssimo Álvaro Moreyra:
- Quando fez vestibular, o massagista Jairo, do Botafogo, ao deparar com a questão "Dê um exemplo de dívida flutuante", pensou rápido e respondeu: "Navio hipotecado"
Joel Silveira, datilografado por GMN
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Tive esta semana o privilégio de ouvir um dos meus ídolos profissionais ( meu e da torcida do Flamengo) : Carl Bernstein, o repórter que, em parceria com Bob Woodward, investigou o Escândalo de Watergate. Fazia anos que eu esperava por uma chance de entrevistá-lo.
Aos recém-nascidos: a dupla Bernstein-Woodward provou que o governo do presidente americano Richard Nixon estava envolvido em operações de espionagem de adversários políticos. Tudo começou quando um bando de mercenários arrombou um escritório do Partido Democrata, no Edifício Watergate, em Washington. O caso parecia, à primeira vista, uma mera escaramuça de gatunos sem importância.
Mas a persistência dos dois repórteres - que de início nem foram levados a sério - terminou expondo o fio da meada. Resultado: a crise provocada pelo chamado Escândalo Watergate adquiriu proporções bíblicas. Nunca na história americana um presidente tinha renunciado. Richard Nixon renunciou.
Bernstein e Woodward se transformaram em ídolos. Não era para menos.
Em apenas vinte e quatro meses, a vida dos dois virou de cabeça para baixo. Um perfil de Bernstein publicado nos Estados Unidos resume bem o que aconteceu : em dois anos, ele saltou da condição de "repórter de cidade" para o de super-celebridade. Uma cena ilustra a mudança de status : Dustin Hoffmann passou a frequentar a redação do Washington Post, para observar os trejeitos do repórter. Logo depois, o super-ator encarnou Carl Bernstein no (emocionante) filme "Todos os Homens do Presidente".
Ouvi Carl Bernstein três vezes esta semana em São Paulo - primeiro, numa conferência na Câmara Americana de Comércio; em seguida, numa coletiva; por fim, numa longa entrevista exclusiva.
Lá pelas tantas, ao falar do nível da imprensa, ele perguntou quantos na platéia tinham ouvido falar de Paris Hilton, a patricinha débil mental que virou "celebridade" apenas por ser "celebridade". Nunca fez nada de notável na vida.
A maioria dos ouvintes levantou a mão. É óbvio que a maioria conhecia a idiota.
Bernstein foi irônico: nem havia o que comentar. A imprensa criou um monstro.
Em seguida, o repórter fez uma nova pesquisa informal. Quantos ali na platéia achavam correta a intervenção americana no Iraque ? Somente um Cristo levantou a mão. Berstein acha que a administração Bush é "a mais desastrosa da história americana moderna". Os Estados Unidos vão demorar décadas para se recuperar. O super-repórter diz que o ataque ao Afeganistão pode ter sido um golpe contra o terror. Mas a invasão do Iraque, não. "O Iraque era um estado totalitário. Não era um estado terrorista".
Em breve, detalhes da minha Maratona Bernstein, o ídolo de todo repórter que se preze.
Jornalista: o grande, o irremovível, o intransigente, o impermeável, o indiscutível, o plenipotenciário inimigo da notícia.
Parece uma frase para impressionar leigos,mas é a mais cristalina verdade:
o maior inimigo da notícia é o jornalista, sim!
É este o motivo que leva jornais,revistas e programas de TV a padecerem de chatice congênita.
Há exceções, claro. Mas quem já passou quinze minutos numa redação sabe que "jornalista" tido como eficiente não é aquele que reúne o melhor de suas forças para levar ao público histórias, cenas e personagens interessantes. Não ! Claro que não! "Jornalista" de verdade é aquele que passa vinte e três horas por dia procurando um motivo para NÃO publicar uma história. Vive com uma espingarda imaginária nas mãos, pronto para disparar um petardo que ferirá de morte a primeira história interessante que passar pela frente.
As crianças não acreditarão, mas é exatamente assim que as redações funcionam.
"Jornalista" cria uma escala de valores absurda - que só existe na cabeça de jornalistas - para exterminar reportagens : "não vale", "não é nova", "já saiu em outro jornal", "qual é o gancho ?".
O "jornalista" acha que o leitor ou telespectador é um maníaco que lê todos os jornais, todas as revistas e vê todos os programas. Basta que uma história qualquer - por melhor que seja - saia na página dezoito de um jornal "concorrente". Pronto. Acabou. Deve ser solenemente ignorada. O resultado? A história é abatida a tiros ali, antes de nascer. O leitor ( ou telespectador) fica a ver navios.
Em resumo: o maior pecado do jornalista é fazer jornal ( ou revista ou TV) para jornalista. Não para o leitor ou telespectador. O resultado ? A epidemia de chatice jornalística que se espalha, feito metástase.
Uma reportagem só chega às mãos do leitor - ou aos olhos e ouvidos do telespectador - depois de enfrentar uma terrível, desgastante e patética corrida de obstáculos dentro das redações. Quando, finalmente, chega a público, exibe a aparência de um bicho ferido, maltratado, destroçado pelas garras dos exterminadores de matérias.
Com um atraso de três décadas e meia, faço uma oração para Nossa Senhora do Espanto e constato : não, esta não é minha tribo.
Procuro uma atividade mais útil : que tal - por exemplo - fiscal de animais de grande porte ? ( diz a lenda que existia este cargo na folha de pagamentos de uma prefeitura pernambucana). Ou observador de aviões em trânsito ? Ou, quem sabe, fabricante de bolhas de sabão.
Fiquei de pensar.
Depois de observar durante três décadas e meia os movimentos das mandíbulas dos seres bípedes que povoam as redações, posso declarar em cartório, com firma reconhecida, o seguinte: não há meio termo; só existem dois tipos de jornalistas. Os ruins - que, diante de uma boa história, perguntam : mas por que publicar ? E os bons - que preferem sempre perguntar: e por que não ?
Os primeiros são maioria esmagadora.
Feita esta constatação, fecho a cortina, apago a luz do meu teatro mambembe, caminho por entre poltronas vazias e pego a direção da rua:
é lá que estão as grandes histórias, os grandes personagens, as grandes vitórias e os grandes fracassos que, em tese, deveriam alimentar o jornalismo.
Em tese.
A TV é diversão garantida para todas as idades.
Basta sintonizar a TV Senado transmitindo uma sessão.
Com uma ou outra exceção, circo perde.
O Jornal do Brasil anunciou ontem, em manchete: um militar envolvido na Guerrilha do Araguaia disse que receberá "à bala" algum emissário que queira saber onde foram enterrados os corpos dos guerrilheiros sumidos.
O bicho é brabo.
Sinéad O´Connor deve ser "difícil". Quando rasgou uma foto do Papa João Paulo II num palco, despertou iras. Há três anos, anunciou que iria encerrar a carreira. Fez um pedido numa carta aberta: se alguém a visse na rua, por favor: que não apontasse para ela, não dissesse "hei, lá vai Sinead O´Connor", não pedisse autógrafo, não tirasse fotos. Porque ela queria apenas levar uma vida banal como a de noventa e nove por cento dos outros viventes. Mas parece que ela não aguentou a distância dos palcos. Resolveu voltar aos estúdios. As músicas - surpresa! - trazem um tom de devoção religiosa. Justiça se faça : a moça difícil sabe fazer melodias bonitas. E letras também.
Título (bíblico) da música: "Dark Am I Yet Lovely"
O mímimo mais famoso do mundo morreu. Que a terra lhe seja leve.
Mas é tentador perguntar: pode existir coisa mais chata do que mímica ? A arte da mímica resume-se ao seguinte: um paspalho fica em cima do palco fazendo gestos idiotas com uma expressão invariavelmente abobalhada.
Pergunta-se: se as cordas vocais estão funcionando, por que ele não fala logo, em vez de ficar esperando que a platéia adivinhe o que ele quer dizer ? O pior é que o paspalho ( ou a paspalha) acha que a platéia deve rir de tal cena.
É insuportável.
A mímica emplacaria qualquer lista das coisas mais chatas do Planeta Terra. Mas, justiça se faça, há outros concorrentes de peso.
Cirque du Soleil, por exemplo.
Cruz credo.
Por falar no campeonato mundial de chatices : o Sopa de Tamanco recomenda uma visita ao blog de Nelson Vasconcelos e Mirelle de França, no Globo On Line, onde faz sucesso uma votação democrática para escolher os campeões da chatice musical:
http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/nelson/
A eleição foi deflagrada, indiretamente, por um post do Sopa de Tamanco que perguntava: pode existir na face da terra música mais chata do que "Ne Me Quitte Pas" ?
Pela reação dos blogueiros, pode.
A lista é infinita.
Meio-dia. É hora de cumprir o dever diário: chamar de canalhas os senadores que fizeram aquela palhaçada em Brasília ( e os que, fora do Senado, tentam vergonhosamente justificar a presepada).
"Canalhas!".
Ok. Missão cumprida.
Onze da manhã. O dever de casa precisa ser cumprido também aos sábados, domingos e feriados: pelo menos uma vez por dia, todos devem chamar de canalhas os senadores calhordas que encenaram aquela palhaçada em Brasília. Absolveram o presidente do Senado - que recebia dinheiro de lobista de empreiteira.
Todos numa só voz: canalhas !
Missão cumprida. O sábado já pode seguir.
Uma pergunta fora de época e desimportante lançada pelo Sopa de Tamanco ( "pode existir na face da terra música mais chata que Ne Me Quitte Pas ?") ecoou no Globo on Line, no blog do bravo companheiro Nelson Vasconcelos, frequentador destas plagas tamanqueiras. O Sopa de Tamanco "repercute" de novo na rua Irineu Marinho! Um dia, o Sopa chegará ao New York Times. É uma questão de tempo.
A partir da pergunta sobre a chatice imbatível de Ne Me Quitte Pas, Nelson Vasconcelos convocou os leitores a fazer a Grande Lista da Chatice. Sucesso total ! Tambores rufando ! Cortinas se abrindo. Estão todos convidados a participar da eleição. Vão,mas voltem correndo, porque o Sopa de Tamanco enfrenta uma crise de audiência sem precedentes. Cabeças vão rolar. Uma junta de veterinários já foi convocada para analisar o cérebro dos tamanqueiros.
Eis a primeira lista da chatice musical, feita pelos leitores:
/http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/nelson/
Vai dar uma da tarde. Já chamou de canalhas os senadores que encenaram aquela palhaçada inominável na semana passada ?
Ainda é tempo: canalhas !
Pronto. A tarde já pode começar.
Os praticantes - e professores - de dança de salão continuam soltos ?
O governador do Rio foi ao Vaticano pedir ao Papa paz no Rio.
Já se passaram três dias. E nada de a Guarda Suíça subir o Morro do Alemão.
O Sopa de Tamanco vai esperar até amanhã para ver.
O jornal do dia informa : o governador do Rio disse que pediu ao Papa Bento XVI paz no Rio.
Eis o pedido certo para a pessoa certa!
O Papa pensou,pensou,pensou - e ficou de mandar a Guarda Suíça para o Complexo do Alemão.
Em breve.
Já passa do meio-dia. O Sopa de Tamanco pergunta: o caro leitor já cumpriu o dever cívico ? Já chamou de canalhas e cafajestes inclassificáveis os senadores picaretas que armaram aquela palhaçada vergonhosa na semana passada ?
Se já chamou, tudo bem. Missão cumprida.
O dia pode começar.
O Brasil só será uma democracia plena no dia em que todo e qualquer cidadão maior de doze anos de idade puder dar voz de prisão a jornalistas que provam uma comida, encaram a câmera com olhar lânguido e dizem "hum....que delícia!" ....
Pode existir na face da terra música mais chata do que Ne Me Quitte Pas ?
Pode existir na face da terra música mais chata do que Ne Me Quitte Pas ?
Tempo de serviço deve servir para alguma coisa. Não é possível que seja de todo inútil.
Em meu caso, depois de trinta e cinco (!!) anos de pastagem em redações, tempo de serviço serviu para que eu aprendesse o seguinte:
o maior, o mais nocivo, o mais destrutivo, o mais implacável, o mais intransigente inimigo da notícia é o jornalista.
Aviso aos navegantes: não é "frase de efeito". É a mais cristalina verdade.
Já se disse que o melhor jornal é aquele que vai para a cesta do lixo das redações. Ou seja :o que não é publicado.
Um leigo ficaria boquiaberto se testemunhasse por cinco minutos o que acontece em qualquer redação : exércitos de burocratas, com uma lança afiada em punho, passam o dia caçando a primeira história interessante que aparecer pela frente.
Quando encontram uma pela frente, esfolam a coitada a golpes de lança, socos, pontapés e cuteladas ( quando eu era criança, toda vez que um lutador chamado Verdugo acertava um golpe no adversário, o locutor do Telecatch Montilla gritava : "Cutelada sensacional de Verdugo !". "Cutelada". Eu sabia que um dia iria escrever esta palavra. O grande dia chegou.)
Se o tal locutor ressuscitasse para animar as redações, exclamaria de cinco em cinco minutos :"Cutelada sensacional na notícia !".
É assim que são feitos jornais, revistas e TVs.
Gente que se acha investida de um mandato divino resolve decidir, a cuteladas, o que é que o distinto público deve e quer saber.
"Cutelada sensacional" na profissão!
São quase onze e meia da manhã. Que ninguém se esqueça do dever cívico: pelo menos uma vez por dia, chamar de cafajestes os canalhas do Senado que protagonizaram aquela palhaçada na semana passada.
Canalhas ! Cafajestes !
O dia já pode começar.
Em "O Óbvio Ululante", coletânea recém-lançada das crônicas do imbatível Nélson Rodrigues:
"Duas mãos postas são sempre tocantes, ainda que se reze pelo Vampiro de Dusseldorf".
Já são quase onze da manhã. Que ninguém se esqueça do dever de casa: pelo menos uma vez por dia, é preciso chamar de canalhas os senadores que fizeram aquela palhaçada inominável com o Senado.
Canalhas, canalhas, canalhas. Os que votaram a favor dos trambiques: canalhas. Os que se abstiveram : canalhas.
Dever de casa cumprido. Agora, com atraso, o dia já pode começar.
São quase nove e meia da manhã. Já chamou o Senado de canalha hoje ?
São quase nove e meia da manhã. Já chamou o Senado de canalha hoje ?
Toda a imprensa noticiou: o Bahamas, um cabaré disfarçado de hotel nas proximidades do aeroporto de Congonhas, foi fechado, porque o prédio representaria um risco para os aviões.
Por que não chamam o dono do Bahamas para dar logo uma boa notícia?
Caro empresário, seus problemas acabaram! Há uma solução facílima para o problema: o Bahamas poderia se mudar imediatamente para o prédio do Senado Federal.
Depois da votação desta semana, ninguém, absolutamente ninguém, notaria a diferença.
Nem vai ser preciso botar uma luz vermelha na porta ( se bem que um lobista de empreiteira certamente ofereceria o mimo).
Quando alguém lesse a palavra "Senado Federal", faria, na hora, uma associação de idéias.
Senado. Sinônimo: cabaré. Uma campanha nacional deveria ser lançada em rede nacional de rádio e TV: que o Bahamas se mude para o Senado, já ! É o negócio certo no prédio certo. A crise estaria resolvida. E as empreiteiras teriam um lugar apropriado para divertir seus lobistas.
Carlos Drummond de Andrade não gostava de Nélson Rodrigues.
O motivo da desavença entre os dois monumentos não era exatamente literário. Uma vez, Nelson Rodrigues convidou Drummond a ver uma de suas peças. Ficou esperando pelo elogio público. Mas o elogio não veio, porque Drummond achara de mau gosto uma cena que mostrava um parto no palco. Nélson Rodrigues se vingou: terminou escrevendo uma peça em que uma família degenerada tinha como sobrenome "Drummond". O poeta não passou o recibo da provocação. Permaneceu calado. A história completa da briga de cachorros grandes você lê no "Dossiê Drummond",livro-reportagem que acaba de ser relançado, pela Editora Globo, em edição ampliada - e com um belo projeto gráfico. O "Dossiê" traz, na íntegra, sem qualquer corte, a última grande entrevista de Drummond, gravada pelo abaixo assinado dias antes da morte do poeta, em 1987.
Sopa de Tamanco: o lugar ideal para fazer propaganda em causa própria....
Dinheiro bem gasto :"O Óbvio Ululante/ As Primeiras Confissões", nova coletânea dos textos imortais de Nélson Rodrigues.
Lá pelas tantas, ele diz : "O brasileiro é um ser crispado de solidão"
Um estudante pichou num muro de Paris, em maio de 1968, a seguinte pergunta:
"E se a gente incendiasse a Sorbonne ?"
Pois bem: e se o Senado fosse incendiado ?
O pior, o trágico é que ninguém sentiria falta.
As exceções são conhecidas. Mas aquilo é um bando de canalhas desclassificados.
Se a maioria acha que é ético e legal receber dinheiro vivo de empreiteira, o que será errado, então ?
Canalhas, canalhas, canalhas: a escória da escória. E pior é que vêm para a praça pedir votos dos otários - nós, por supuesto.
Não vale a pena perder tempo com este bando engravatado. Mas, para que o acinte não passe em branco, o Sopa de Tamanco grita para o vento:
Canalhas, canalhas, canalhas.
De novo: canalhas, canalhas, canalhas.
Que tal se todo mundo mandasse para os integrantes da quadrilha (todos sabem quem são) um e-mail com uma palavra só ?
A palavra, claro, seria o sinônimo de Senado: canalha!
O site do Senado deve ter o endereço de cada um dos meliantes. Não passei por lá com medo de sujar o monitor.
Se uma chuva de e-mails desabasse no lupanar brasiliense, pelo menos a caixa postal dos bandidos ficaria cheia.
Não é nada. Mas já seria alguma coisa.
Mãos à obra! Allons, enfants de la patrie!
O mal de Deus é que ele exagera muito quando quer agradar a alguém.
Joel Silveira, datilografado por GMN
Acaba de sair a lista de animais ameaçados de extinção. Aqui:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/09/070912_listaextincao_ba.shtml
Só faltou incluir um bicho: senador com vergonha na cara.
É animal raro.
Os piores canalhas, nesta cachorrada toda encenada pelo Senado, foram os senadores que se abstiveram.
Que grandes, que irrecuperáveis canalhas.
Só são comparáveis aos que votaram a favor da absolvição.
Certa vez, perguntaram a Rômulo Bittencourt, quando ele era presidente da Venezuela:
- Por que nunca houve um golpe militar nos Estados Unidos ?
Ele respondeu:
- Porque lá não existe embaixador americano!
Joel Silveira, datilografado por GMN
Todo memorialista deveria provar na Justiça ser verdadeiro tudo o que disse em suas memórias - antes de publicá-las, é claro.
Joel Silveira, datilografado por GMN
De um copioso romancista pátrio:
- Aprendi muito com Balzac.
Agora só falta provar.
Joel Silveira, datilografado por GMN
Começou a contagem regressiva !
Dentro de quarenta e oito horas, o Senado decidirá se passa ou não a funcionar com uma luz vermelha na fachada, velho código de beira de estrada que quer dizer "cabaré : aqui".
Tudo depende do resultado da tal votação - que, como a maioria das coisas que acontece num cabaré , será secreta.
"A ver".
Vai ser divertido (para não usar outra palavra) acompanhar a votação do Escândalo Renan no Senado. O voto, parece, será secreto. Mas os bravos repórteres políticos certamente apurarão os nomes quem votou a favor das maracutaias do presidente bovino.
A votação servirá para que eleitores - tratados como grandes otários nesta palhaçada vergonhosa - saibam quais são os senadores que acham que um presidente do Senado envolvido até o pescoço em tramóias contábeis deve continuar no cargo, como se nada tivesse acontecido.
O Sopa de Tamanco disse e repete: nunca houve, na história do Congresso, um caso de tão fácil resolução. O presidente do Senado recebeu dinheiro (vivo!) de um lobista de empreiteira ? Recebeu. O caso deveria ter acabado aqui. Em qualquer republiqueta de décima categoria, o próprio presidente do Senado deveria se declarar moralmente impedido de exercer o cargo. Ponto final.
Mas aqui não: o escândalo se arrasta até ultrapassar o limite do suportável. E ainda apareceu um senador que merecia ganhar o diploma de estupidez, desfaçatez e canalhice: disse que as contas apresentadas pelo presidente trambiqueiro eram "consistentes".
O resultado da cachorrada ? O Senado nunca foi tão desmoralizado, tão desprezado, tão ridicularizado, tão aviltado. Nunca despertou tanto nojo, tanto nojo, tanto nojo.
O show da votação será encenado na semana que vem.
É imperdível.
A prova de que não sou um autor popular está no fato de que nunca surpreendi no ônibus alguém lendo um livro meu.
Joel Silveira, datilografado por GMN
Quem escreveu um bom romance, destes que ficam, nem precisa ser intelectual.
Joel Silveira, datilografado por GMN
De volta da cidadezinha onde passou as férias ( e onde também nasceu) , meu amigo comenta:
- Como tem poeta naquelas bandas ! Em cada esquina, em cada boteco, é um enxame deles. O que está em falta lá é a poesia...
Joel Silveira, datilografado por GMN
Discutir com Bach ou Beethoven é tolice.
Eles têm sempre razão.
Joel Silveira, datilografado por GMN
Dizei, Nossa Senhora do Perpétuo Espanto, que força estranha é esta que leva canalhas engravatados a fazer declarações públicas a favor das tramóias escandalosamente imorais do presidente do Senado ? Nunca existiu, na história das maracutaias legislativas, um caso tão simples de resolver.
É o que o Sopa de Tamanco vem dizendo desde o início. Bastaria perguntar: o presidente do Senado recebeu dinheiro de um lobista de empreiteira ? Recebeu. Pronto. Caso resolvido. Não há o que discutir. Se tivesse um mililitro de vergonha circulando na corrente sanguínea, o senador que embolsou dinheiro da empreiteira se declararia moralmente impedido de exercer o cargo. Ponto final. Mas aqui,nesta republiqueta, não: o trambiqueiro vai à tribuna para falar de "pátria, verdade e liberdade".
Vão se passar cem anos até que o Senado se livre da imagem de prostíbulo de décima-oitava categoria.
E pensar que o Senado era visto com reverência....
O circo parece armado. Agora, só falta saber com quantos canalhas se tentar construir uma absolvição.
Vai ser divertido fazer a contagem.
Valei-nos, Nossa Senhora do Perpétuo Espanto.
Dizia o velho revisor do semanário:
- Na vida de cada um de nós, ou há vírgulas de mais ou vírgulas de menos.
E me encarando:
- Entende o que quero dizer ?
Nunca entendi, mas desconfio que ele tinha razão.
Joel Silveira, datilografado por GMN
Passo os olhos nas prateleiras de um sebo. Descubro um livro intitulado "Por que sou um "Gângster" da Imprensa". Autor: Fredy Daltro. Ano: 1959.
Títulos de capítulos: "Luzes,pernas,palco e pouca vergonha". "Avalancha de adultérios invade o cenário artístico". E assim por diante.
A quarta capa traz os dizeres: "Dinheiro. A carne humana. A morte. As três forças do mundo".
Eis uma atitude que deveria ser seguida, por exemplo, por senadores bovinos. Por que não imitam o jornalista gângster ? Por que, num rasgo de autocrítica, não publicam logo um livro chamado "Por que Sou um Gangster do Senado" ?
Um dia, daqui a anos, um visitante acidental de um sebo manuseará o livro, soltará um discreto riso de escárnio e pensará com seus botões: "Ah, como é bela a autocrítica...."
Do blogueiro Ruy Goiaba:
"Trabalhando em redação, nunca entendi como as crianças-de-escola que vêm visitar os jornais não são, por força de lei, acompanhadas por um monitor de zoológico que avise coisas como "cuidado, aquele ali morde!". Mas aguardo para breve as plaquinhas "não dê comida aos jornalistas".
(aqui: http://puragoiaba.apostos.com/)
Do blogueiro Ruy Goiaba:
"Trabalhando em redação, nunca entendi como as crianças-de-escola que vêm visitar os jornais não são, por força de lei, acompanhadas por um monitor de zoológico que avise coisas como "cuidado, aquele ali morde!". Mas aguardo para breve as plaquinhas "não dê comida aos jornalistas".
(aqui: http://puragoiaba.apostos.com/)
Já disse e volto a insistir: toda mulher de presidente da República, aqui ou em qualquer outra parte do mundo, devia ter pernas grossas. É inabalável convicção minha, fruto de anos e anos de demoradas e, por vezes, insones reflexões.
Joel Silveira, datilografado por GMN
O escritor Cristovao Tezza, 55 anos, romancista, ex-relojoeiro (!), catarinense radicado em Curitiba, professor da Universidade Federal do Paraná, acaba de cometer uma façanha e criar um problema para a literatura brasileira.
A façanha : recém-lançado, "O Filho Eterno" já desponta como favoritíssimo ao título de melhor do ano. O problema : "O Filho Eterno" foi publicado pela Editora Record na categoria de "romance brasileiro", mas é um texto escancaradamente autobiográfico.
Tezza descreve, sem jamais cair no melodrama ou na pieguice, um acontecimento que o fez se sentir como se fosse um boi cabeceando inutilmente contra as paredes do corredor de um matadouro: o dia em que recebeu a notícia de que o primeiro filho, tão esperado, tinha Síndrome de Down.
Não é exagero carimbar "O Filho Eterno" desde já como o lançamento do ano. O site de literatura Todoprosa, mantido por Sérgio Rodrigues, também concedeu este título antecipado do livro. Ainda é agosto. Mas, pelo menos na categoria de "romance brasileiro", a disputa pelo campeonato de melhor do ano parece resolvida. Que se apresentem os outros candidatos.
Pergunte-se a um leitor médio, aquele que desembarca na livraria simplesmente em busca de uma bela descoberta : o que é que define uma boa leitura ? Nove entre dez dirão que boa leitura é aquela capaz de prender a atenção. Que outra coisa pode querer um autor ? E excelente leitura é aquela que arrebata. É o caso de "O Filho Eterno". Tezza acaba de criar o Expresso 222 da literatura. As 222 páginas de O Filho Eterno voam, arrebatadoras, como se fossem vinte.
Referir-se a si próprio na terceira pessoa virou sinônimo de vaidade desde que Pelé - e outras celebridades menos votadas - cairam nessa tentação. O autor de "O Filho Eterno" se enquadra na categoria dos que falam de si próprios na terceira pessoa por outro motivo: o excesso de pudor na hora de subir à ribalta para se expor aos olhos do público. É compreensível. O fato de a narração ser feita na terceira pessoa é, provavelmente, o único detalhe que impede "O Filho Eterno" de se enquadrar na categoria de autobiografia.
Resta o "problema" literário criado por "O Filho Eterno" : a partir de que momento uma narrativa amparada em fatos deixa de ser uma autobiografia para se transformar em "romance" ? É tudo uma questão de primeira ou terceira pessoa ? Estudantes de Letras, se é que existem, mãos á obra!
"O Filho Eterno" poderia também ser qualificada como uma peça do chamado "novo jornalismo", uma reportagem irretocável, merecedora de todo aplauso numa época em que texto jornalístico, golpeado pelos "idiotas da objetividade", cabeceia, também ele, como se fosse um boi no corredor de um matadouro. O livro não deixa de ser uma bela reportagem autobiográfica de um pai que toma para si uma tarefa dificílima : a de narrar uma dor inenarrável ou, para usar uma palavra que é cara ao autor, "irredimível".
A certa altura do texto, Tezza confessa ser um daqueles autores que, em nome da devoção incondicional à literatura, são capazes de engolir durante anos a fio recusas de editoras e eventuais fracassos de venda. Ainda assim, vão adiante, porque crêem que o que conta é o embate original com as folhas de papel em branco (ou com a tela alva do computador) : neste cenário íntimo, pessoal e intransferível, os Cristovao Tezza entregam-se à acidentada tarefa de tentar traduzir a vida em palavras, "dar nome às coisas". Todo o resto é acidente, vaidade, desvio, perda de tempo, mera consequência.
"Os escritores brasileiros somos pequenos ladrões de sardinha, Brás Cubas inúteis", diz, a certa altura do livro. Imagina-se, lá pelas tantas, autor de livros que ninguém lerá - e pai de um filho que não poderia amar. Mas persiste, porque, para ele, escrever é uma escolha radical, uma predestinação que não depende de coisas tão pequenas quanto os humores das editoras ou as leis de mercado.
Quem termina a travessia arrebatadora das 222 páginas de "O Filho Eterno" haverá de sentir um alívio e uma alegria. O leitor concluirá que, feitas as contas, o poeta Drummond tinha toda razão ao dizer que nossa existência é "um sistema de erros", "um vácuo atormentado", "um teatro de injustiças e ferocidades" , mas, no caso de Cristovao Tezza, tanta dor, tanto tormento, tanto espanto, tanto vácuo, tanto remorso, tanta incredulidade, tudo, enfim, foi recompensado com uma bela contrapartida, o melhor prêmio que um escritor poderia esperar : concebeu um livro que todos deveriam ler sobre um personagem que todos haverão de amar. Chama-se Felipe.
É este o nome do filho eterno.
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Trechos de "O Filho Eterno" , em que o pai recebe a notícia de que o filho tinha sido diagnosticado como portador da Síndrome de Down:
"Em um átimo de segundo, em meio à maior vertigem de sua existência, a rigor a única que ele não teve tempo ( e durante a vida inteira não terá) de domesticar numa representação literária, apreendeu a intensidade da expressão "para sempre" - a idéia de que algumas coisas são de fato irremediáveis, o sentimento absoluto, mas óbvio, de que o tempo não tem retorno, algo que ele sempre se recusava a aceitar. Tudo pode ser recomeçado, mas agora não: tudo pode ser refeito, mas isso não ; tudo pode voltar ao nada e se refazer, mas agora tudo é de uma solidez granítica e intransponível : o último limite, o da inocência, estava ultrapassado; a infância teimosamente retardada terminava aqui, sentindo a falta de sangue na alma, recuando aos empurrões, sem mais ouvir aquela lengalenga imbecil dos médicos".
"Ele recusava-se a ir adiante na linha do tempo; lutava por permanecer no segundo anterior à revelação, como um boi cabeceando no espaço estreito da fila do matadouro; recusava-se mesmo a olhar para a cama, onde todos se concentravam num silêncio bruto, o pasmo de uma maldição inesperada. Isso é pior do que qualquer coisa, ele concluiu- nem a morte teria esse poder de me destruir. A morte são sete dias de luto, e a vida continua. Agora, não. Isso não terá fim. Recuou dois, três passos, até esbarrar no sofá vermelho e olhar para a janela, para o outro lado, para cima, negando-se, bovino, a ver e a ouvir".
"Pai e mãe são tomados pelo silêncio. É preciso esperar para que a pedra pouse vagarosamente no fundo do lago, enterrando-se mais e mais na areia úmida, no limo e no limbo, é preciso sentir a consistência daquele peso irremovível para todo o sempre, preso na alma, antes de dizer alguma coisa. Monossílabos cabeceantes, teimosos - os olhos não se se tocam".
"Se eu escrever um livro sobre ele, ou para ele, o pai pensa, ele jamais conseguirá lê-lo"
"Eu não posso ser destruído pela literatura; eu também não posso ser destruído pelo meu filho - eu tenho um limite : fazer, bem-feito, o que posso e sei fazer, na minha medida. Sem pensar, pega a criança no colo, que se larga saborosamente sobre o pai, abraçando-lhe o pescoço, e assim sobem as escadas até a porta de casa"
"Durante todos esses anos sentiu o peso ridículo de ser escritor, alguém que publica livros aos quais não há resposta, livros que ninguém lê ; e resistiu bravamente, e pelo menos nisso teve sucesso, ao consolo confortável, à coceira na língua, quase sempre calhorda, de despejar no mundo as culpas da própria escolha"
O escritor Cristovao Tezza, 55 anos, romancista, ex-relojoeiro (!), catarinense radicado em Curitiba, professor da Universidade Federal do Paraná, acaba de cometer uma façanha e criar um problema para a literatura brasileira.
A façanha : recém-lançado, "O Filho Eterno" já desponta como favoritíssimo ao título de melhor do ano. O problema : "O Filho Eterno" foi publicado pela Editora Record na categoria de "romance brasileiro", mas é um texto escancaradamente autobiográfico.
Tezza descreve, sem jamais cair no melodrama ou na pieguice, um acontecimento que o fez se sentir como se fosse um boi cabeceando inutilmente contra as paredes do corredor de um matadouro: o dia em que recebeu a notícia de que o primeiro filho, tão esperado, tinha Síndrome de Down.
Não é exagero carimbar "O Filho Eterno" desde já como o lançamento do ano. O site de literatura Todoprosa, mantido por Sérgio Rodrigues, também concedeu este título antecipado do livro. Ainda é agosto. Mas, pelo menos na categoria de "romance brasileiro", a disputa pelo campeonato de melhor do ano parece resolvida. Que se apresentem os outros candidatos.
Pergunte-se a um leitor médio, aquele que desembarca na livraria simplesmente em busca de uma bela descoberta : o que é que define uma boa leitura ? Nove entre dez dirão que boa leitura é aquela capaz de prender a atenção. Que outra coisa pode querer um autor ? E excelente leitura é aquela que arrebata. É o caso de "O Filho Eterno". Tezza acaba de criar o Expresso 222 da literatura. As 222 páginas de O Filho Eterno voam, arrebatadoras, como se fossem vinte.
Referir-se a si próprio na terceira pessoa virou sinônimo de vaidade desde que Pelé - e outras celebridades menos votadas - cairam nessa tentação. O autor de "O Filho Eterno" se enquadra na categoria dos que falam de si próprios na terceira pessoa por outro motivo: o excesso de pudor na hora de subir à ribalta para se expor aos olhos do público. É compreensível. O fato de a narração ser feita na terceira pessoa é, provavelmente, o único detalhe que impede "O Filho Eterno" de se enquadrar na categoria de autobiografia.
Resta o "problema" literário criado por "O Filho Eterno" : a partir de que momento uma narrativa amparada em fatos deixa de ser uma autobiografia para se transformar em "romance" ? É tudo uma questão de primeira ou terceira pessoa ? Estudantes de Letras, se é que existem, mãos á obra!
"O Filho Eterno" poderia também ser qualificada como uma peça do chamado "novo jornalismo", uma reportagem irretocável, merecedora de todo aplauso numa época em que texto jornalístico, golpeado pelos "idiotas da objetividade", cabeceia, também ele, como se fosse um boi no corredor de um matadouro. O livro não deixa de ser uma bela reportagem autobiográfica de um pai que toma para si uma tarefa dificílima : a de narrar uma dor inenarrável ou, para usar uma palavra que é cara ao autor, "irredimível".
A certa altura do texto, Tezza confessa ser um daqueles autores que, em nome da devoção incondicional à literatura, são capazes de engolir durante anos a fio recusas de editoras e eventuais fracassos de venda. Ainda assim, vão adiante, porque crêem que o que conta é o embate original com as folhas de papel em branco (ou com a tela alva do computador) : neste cenário íntimo, pessoal e intransferível, os Cristovao Tezza entregam-se à acidentada tarefa de tentar traduzir a vida em palavras, "dar nome às coisas". Todo o resto é acidente, vaidade, desvio, perda de tempo, mera consequência.
"Os escritores brasileiros somos pequenos ladrões de sardinha, Brás Cubas inúteis", diz, a certa altura do livro. Imagina-se, lá pelas tantas, autor de livros que ninguém lerá - e pai de um filho que não poderia amar. Mas persiste, porque, para ele, escrever é uma escolha radical, uma predestinação que não depende de coisas tão pequenas quanto os humores das editoras ou as leis de mercado.
Quem termina a travessia arrebatadora das 222 páginas de "O Filho Eterno" haverá de sentir um alívio e uma alegria. O leitor concluirá que, feitas as contas, o poeta Drummond tinha toda razão ao dizer que nossa existência é "um sistema de erros", "um vácuo atormentado", "um teatro de injustiças e ferocidades" , mas, no caso de Cristovao Tezza, tanta dor, tanto tormento, tanto espanto, tanto vácuo, tanto remorso, tanta incredulidade, tudo, enfim, foi recompensado com uma bela contrapartida, o melhor prêmio que um escritor poderia esperar : concebeu um livro que todos deveriam ler sobre um personagem que todos haverão de amar. Chama-se Felipe.
É este o nome do filho eterno.
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Trechos de "O Filho Eterno" , em que o pai recebe a notícia de que o filho tinha sido diagnosticado como portador da Síndrome de Down:
"Em um átimo de segundo, em meio à maior vertigem de sua existência, a rigor a única que ele não teve tempo ( e durante a vida inteira não terá) de domesticar numa representação literária, apreendeu a intensidade da expressão "para sempre" - a idéia de que algumas coisas são de fato irremediáveis, o sentimento absoluto, mas óbvio, de que o tempo não tem retorno, algo que ele sempre se recusava a aceitar. Tudo pode ser recomeçado, mas agora não: tudo pode ser refeito, mas isso não ; tudo pode voltar ao nada e se refazer, mas agora tudo é de uma solidez granítica e intransponível : o último limite, o da inocência, estava ultrapassado; a infância teimosamente retardada terminava aqui, sentindo a falta de sangue na alma, recuando aos empurrões, sem mais ouvir aquela lengalenga imbecil dos médicos".
"Ele recusava-se a ir adiante na linha do tempo; lutava por permanecer no segundo anterior à revelação, como um boi cabeceando no espaço estreito da fila do matadouro; recusava-se mesmo a olhar para a cama, onde todos se concentravam num silêncio bruto, o pasmo de uma maldição inesperada. Isso é pior do que qualquer coisa, ele concluiu- nem a morte teria esse poder de me destruir. A morte são sete dias de luto, e a vida continua. Agora, não. Isso não terá fim. Recuou dois, três passos, até esbarrar no sofá vermelho e olhar para a janela, para o outro lado, para cima, negando-se, bovino, a ver e a ouvir".
"Pai e mãe são tomados pelo silêncio. É preciso esperar para que a pedra pouse vagarosamente no fundo do lago, enterrando-se mais e mais na areia úmida, no limo e no limbo, é preciso sentir a consistência daquele peso irremovível para todo o sempre, preso na alma, antes de dizer alguma coisa. Monossílabos cabeceantes, teimosos - os olhos não se se tocam".
"Se eu escrever um livro sobre ele, ou para ele, o pai pensa, ele jamais conseguirá lê-lo"
"Eu não posso ser destruído pela literatura; eu também não posso ser destruído pelo meu filho - eu tenho um limite : fazer, bem-feito, o que posso e sei fazer, na minha medida. Sem pensar, pega a criança no colo, que se larga saborosamente sobre o pai, abraçando-lhe o pescoço, e assim sobem as escadas até a porta de casa"
"Durante todos esses anos sentiu o peso ridículo de ser escritor, alguém que publica livros aos quais não há resposta, livros que ninguém lê ; e resistiu bravamente, e pelo menos nisso teve sucesso, ao consolo confortável, à coceira na língua, quase sempre calhorda, de despejar no mundo as culpas da própria escolha"
(*) resenha publicada na edição de setembro da revista Continente Multicultural ( http://www.continentemulticultural.com.br/)
Parece uma foto. É uma pintura hiper-realista de um artista iraniano. Nome: Imam Maleki. O blog de Ricardo Noblat deu a dica. O Sopa de Tamanco repete. As pinturas de Maleki são comparadas a fotos de alta definição. Prato cheio para aqueles discussões estéreis sobre se este tipo de pintura é grande arte ou não.
São bonitas. Em última instância,é só o que interessa, na arte: a beleza.
(aqui, o link para Teerã: http://www.imanmaleki.com/en/Posters/)
Faz tempo que não aparece no Brasil uma música tão bonita quanto "O Ciúme".
A letra:
"Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia
Tudo esbarra embriagado de seu lume
Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia
Só vigia um ponto negro: o meu ciúme
O ciúme lançou sua flecha preta e se viu ferido justo na garganta
Quem nem alegre, nem triste, nem poeta
Entre Petrolina e Juazeiro canta
Velho Chico, vens de Minas
De onde o oculto do mistério se escondeu
Sei que o levas todo em ti
Não me ensinas
E eu sou só eu só eu só eu
Juazeiro, nem te lembras dessa tarde
Petrolina, nem chegaste a perceber
Mas na voz que canta tudo ainda arde
Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê?
Tanta gente canta
Tanta gente cala
Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira monstruosa
a sombra do ciúme"
De Londres, Ivan Lessa:
``O blogue é, em sua essência, um ato de generosidade. Não se está ganhando dinheiro quando se denuncia o verdureiro da esquina cobrando mais caro pelo jiló ou se critica a política externa do Irã ou dos Estados Unidos``
(aqui http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/08/070831_ivanlessablogueiros.shtml)
Não vale a pena gastar verbos, advérbios, substantivos e adjetivos, por piores que sejam, com a porcalhada política atualmente em andamento em pocilgas como o Senado Federal, lugar que já foi de respeito. É como desperdiçar energia num filmeco de terror de décima-oitava categoria.
Mas, para não dizer que o Sopa de Tamanco não falou de lamas, que fiquem registradas duas cenas daquelas que, nos tempos do Pasquim, provocariam uma atuação de gala de Gastão, o Vomitador.
Primeira: a TV a cabo mostra,na íntegra, a atuação do advogado encarregado de justificar o injustificável: as tramóias do presidente do Senado. É engraçadíssimo (para não usar a palavra exata : patético) como advogados de crápulas acham que, se cometerem gestos dramáticos, pausas grandiloquentes e frases pretensamente "inspiradas", conseguirão impressionar os incautos. A cena se repete todo dia em qualquer tribunal de júri de qualquer cidadezinha do interior: é um espetáculo de vigésima categoria. Vomitivo. Ridículo. Desprezível.
O caso do trambiqueiro senatorial poderia ser resolvido em uma frase: o presidente do Senado recebeu dinheiro de um lobista de empreiteira para custear gastos pessoais ? Recebeu. Ponto final. Em qualquer republiqueta, presidente de Senado que age assim deveria se declarar moralmente impedido de exercer o cargo. Mas aqui o trambiqueiro vai à tribuna falar de pátria, liberdade e verdade. E um advogado que deveria estar fazendo figuração num teatro de presidiários vai ao Senado para tentar enganar os otários - nós, por supuesto. "Uma lástima !", diria o meu velho professor dos tempos do ginásio.
Segunda cena: o ex-presidente da Câmara, como se sabe, recebeu dinheiro do esquema do mensalão. Imagens do circuito interno de um shopping de Brasília flagraram a mulher do artista se dirigindo à boca do caixa. Primeiro, ele disse que o dinheiro era pagar pagar uma despesa com Tv a cabo. Terminou metendo os pés pelas mãos. Ficou comprovada a tramóia.
O que é que o trambiqueiro diz em declaração reproduzida pelo Globo deste sábado, na página quatro ?
- Espero que este calvário termine rápido. Vocês não sabem como é pesado.
Eu li e reli dez vezes. O picareta leva dinheiro num formidável esquema de corrupção. É flagrado. Dá explicações patéticas. E ressurge para dizer que é vítima de um "calvário" pesado.
Que grande, que incomensurável, que irrecuperável, que descaradíssimo, que vomitivo, que estupidíssimo, que inqualificável canalha !
Você e o Sopa acabaram de cometer a boa ação do dia: gastar dois minutos de indignação com os crápulas.
Agora, é limpar o vômito do chão, acender uma vela para Nossa Senhora do Perpétuo Espanto e encarar o sábado azul.
Qualquer animal bípede semi-alfabetizado sabe que o Direito não é ciência exata. A aplicação da lei depende de interpretação.
Uma coisa é certa: o juiz - ou seja lá quem tenha sido a autoridade - que concedeu ao torturador de Tim Lopes a possibilidade de ir para casa, graças ao regime de "progressão de pena", é também um criminoso.
Não há outra palavra para definir tamanha estupidez.
Aconteceu o óbvio: o torturador assassino aproveitou a chance, foi para casa - e não voltou.
A Justiça, quando quer, sabe ser canalha.
Parece até que fez curso no Senado.
Qualquer animal bípede semi-alfabetizado sabe que o Direito não é ciência exata. A aplicação da lei depende de interpretação.
Uma coisa é certa: o juiz - ou seja lá quem tenha sido a autoridade - que concedeu ao torturador de Tim Lopes a possibilidade de ir para casa, graças ao regime de "progressão de pena", é também um criminoso.
Não há outra palavra para definir tamanha estupidez.
Aconteceu o óbvio: o torturador assassino aproveitou a chance, foi para casa - e não voltou.
A Justiça, quando quer, sabe ser canalha.
Parece até que fez curso no Senado.