agosto 31, 2007

A CASA DA VERGONHA

O senador Jarbas Vasconcelos declara que o Senado Federal virou uma bagunça.

Justiça se faça: apoiado !

Posted by geneton at 10:49 AM

SENADO: O DICIONÁRIO ERROU

Quero meu dinheiro de volta! Depois de ler os discursos de "defesa" do presidente do Senado para justificar as injustificáveis maracutaias que praticou, resolvi consultar o dicionário. Minha intenção era saber se o dicionário dizia ou não que em qualquer republiqueta um presidente de Senado que recebe dinheiro vivo de lobista de empreiteira deveria se declarar, sem maiores discussões, moralmente impedido de exercer o cargo.

Descobri que meu exemplar do Dicionário Aurélio traz, na página 1568, no verbete Senado, a seguinte definição "câmara alta, nos países onde existem duas assembléias legislativas". Deve ter havido algum engano. Porque a definição correta foi publicada na página 1405 , no verbete prostíbulo: "bordel, covil,harém, lupanar, serralho". E agora ? O que é que faço com o dicionário ? Como confiar nas outras definições ?

Posted by geneton at 10:48 AM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

A prova da imensidão do Brasil está no fato de nele caberem, ao mesmo tempo, embora um roçando no outro, os imensuráveis egos dos senhores Fernando Henrique Cardoso, Paulo Maluf, Pelé e João Havelange.

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 10:45 AM

agosto 30, 2007

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2

De todos os lixos conhecidos, é o da História o que mais fede.

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 10:49 AM

agosto 29, 2007

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2

Leio o artigão do famoso literato, penso:

- Que desperdício ! Tanta gramática, tanto pronome bem colocado, todas as vírgulas no lugar certo, e tudo para dizer o quê ? Absolutamente nada.

Posted by geneton at 10:57 AM

SOBRE ANIMAIS IRRACIONAIS

É manhã. O mundo funciona. Os pássaros gorjeiam. Os bêbados dormem. Você olha para o céu e pergunta a Nossa Senhora do Perpétuo Espanto: quem foi o animal irracional que concebeu a legislação penal brasileira ?

Somente um verme togado poderia admitir e aplicar uma lei que permite o seguinte: cinco anos depois de torturar o repórter Tim Lopes, o autor da monstruosidade ganha direito à progressão de pena, sai da cadeia para fazer um passeio e, óbvio, não volta.

Tanto o criminoso quanto quem autoriza tal benesse deveriam estar, por uma questão de justiça, no mesmíssimo lugar: apodrecendo no fundo de uma cela por, no mínimo, cinquenta anos.

Em qualquer sociedade minimamente civilizada, assassinos torturadores ( comprovados, julgados e condenados) passariam o resto da vida longe de outros seres humanos, pela simples razão de que são animais intratáveis.

Mas o Brasil, claro, é exceção.

Aqui, neste grande cabaré ensolarado, eles ganham de presente o direito de passear.

Ah, tristes trópicos....

Posted by geneton at 10:57 AM

A PELEJA DOS JORNALISTAS CONTRA OS TEXTOS: AH, RAÇA ESQUISITA....

Jornalista é bicho esquisito. Quem duvidar deve fazer um teste. Sem chamar atenção, aproxime-se de um grupo de jornalistas o mais sorrateiramente possível, para observar um fenômeno curiosíssimo. É fácil identificá-los, pelos ruídos que emitem: latidos, trinados, uivos, rugidos e outros sons menos votados. Apure os ouvidos. Com toda certeza, um jornalista ( provavelmente, um editor) estará dizendo a outro ( provavelmente, um repórter) : "Pode fazer, mas curta ! Trinta linhas, no máximo!". Ou: "Nada além de um minuto e meio!".

Ou seja: cinquenta por cento dos jornalistas que exercem de verdade a profissão nas redações passam noventa por cento do tempo útil proibindo os outros de escrever. Parece que escrever é uma praga. Nenhum assunto seria digno de merecer mais do que um punhado de parágrafos mambembes. Devem achar que todos os leitores sofrem de alfabetofobia ( se a palavra não existe, acaba de ser parida). "Não se estenda !". "O espaço não vai dar!". "Ficou grande!" "Vou ter de cortar!" etc.etc.etc. Os outros cinquenta por cento dos jornalistas passam noventa por cento do tempo implorando por espaço e por tempo.

Parte-se da suposição de que a) ninguém pode escrever; b) ninguém quer ler.

Ah, racinha desgraçada....

Brigar contra o tamanho dos textos - ou o tempo de uma reportagem - passou a ser a ocupação principal desses bípedes esquisitos.

É como se os médicos passassem o dia dizendo uns aos outros: "Vou fazer uma cirurgia, mas tem de ser rápida! Nada de passar dez minutos operando ! "

Ou os engenheiros jogassem fora energia e neurônios discutindo coisas como "vamos fazer a ponte, mas, pelo amor de Deus, nada além de dois metros ! ".

Conclusão: não existe maior inimigo da escrita do que os jornalistas.
Se o Brasil fosse uma democracia, qualquer cidadão com idade superior a cinco anos deveria ter o direito de dar voz de prisão ao primeiro jornalista que aparecesse pela frente.

Eu estaria a esta hora na terceira cela à esquerda da ala norte da Penitenciária Agrícola de Itamaracá.

Posted by geneton at 10:57 AM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Quem costumava contar a historinha era Sandro, o filho mais velho do dulcíssimo Álvaro Moreyra:

- Quando fez vestibular, o massagista Jairo, do Botafogo, ao deparar com a questão "Dê um exemplo de dívida flutuante", pensou rápido e respondeu: "Navio hipotecado"


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 10:00 AM

agosto 28, 2007

UMA ENTREVISTA IMPROVÁVEL: UM ENCONTRO COM UMA ESCRITORA CHAMADA ROSA

http://www.geneton.com.br/archives/000253.html

Posted by geneton2 at 04:16 PM

PERGUNTA FEITA AOS CÉUS

Os mímicos continuam soltos ?

Posted by geneton at 11:03 AM

PERGUNTA FEITA AOS CÉUS

A menina que roubava livros continua solta ?

Posted by geneton at 11:02 AM

O ELENCO DE NOSSA BELA CATÁSTROFE DIÁRIA

O "carnaval de Notting Hill Gate", em Londres, deve atrair dois milhões de desocupados.
Já fui ver, por mera falta do que fazer. Se aquilo é carnaval, meu nome é Paul Newman. Pleased to meet you.

É chatíssimo. Pior do que musical em teatro (aqueles espetáculos em que atores se esgoelam ridiculamente para dizer berrando o que poderia ser falado), shows de jazz (aqueles em que bateristas fazem durante quarenta e cinco minutos malabarismos improvisados com as baquetas, com olhar catatônico e boca invariavelmente entreaberta), criança atuando em novela, subcelebridade pontificando sobre a rotina da vida de mãe , performances de mímicos, anúncios supostamente engraçadinhos, publicitários que se julgam gênios, jornalistas que se acham deuseus - enfim, todas estas cenas e personagens risíveis que, reunidos num palco imaginário, formam o elenco coadjuvante de nossa bela catástrofe diária.

Tudo para dizer que: quando estiver em Londres, não vá ao Carnaval de Notting Hill.

É programa de brasileiro vestido de índio.


Posted by geneton at 11:02 AM

NOTÍCIAS DO CABARÉ FEDERAL

Depois de tudo o que vem acontecendo no Cabaré, aliás, Senado Federal, nem valeria perder tempo com aquele tristíssimo espetáculo de desfaçatez.

Mas, nesta terça, um senador teve o descaramento de declarar que foram "consistentes" as explicações que o presidente do Senado deu para justificar as tais contas que não fecham nunca.

Em qualquer republiqueta que se preze, um senador que aceita ter despesas pessoais pagas por um lobista de empreiteira estaria moralmente impedido de exercer o cargo. É simples assim: moralmente impedido.

Mas o Brasil é exceção. O Senado, aqui, vira, por livre e espontânea vontade, o que se chamava antigamente de "lupanar".

Ao fazer declaração tão descarada sobre as tramóias do colega, o senador só consegue provar uma coisa : que considera os ouvintes de tais disparates, nós todos, idiotas irrecuperáveis.

Diante da tanta desfaçatez, só há um pensamento possível:

que grandessíssimo, que enorme, que indizível, que consumadíssimo, que irrecuperável canalha!

Posted by geneton at 11:00 AM

agosto 27, 2007

COMEÇA A FUNCIONAR A CONEXÃO LISBOA DO SOPA DE TAMANCO ! DUDA GUENNES VOLTA A ATACAR

Numa tentativa desesperada de estancar a debandada em massa de leitores, o Sopa de Tamanco anuncia aos frequentadores habituais ou acidentais ( gente valorosa que, sentada diante de um terminal, exibe no rosto um ar grave e contrito para impressionar os chefes, mas passa o dia usando descaradamente o computador do trabalho para ficar navegando em blogues inúteis como este) :

a Conexão Lisboa do Sopa de Tamanco entra em atividade nos próximos dias!

Duda Guennes, jornalista brasileiro radicado há séculos em Lisboa, a ponto de ter sido colaborador do Pasquim na fase áurea do jornal, começará já,já, a entreter os frequentadores do Sopa de Tamanco com notícias de Portugal.

O Brasil só fala de Nova York, Paris e Londres.

O Sopa de Tamanco prefere Lisboa !

Em Portugal, como se sabe, vivia a única família real que teve coragem de fugir para o Brasil ! Nenhuma outra família de nenhum outro país do mundo jamais admitiria esta possibilidade, nem sob tortura! Mas a família real portuguesa veio, ó pá !

É hora de retribuir a visita! O Sopa de Tamanco desembarca em Lisboa para mandar, via Duda Guennes, notícias portuguesas aos tamanqueiros brasileiros.

O povo quer saber: qual é a última piada de brasileiro em Portugal ? A dramaturgia portuguesa resistiu à exibição de novelas com Lucélia Santos no elenco ? Que gíria brasileira emplacou no além-Mar ? O governo português, o Congresso, a Ordem dos Advogados, o Conselho Federal de Educação e o reitor da Universidade de Coimbra vão tomar alguma providência para impedir a entrada da Banda Calypso no país ?

Vocês não perdem por esperar.

Posted by geneton at 11:05 AM

A CRÍTICA "DESTRUIDORA DE TALENTOS" : UMA ANOTAÇÃO

Do blog de Antonio Fernando Borges:

"A crítica literária (que hoje, praticamente, inexiste) costuma ser acusada de invejosa e destruidora de talentos. “Quem tem talento faz literatura, quem não tem faz crítica”, costumam dizer os ressentidos - quer dizer, os criticados.

Costuma-se também dizer que uma crítica “mais forte” pode destruir uma carreira, e até uma vida… Imagine o estrago que as palavras abaixo teriam produzido na vida de qualquer desses “coitadinhos” nossos contemporâneos.
Não foram proferidas por nenhum “invejoso” de plantão, mas pelo grande crítico Sílvio Romero, sergipano de boa cepa. E, graças a Deus!, do outro lado do balcão, na “alça de mira”, estava ninguém menos do que Machado de Assis, que não “morreu” nem desistiu diante de palavras tão pouco… “airosas” - e quase todas proferidas enquanto Machado vivia e escrevia!

Com vocês, este confronto de titãs:

“Homenzinho sem crenças.”
“Lamuriento, burilador de frases banais.”
“O mais pernicioso enganador.”
“Sereia matreira.”
“Uma dessas criaturas infelizes, pouco ajudadas pela natureza.”
“Não tem, por circunstâncias da juventude, educação científica.”
“Teve bastante habilidade, bastante jeito, para não tomar partido no debate.”
“Quanto às idéias, não segue nenhuma, porque não as compreende.”
“Bolorento pastel literário.”
“Sem idéias, sem vistas, lantejoulado de pequeninas frases, ensebadas fitas para efeito.”
“Completamente chato, inteiramente nulo. O estilo é detestável (…), mudo ou completamente gago.”

Como diria meu sábio avô: “E ainda dizem que o mundo evolui!”


(aqui :http://www.antoniofernandoborges.com/)

Posted by geneton at 11:04 AM

A CRÍTICA "DESTRUIDORA DE TALENTOS" : UMA ANOTAÇÃO

Do blog de Antonio Fernando Borges:

"A crítica literária (que hoje, praticamente, inexiste) costuma ser acusada de invejosa e destruidora de talentos. “Quem tem talento faz literatura, quem não tem faz crítica”, costumam dizer os ressentidos - quer dizer, os criticados.

Costuma-se também dizer que uma crítica “mais forte” pode destruir uma carreira, e até uma vida… Imagine o estrago que as palavras abaixo teriam produzido na vida de qualquer desses “coitadinhos” nossos contemporâneos.
Não foram proferidas por nenhum “invejoso” de plantão, mas pelo grande crítico Sílvio Romero, sergipano de boa cepa. E, graças a Deus!, do outro lado do balcão, na “alça de mira”, estava ninguém menos do que Machado de Assis, que não “morreu” nem desistiu diante de palavras tão pouco… “airosas” - e quase todas proferidas enquanto Machado vivia e escrevia!

Com vocês, este confronto de titãs:

“Homenzinho sem crenças.”
“Lamuriento, burilador de frases banais.”
“O mais pernicioso enganador.”
“Sereia matreira.”
“Uma dessas criaturas infelizes, pouco ajudadas pela natureza.”
“Não tem, por circunstâncias da juventude, educação científica.”
“Teve bastante habilidade, bastante jeito, para não tomar partido no debate.”
“Quanto às idéias, não segue nenhuma, porque não as compreende.”
“Bolorento pastel literário.”
“Sem idéias, sem vistas, lantejoulado de pequeninas frases, ensebadas fitas para efeito.”
“Completamente chato, inteiramente nulo. O estilo é detestável (…), mudo ou completamente gago.”

Como diria meu sábio avô: “E ainda dizem que o mundo evolui!”


(aqui :http://www.antoniofernandoborges.com/)

Posted by geneton at 11:04 AM

agosto 26, 2007

"DOSSIÊ DRUMMOND" : JÁ NAS MELHORES CASAS DO RAMO

O umbusdaman do Sopa de Tamanco deve ter saído. Não volta tão cedo porque levou o chicote que passa o dia pendurado na porta de entrada, para espantar visitantes incautos.

Aproveito a falha na marcação, driblo o zagueiro zelador dos bons costumes jornalísticos e faço propaganda em causa (quase) própria : quer saber o que
o maior poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, estava pensando duas semanas antes de morrer ? Dê uma lida no "Dossiê Drummond", livro que acaba de ser relançado, pela Editora Globo.

Arredio ao contato pessoal, Carlos Drummond de Andrade era o que os amigos chamavam de "ser eminentemente telefônico". Um repórter (o locutor que vos fala) resolveu tirar partido dessa singularidade do comportamento do poeta. Preparou setenta e seis perguntas, armou o equipamento de gravação telefônica e, num fim de tarde, fez a aposta: importunou CDA para saber se por acaso ele poderia dar uma entrevista. Os dois - poeta e repórter - já se conheciam : tinham tido contatos ( telefônicos) anteriores.

A primeira reação de CDA foi a esperada: ah, agora não. A filha estava gravemente doente, num hospital. O pai-poeta ia visitá-la todos os dias. Quem sabe, adiante, ele poderia marcar uma conversa. Mas não naquele momento.
O repórter dá a cartada: e se as perguntas fossem feitas ali, por telefone ?
O poeta abre a guarda : ah, por telefone, é possível. Quer perguntar ?

O resultado da entrevista - gravada - foram duas mil linhas datilografadas. Setenta páginas de livro.

Colhida a pepita principal - a entrevista - , o repórter ouviu 45 personalidades sobre o poeta. O psicanalista Hélio Pellegrino, por exemplo, diz que, se não escrevesse poesia, Drummond provavelmente precisaria de tratatamento. Tinha um comportamento "esquizotímico", dado a retrações exageradas.

O melhor é ver Drummond se explicando.

Sobre a entrevista de CDA no "Dossiê Drummond", Paulo Francis escreveu - em texto reproduzido no prefácio do livro - que nunca tinha visto o poeta falar daquele jeito.

Lá vem o ombudsman com o chicote na mão, um charuto fumegante no canto da boca e um cinto cheio de balas preso entre os dentes.

É hora de bater em retirada.

Termina aqui o intervalo comercial gratuito do Sopa de Tamanco.

Posted by geneton at 11:08 AM

PAUSA NAS TAMANCADAS. "SANTIAGO" NÃO É UM DOCUMENTÁRIO. É UMA OBRA-PRIMA

Para não dizer que o Sopa de Tamanco não falou de flores: um crítico escreveu que o documentário "Santiago" era uma obra-prima. Não exagerou. É verdade.

"Santiago" prova de novo que o espetáculo encenado todo dia por personagens anônimos pode ser mais rico, mais fascinante, mais comovente e mais surpreendente do que o mais inspirado dos filmes de ficção. É aquilo que - banalmente - se chama de "vida real".

Que roteirista poderia imaginar um personagem tão extraordinário quanto Santiago, o mordomo de uma família rica que passou a vida inteira copiando em folhas de papel a história da aristocracia mundial ?

Ao todo, preencheu trinta mil páginas. Já velho, aposentado das funções de mordomo, dispensava a companhia de quem quer que seja. Vivia aparentemente sozinho, mas contava com a companhia imaginária daqueles personagens aristocráticos descritos nas trinta mil páginas.

Aos olhos de qualquer "idiota da objetividade", a coleção de textos transcritos pareceria apenas uma montanha de folhas de papel ofício empoeiradas. Mas, para Santiago, os personagens descritos naquelas trinta mil páginas ganhavam vida, dialogavam com ele. Uma vez por semana, ele conversava com aqueles duques, príncipes obscuros, lordes esquecidos, reis destronados. Era como se todos estivessem ali, no pequeno apartamento, ao alcance de um aperto de mão do mordomo que enxergava num casarão da Gávea um palácio de Florença.

Santiago soube construir, para si, o melhor dos mundos: o da memória. Aquele que Norberto Bobbio via assim:

".....o mundo maravilhoso da memória, fonte inesgotável de reflexões sobre nós mesmos, sobre o universo em que vivemos, sobre as pessoas e os acontecimentos que, ao longo do caminho, atraíram nossa atenção.Maravilhoso, este mundo, pela quantidade e variedade inimaginável e incalculável de coisas que traz dentro de si : imagens de vultos há muito desaparecidos, lugares visitados em anos distantes e jamais revistos(...)"

O personagem Santiago dá um passo adiante de Norberto Bobbio. Conseguiu corrigir e recriar o conceito de memória: passou a vida revisitando lugares e revendo personagens que jamais tinha visitado e visto antes.

É esta a chave da grande fascinação despertada pelo personagem : Santiago cometeu a façanha de aprisionar o tempo num sólido castelo feito de trintas mil folhas de papel. Depois, mudou-se para dentro do castelo. A obra de uma vida estava completa.

O documentário "Santiago" - que passou anos para ser finalizado - só poderia ser realizado por quem foi: João Moreira Salles. Santiago, o mordomo, tinha trabalhado durante três décadas na mansão da família Moreira Salles, desde o final dos anos cinquenta.

O filme é uma conspiração de acertos : a direção perfeita, a fotografia (Walter Carvalho) belíssima, a narração (Fernando Moreira Salles) excelente, tudo funciona a favor.

A mansão - que Santiago imaginava um palácio florentino - virou sede do Instituto Moreira Salles. Treze anos depois de morto, graças a um grande filme, Santiago acaba de entrar, com todas as honras e pompas, na restritíssima aristocracia dos personagens inesquecíveis.

Posted by geneton at 11:05 AM

agosto 25, 2007

A LENDA URBANA SOBRE A SELEÇÃO BRASILEIRA

O livro "Jogo Duro", biografia de João Havelange, o ex-todo poderoso da Fifa, escrita por Ernesto Rodrigues, passa a limpo a história de que o ditador Emilio Garrastazu Médici teria imposto a presença do centro-avante Dario na seleção brasileira de 1970.

Depois de ouvir personagens e cruzar depoimentos, o autor chega à conclusão de que esta é uma lenda. Como bem lembra o livro, Médici não pedia : mandava. Se tivesse mandado, Dario teria sido escalado no time principal. Mas o jogador não entrou em campo uma vez sequer na Copa do México.

Faz sentido.

Fica a lenda.

Posted by geneton at 11:09 AM

agosto 24, 2007

DA SÉRIE: REPÓRTER GOSTA DE CONTAR VANTAGEM (VOLUME 1)

Vi uma vez um jogo da seleção brasileira, pela TV, no apartamento de Nélson Rodrigues, no Leme, ao lado da fera. O homem, talvez por distração, marcara a entrevista para a hora do jogo. A entrevista não era sobre futebol.

Os times entram em campo. Imaginei: o cronista genial deve saber de tudo sobre o jogo. Que nada. Dramático, Nélson Rodrigues pede que alguém tire o som da TV. Bota a mão no peito: "O Brasil me faz mal ! O Fluminense me faz mal!".

Vira-se para mim e faz a pergunta inesquecível, com aquele olhar mortiço,o queixo ligeiramente caído: "Quem é o nosso adversário hoje ?".
Era o Peru. O Brasil ganhou de três a zero.

Nélson Rodrigues não precisava saber nem do nome do adversário. Isso é coisa para os "idiotas da objetividade". O jornal do dia seguinte trouxe, é claro, uma crônica brilhante de Nélson Rodrigues em louvor da seleção brasileira.

Eis uma bela lição. Que tal acordar pela manhã, começar a batalha e, só então, perguntar ao mundo:

"Quem é o nosso adversário hoje ?".

Posted by geneton at 11:13 AM

O DICIONÁRIO INFORMA

A TV informa: o presidente do Senado apresenta uma nova versão para explicar o dinheiro obtido supostamente com a venda de gado.

O dicionário Aurélio informa:
Vomitivo ( adj e s.m.): Que faz vomitar, emético, vômico, vomífico.

Posted by geneton at 11:11 AM

A ARTE DOS TRINADOS

Ah, claro que eu iria ver um musical num teatro - desde que estivesse inapelavelmente imobilizado numa camisa-de-força.

Posted by geneton at 11:09 AM

agosto 23, 2007

O PESO E O TAMANHO DAS ESCOLHAS

O que é que você preferiria ? Tomar uma injeção letal numa penitenciária de segurança máxima no Texas ou passar quinze segundos contemplando o rosto esticado de uma dessas atrizes velhas? O que é pior ?

Vinte e quatro horas para responder.

Posted by geneton at 11:23 AM

MARACUTAIA CARIBENHA

Cuba informa: os atletas cubanos que foram deportados do Brasil em tempo recorde, numa operação suspeitíssima, jamais poderão sair da ilha.

A informação foi dada pelo chanceler cubano. É destaque na edição do Globo de hoje.

Isso ainda vai virar um escândalo: como foram feitas, na surdina, as negociações entre o governo brasileiro e o governo cubano, para que a captura e a deportação dos dois atletas fossem feitas num piscar de olhos ?

É óbvio que houve uma maracataia internacional neste caso. O Brasil jamais exibiu tamanha presteza, eficiência e rapidez na deportação de estrangeiros em situação supostamente irregular.

Agora, os dois estão condenados ao exílio, dentro de casa. Ou a uma prisão domiciliar. A carreira dos dois como atletas internacionais foi sumariamente interrompida.

Se a deportação tivesse sido feita a pedido de uma ditadura de direita, seria igualmente escandalosa.

Já, já, a notícia some dos jornais.

E assim caminha a humanidade.

Posted by geneton at 11:18 AM

DIZEI, NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO ESPANTO

Faça o seguinte : olhe para o teto. Fixe o olhar durante vinte e cinco segundos no branco imaculado. Concentre-se profundamente. Respire fundo. Recite:
Nossa Senhora do Perpétuo Espanto, dizei-me : eu quero ver nas revistas ou nos jornais ou nos sites foto de recém-nascido parido por gente famosa ? A imagem de um pós-feto estampada num pedaço de papel pintado contribuirá em quê para o avanço da humanidade ? Aliás: qual é a diferença entre um pós-feto e outro ? Não é tudo igual ? Não estão todos de olhos fechados e cara amassada ? O que é que eu aprenderei contemplando uma foto desse projeto de subcelebridade ?

Você ouve, clara e nítida, a resposta, soprada por Nossa Senhora do Perpétuo Espanto : "Nada! Nada! Nada!".

Fecho a revista. Relincho três vezes para limpar a garganta.

E vou obturar o dente.

Posted by geneton at 11:14 AM

UMA DÚVIDA SUSSURRADA SOBRE O BRASIL

Juro por Nossa Senhora do Perpétuo Espanto: a pergunta mais inesquecível que ouvi na vida me foi feita numa sala de aula de um colégio que tinha péssima fama, o Carneiro Leão, na rua do Hospício, no Recife, nos idos de 1970. Durante uma prova, um colega que sentava ao lado me perguntou, em voz baixa e sussurrante, para não despertar a atenção do professor :

- Brasil é com "s" ou com "z" ?

Fazia sentido.

Eu tinha treze anos de idade. Nem suspeitava, mas, ah, o Brasil, pela vida afora, se tornaria o grande tema de todas as dúvidas.

Aquela - sussurrada pelo colega - seria apenas a primeira de uma série interminável.

Posted by geneton at 11:13 AM

agosto 22, 2007

A RECEITA INFALÍVEL

E se, ao menos por um dia, todos os programas de televisão saíssem do ar, todos os blogues se autodestruíssem, todas as emissoras de rádio silenciassem, todos os jornais e revistas circulassem em branco, todos os sites desaparecessem ?

Diga a verdade: alguém de sã consciência sentiria falta ?

Um coro de bilhões de vozes se alevanta para bradar:

"Não !"

Um dia depois, tudo voltaria ao normal. Mas a humanidade jamais seria a mesma, porque teria sentido, para sempre, o gosto do paraíso.

Posted by geneton at 12:08 PM

TOSQUEIRAS BRASILEIRAS, VOLUME 1

A TV repete uma imagem de quase trinta anos atrás: um ator recitando letras de músicas de Roberto Carlos. O problema é que letra de música não é poema. E vice-versa. Não funciona.

Letra de música declamada é coisa tosca, tosca, tosca.

Ah, a imensa vocação do Brasil para produzir tosqueiras em série....

Como a TV estava sintonizada no programa, testemunhei a recitação.

Aconteceu o esperado: meus órgãos entraram imediatamente em processo de falência múltipla.

Mas, ao ouvirem uma ordem que, nessas horas, sempre pronuncio para eles em voz baixa ( "Klatoo barada Nikto! Klatoo barada nikto! "), os órgãos estancaram o processo de falência múltipla, como por milagre.

Acendi uma vela para Santa Clara, fui até a janela para relinchar três vezes ao ar livre e constatei, satisfeito, que tinha saído vivo do pesadelo.

Qual é o próximo ?

Posted by geneton at 12:08 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA 2

Qualquer dia desses, lá em Tóquio, um robô mais inteligente vai acabar construindo o japonês ideal.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:06 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

- E,então, Rui Barbosa encarou a platéia internacional lá em Haia e indagou:"Em que idioma os senhores quere que eu discurse "

Todo mundo sabe que o fato não aconteceu, ao menos como o descreve a gabolice baiana, mas se realmente tivesse havido aquela sessão de Conferência de Haia e eu estivesse presente, não tenham dúvida. Logo tivesse escutado Rui Barbosa indagar dos demais delegados em que língua preferiam escutá-lo, eu teria gritado lá do fundo da sala :

- Em chinês !!

Só para ver o baiano perder o rebolado.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:06 PM

BEM QUE OS MOTORISTAS DE CAMINHÃO AVISARAM :"MANTENHA DISTÂNCIA"

É tão óbvio que ninguém nota : o mundo de verdade, aquele feito de objetos concretos e palpáveis, acabou. Inventaram uma máquina que substitui as coisas. Agora, a televisão, o rádio, o jornal, a revista, o telefone, o banco, as lojas, os arquivos, as bibliotecas, as enciclopédias, os cinemas, os livros, tudo existe virtualmente, num lugar só : a tela do computador. Já não precisam existir fisicamente, ao alcance das mãos.

É a maior invenção da humanidade: agora, é perfeitamente possível conviver com o mundo à distância, sem o incômodo da proximidade física.

Deus te pague, Bill Gates.

Posted by geneton at 12:06 PM

EM TORNO DE CINZEIROS NAS MOTOCICLETAS

Fazer um blog. Instalar um cinzeiro numa motocicleta. Procurar uma declaração interessante numa entrevista de celebridade. Torcer pela implosão do prédio do Senado.

Uma dúvida devastadora agita meus dois neurônios desde as 8 e 45 da manhã: qual dessas tarefas é mais inútil ?

Posted by geneton at 12:05 PM

NOTÍCIAS DE CAUÊ

Cauê, o mascote do Pan, foi visto no México. O furacão foi provocado por ele, é claro.

Posted by geneton at 12:04 PM

PERGUNTA FEITA AOS CÉUS

A polícia que prende e deporta atletas cubanos continua solta ?

Posted by geneton at 11:14 AM

agosto 21, 2007

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2

É madrugada, tempo ideal para não dormir. Fico pensando: será que em minha vida eu deveria ter feito mais concessões e remado menos contra a maré ?

E de repente chega lá de dentro da noite, num decidido canto de galo, a resposta que eu mesmo ia me dar:

- Não !

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:09 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Dizia Talleyrand que "as leis podem ser violadas sem que gritem".

É o que acontece frequentemente no Brasil, onde as leis foram feitas precisamente para ser violadas, sem direito sequer a um gemido, mesmo de prazer.

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 11:10 AM

agosto 20, 2007

PERGUNTA FEITA AOS CÉUS

A Banda Calypso, o presidente do Senado, Oswaldo Montenegro, Sônia Braga, Lucélia Santos e os publicitários que inventaram a campanha da cerveja "boa" continuam soltos ?

Posted by geneton at 12:14 PM

PÍLULAS DE VIDA DO D0UTOR SILVEIRA - 2

Uma das vantagens da Idade Média é que, nela, não existiam sociólogos.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:12 PM

UMA PEQUENA DÚVIDA. O SENHOR PODE ESCLARECER, POR FAVOR ?

Joel Silveira adorava falar da oferta de emprego que recebeu de um assessor do presidente Jânio Quadros. O assessor - amigo pessoal tanto de Joel quanto do presidente - ligou para dar uma boa notícia : Joel ia ser nomeado para o conselho consultivo da Companhia Nacional de Álcalis!

Resposta de Joel à oferta :

- Aceito o convite ! Só quero tirar duas dúvidas. Primeira : quanto vou ganhar ? Segunda : o que é álcalis, pelo amor de Deus ? .

(A Companhia produzia barrilha, matéria-prima usada na fabricação de vidros. Acabo de ver na Wikipedia, a novo codinome do Pai dos Burros).

Noventa por cento dos nomeados para cargos públicos deveriam ter a sinceridade de fazer perguntas como a que Joel fez quando recebeu o convite.

Brasília ouviria um grande coro de perguntas : nomeado para a Anac ? Que bom ! Mas, em nome de todos os santos, o que é a Anac ? Para que serve ? Onde fica ? Como funciona ?

E assim por diante.

Posted by geneton at 12:11 PM

UM MILHÃO DE DÓLARES EM ESPÉCIE PARA NÃO SER PREMIADO

Um grande banco ( se não me engano, Bradesco) oferece como brinde a seus clientes a chance de fazer companhia a gente "famosa". Com uma ou outra exceção, eu pagaria de bom grado um milhão de dólares, em espécie, para não ser sorteado como acompanhante de "celebridades". O problema é que jamais disporei de tal quantia. Em espécie,então, nem sonhar.

Numa situação dessas, todo cuidado é pouco. Não custa nada se precaver : para não correr o risco de ganhar o "prêmio", a única providência cem por cento segura é não abrir conta no tal banco. Nunca. Never. Sob hipótese alguma.

E dormir tranquilo, livre do terrível perigo.

Posted by geneton at 12:11 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Curioso fenômeno, não de todo explicado: na paz, os generais ganham mais medalhas do que na guerra. E é também na guerra que eles morrem menos.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 11:13 AM

agosto 19, 2007

ESQUISITICES NÓRDICAS. E PERGUNTAS AOS CREMADORES DE CORPOS

O cineasta Ingmar Bergmann morreu no dia 30 de julho. O corpo só foi enterrado dezoito dias depois. Eis uma esquisitice nórdica. Por que demoram tanto para se desfazer da carcaça inerte ? Por que guardar o corpo por tanto tempo ?

Pela primeira vez na vida, compareci a um crematório, esta semana, para o adeus ao mestre e amigo de tantos anos, o grande repórter Joel Silveira. Já escrevi, aqui, sobre o ritual - simples, rápido, despojado, exatamente como ele queria.

Quando tudo acabou, fiquei com dúvidas. Terminei telefonando para o crematório, para matar a curiosidade ( o que diabos um repórter pode fazer neste "vale de lágrimas", além de perguntas ?)

O caixão some de vista depois de deslizar por uma esteira. Quando a família & amigos vão embora, o time de cremadores entra em campo, nos bastidores.

Pergunto : o caixão, afinal de contas, é cremado junto com o corpo ?

É,sim.

Quanto tempo demora a cremação ?

Cerca de três horas. Depois, uma hora para "resfriar".

Qual é a temperatura lá dentro do forno ?

De 800 a 900 graus centígrados ( bombeiros que atuaram no acidente com o avião da TAM informaram que a temperatura dentro do prédio atingido pelo Boeing chegou a 1.000 graus. Ou seja : superior à de um forno crematório)

Aberto o forno, o que acontece com os restos ?

Passam por um triturador. Somente aí é que o corpo vira realmente pó. Vinte e quatro horas depois da cremação, o pó é entregue à família.

Nem com estrondo nem com suspiro. Isso é coisa de poeta. Pelo menos ali, como se fosse o último paradoxo possível, o corpo se extingue com uma labareda.

É tudo rápido, é tudo prático, é tudo higiênico. É bom que não haja demora. Para que prolongar sofrimentos ?

Mas, lá no fundo, não há como fugir de um sentimento incômodo : tudo pode ser rápido, prático e higiênico, mas tudo é também um grande e irremediável absurdo. O espanto de sempre se repete, irresolvido: como é possível que um feixe de ossos, músculos, tecidos e sentimentos, que funcionava até há tão pouco tempo, transmute-se em pó diante da mais absoluta indiferença da natureza ? (Registre-se que, lá fora do crematório, a tarde brilhava bonita e azul).

Toda vez que é provocado, como agora, nosso espanto ruge diante da morte. É inútil rugir, claro. Mas não há outra coisa a fazer.

Posted by geneton at 12:15 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Ser carioca é ter nascido em Xapuri,no Acre. Ser carioca é ter nascido em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo. Ser carioca é ter nascido em Diamantina, em Minas.
Mas, antes de tudo, ser carioca é não ter nascido em São Paulo.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:14 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2

Se o poder é triste, como vivem a proclamar os poderosos, por que motivo os que estão nele riem tanto ?

Não me digam que é nervosismo.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:14 PM

ESQUISITICES NÓRDICAS. E PERGUNTAS AOS CREMADORES DE CORPOS,DEPOIS DO ADEUS A JOEL SILVEIRA


O cineasta Ingmar Bergmann morreu no dia 30 de julho. O corpo só foi enterrado dezoito dias depois. Eis uma esquisitice nórdica. Por que demoram tanto para se desfazer da carcaça inerte ? Por que guardar o corpo por tanto tempo ?

Pela primeira vez na vida, compareci a um crematório, esta semana, para o adeus ao mestre e amigo de tantos anos, o grande repórter Joel Silveira. Já escrevi, aqui, sobre o ritual - simples, rápido, despojado, exatamente como ele queria.

Quando tudo acabou, fiquei com dúvidas. Terminei telefonando para o crematório, para matar a curiosidade ( o que diabos um repórter pode fazer neste vale de lágrimas, além de perguntas ?)

O caixão some de vista depois de deslizar por uma esteira. Quando a família & amigos vão embora, o time de cremadores entra em campo, nos bastidores.

Pergunto : o caixão, afinal de contas, é cremado junto com o corpo ?

É,sim.

Quanto tempo demora a cremação ?

Cerca de três horas. Depois, uma hora para "resfriar".

Qual é a temperatura lá dentro do forno ?

De 800 a 900 graus centígrados ( bombeiros que atuaram no acidente com o avião da TAM informaram que a temperatura dentro do prédio atingido pelo Boeing chegou a 1.000 graus. Ou seja : superior à de um forno crematório)

Aberto o forno, o que acontece com os restos ?

Passam por um triturador. Somente aí é que o corpo vira realmente pó. Vinte e quatro horas depois da cremação, o pó é entregue à família.

Nem com estrondo nem com suspiro. Isso é coisa de poeta. Pelo menos ali, como se fosse o último paradoxo possível, o corpo se extingue com uma labareda.

É tudo rápido, é tudo prático, é tudo higiênico. É bom que não haja demora. Para que prolongar sofrimentos ?

Mas, lá no fundo, não há como fugir de um sentimento incômodo : tudo pode ser rápido, prático e higiênico, mas tudo é também um grande e irremediável absurdo. O espanto de sempre se repete, irresolvido: como é possível que um feixe de ossos, músculos, tecidos e sentimentos, que funcionava até há tão pouco tempo, transmute-se em pó diante da mais absoluta indiferença da natureza ? (Registre-se que, lá fora do crematório, a tarde brilhava bonita e azul).

Toda vez que é provocado, como agora, nosso espanto ruge diante da morte. É inútil rugir, claro. Mas não há outra coisa a fazer.

Posted by geneton at 02:55 AM

agosto 18, 2007

DA SÉRIE ENTREVISTAS IMPROVÁVEIS: A ESCRITORA ROSA DESCOBRE NUMA BALEIA O GRANDE SEGREDO DAS PALAVRAS

O nome : Rosa. É assim que se chama a mulher que telefona para a redação tarde da noite à procura de um repórter. Quer dar uma notícia sobre "a aparição de uma baleia". O repórter suspira, desalentado: a mulher - que fala com sotaque espanhol - deve ser uma dessas loucas que escrevem cartas para as redações ou ligam de madrugada para dar notícias absurdas sobre profecias, iluminações, códigos, conspirações, segredos.

O sotaque só serve para agravar a suspeita: o espanhol é a língua preferida por cartomantes que inventam nomes e carregam no sotaque para impressionar os desesperados que as procuram.

Rosa insiste : a notícia sobre a aparição da baleia merece ser ouvida porque é algo "sumamente importante". A entrevista fica marcada para o dia seguinte, num lugar improvável : um banco de praça. Rosa chega na hora marcada: meio-dia ( Noto que os cabelos pretos estão penteados como se, numa subversão absurda do calendário, ela estivesse posando, em 2007, para uma foto que já nascia amarelada, num álbum dos anos setenta. Aquele corte de cabelo um dia foi chamado de Pigmalião. Virou febre, nos anos setenta, não em homenagem ao escultor da mitologia,mas porque era usado por uma atriz numa novelinha medíocre das sete da noite. Ah, o implacável poder simplificador da televisão...)

Rosa_Montero.jpg


Rosa se move com gestos rápidos. Informa a idade: 56 anos. Traz, nas mãos, um livro em que,na capa, a imagem de uma menina de vestido rosa se sobrepõe a uma velha foto de família.Os outros nove personagens retratados na capa estão em preto-e-branco. Só a menina ganhou a graça da cor.

Noto um detalhe banal: o título do livro que ela traz para a entrevista tem doze letras. Por um segundo, cedo às tentações da superstição: são doze os apóstolos, são doze os signos, são doze os meses do ano, são doze as horas que dividem as duas metades do dia. As doze letras do título terão algum significado ?
Não! - repreendo-me, em silêncio. Toda superstição é idiota.

Não há tempo a perder. Pergunto como foi, afinal,a aparição da baleia. Por que diabos a aparição de um animal terá sido tão aterradora, tão reveladora e tão importante? Rosa move a cabeça em direção ao gravador que seguro nas mãos. Não quer que o alvoroço do barulho de carros na rua e de crianças na praça encubra o que ela vai falar:

- "De repente,sem nenhum aviso, aconteceu. Um estampido aterrador agitou o mar ao nosso lado : era um jato d´água, o jato de uma baleia, poderoso, enorme, espumante, uma voragem que nos encharcou e fez o Pacífico ferver em torno de nós. E o ruído, aquele som incrível, aquele bramido primordial, uma respiração oceânica, o alento do mundo. Essa sensação foi a primeira : ensurdecedora, ofuscante; e imediatamente depois emergiu a baleia.
Primeiro, emergiu o focinho, que logo depois tornou a se meter debaixo d´água; e depois veio deslizando todo o resto, numa onda imensa, num colossal arco de carne sobre a superfície, carne e mais carne, brilhante e escura, emborrachada e ao mesmo tempo pétrea, e num determinado momento passou o olho, um olho redondo e inteligente que se fixou em nós, um olhar intenso vindo do abismo. Quando já estávamos sem fôlego diante da enormidade do animal, ergueu a toda altura aquela cauda gigantesca e afundou-a com elegante lentidão na vertical; e, em todo esse deslocamento do seu corpo tremendo, não fez qualquer marola, não provocou a menor salpicadura nem emitiu nenhum ruído além do suave cicio de sua carne monumental acariciando a água. Quando desapareceu, imediatamente depois de ter mergulhado, foi como se nunca houvesse estado ali".

Rosa fala sem tomar fôlego. Diz que a aparição da baleia pode significar para todos o que significou para ela : a descoberta do Cálice Sagrado, a visão inesquecível que lhe abriu as portas para desvendar o Grande Segredo das Palavras, esta obsessão que há séculos mobiliza tanta gente:

- "Com a escrita é a mesma coisa: muitas vezes, você intui que o segredo do universo está do outro lado da ponta dos seus dedos, uma catarata de palavras perfeitas, a obra essencial que dá sentido a tudo. Você está no próprio limiar da criação, e em sua cabeça eclodem tramas admiráveis, romances imensos, baleias grandiosas que só revelam o relâmpago do seu dorso molhado, ou melhor, fragmentos desse dorso, pedaços dessa baleia, migalhas de beleza que permitem intuir a beleza insuportável do animal inteiro ;mas em seguida, antes de você ter tempo de fazer alguma coisa, antes de poder calcular seu volume e sua forma, antes de entender o sentido do seu olhar perfurante, a pridigiosa besta submerge e o mundo fica quieto e surdo e tão vazio"

Pergunto: o que fazer com as palavras, depois da revelação de que elas, no fim, não conseguirão desvendar a "beleza insuportável" do grande animal ? Que utilidade elas terão ?

-"Disparamos palavras contra a morte, como arqueiros de cima das ameias de um castelo em ruínas. Mas o tempo é um dragão de pele impenetrável que devora tudo. Ninguém vai se lembrar da maioria de nós dentro de alguns séculos: para todos os efeitos, será como se não houvéssemos existido. O esquecimento absoluto daqueles que nos precederam é um manto pesado, é a derrota com a qual nascemos e para a qual nos dirigimos. É o nosso pecado original".

Se a batalha contra esse "dragão de pele impenetável" um dia estará perdida, por que, então, insistir na tarefa de erguer barricadas com as palavras ?

- "Isto é a escrita :o esforço de transcender a individualidade e a miséria humana, a ânsia de nos unir aos outros num todo, o desejo de sobrepor-nos à escuridão, à dor, ao caos, à morte"

Você diz que escolheu escrever romances para participar dessa batalha. Por que essa escolha ?

"Escrever romances implica atrever-se a completar o monumental percurso que tira você de si mesmo e permite se ver no convento, no mundo, no todo. E, depois de fazer esse esforço supremo de entendimento, depois de quase tocar por um instante na visão que completa e fulmina, regressamos mancando para nossa cela, para o encerro de nossa estreita individualidade, e tantamos nos resignar a morrer".

A fita termina. Rosa soletra o sobrenome : Montero, sem "i". Rosa Montero. Deixa de presente o livro com o título de doze letras ("A Louca da Casa").

Despede-se com um leve meneio de cabeça. Começa a caminhar em direção ao portão de ferro que, à noite, protegerá a praça da invasão dos mendigos. Dá meia volta, pede para o repórter checar se o gravador funcionou. Fica aliviada quando vê que as pilhas funcionaram, sim. "Gravou tudo", digo. "Por supuesto", ela responde.

E vai embora.

***************************************************************************

PS: Tanto os encontros com a escritora espanhola Rosa Montero quanto as perguntas da entrevista são imaginários. Mas as respostas da escritora sobre as baleias e as palavras são verdadeiras : foram extraídas do livro "A Louca da Casa", publicado no Brasil pela Ediouro. Recomendadíssimo.

Posted by geneton at 01:40 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Quando o último português colonialista foi embora, o que deixou a nós, brasileiros, de herança, além daqueles dois imperadores medíocres ? Uma língua inviável, costumes e hábitos frouxos, um caráter amolecido. Só. E é com tal "massa", tão ordinária, que vimos tentando construir uma coisa chamada pátria e essa outra, ainda mais subjetiva, chamada nação.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:17 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2


Depois que foi confirmado que o cometa Swift-Turtle está mesmo disposto a carbonizar a Terra no ano 2126, desisti de fazer qualquer plano a longo prazo.

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:17 PM

agosto 17, 2007

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2

A moda, agora, é fazer oitenta anos, uma idade no mínimo ridícula e perigosamente irresponsável. Jamais chegarei lá. Já aos noventa, quem sabe ?


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:19 PM

PRÊMIO PARA MELHOR FICÇÃO DO ANO


É boi, é amante, é empreiteira, é rádio, é TV, é laranja. Os críticos literários bem que poderiam fazer justiça ao presidente do Senado: ao explicar tanta maracutaia, ninguém este ano fez ficção melhor do que ele.

Posted by geneton at 12:19 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

A vida é uma porcaria, com um defeito ainda mais sórdido :acaba.

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 11:20 AM

SOM & IMAGEM :UM DIÁLOGO COM A VÍBORA JOEL SILVEIRA

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM714709-7823-JOEL+SILVEIRA+A+VIBORA,00.html

Posted by geneton2 at 10:33 AM

agosto 16, 2007

O MAIOR REPÓRTER BRASILEIRO SE VAI, ÀS TRÊS E QUARENTA E UM DA TARDE

A cortina caiu, literalmente, às três e quarenta e um da tarde desta quinta-feira, no crematório do Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro. Três e quarenta e um. Neste momento, um funcionário invisível da Santa Casa de Misericórdia acionou o mecanismo. A esteira onde estava o caixão com o corpo do maior repórter brasileiro começou, então, a se mover, lentamente.

Não se vê o rosto de quem aciona o mecanismo. Nada, ninguém. É como se o espetáculo da morte dispensasse coadjuvantes. Os parentes e amigos ficam sentados como se estivessem num pequeno auditório. O palco é ocupado pelo caixão - que desliza sobre a esteira até desaparecer, literalmente, atrás de uma cortina parecida com essas usadas no setor de bagagem dos aeroportos.

A última cena protagonizada por Joel Silveira transcorreu assim.

O corpo se vai. Fica o que conta: uma obra jornalística de qualidade excepcional.

Joel me pediu há poucos dias uma fotocópia do belo texto que Sérgio Augusto escreveu sobre ele. O texto de Sérgio Augusto foi publicado no livro "As Penas do Ofício". Ficou feliz, claro, quando eu repeti, por telefone, as louvações que Sérgio Augusto escreveu sobre os despachos que ele, Joel, enviou da Itália na época da guerra. Fiz a fotocópia. Não houve tempo para entregar. Igualmente, ele me perguntou várias e várias vezes quando é que ele poderia ver uma entrevista que gravei na Alemanha com Niklas Frank, o filho de um carrasco nazista. A "víbora" Joel queria saber o que o filho do carrasco tinha dito. Não houve tempo para ele visse a entrevista.

É sempre assim: um dia, o tempo falta, tanto para as grandes tarefas quanto para as banalidades.

Mas resta uma boa notícia: já tínhamos acertado, há meses, com a Editora Globo, a publicação de um livro em que reuniríamos nossas conversas ao longo de vinte anos de convivência. O título já estava escolhido: "Diálogos com o Último Dinossauro".

Deve ter sido o último compromisso profissional de Joel.

Virou tarefa: o livro vai ser feito. Nestas duas décadas, gravei uma série de entrevistas e conversas com Joel sobre o assunto que nos apaixonava: o Jornalismo. Eu, discípulo e aprendiz, ouvia o que o maior repórter brasileiro tinha a dizer sobre os personagens que conheceu e as situações que viveu ao longo de tanto tempo. Não é pouca coisa.

Diante do grande repórter, agi como repórter: gravei e guardei tudo.

Os depoimentos de Joel nos "Diálogos com o Último Dinossauro" terão destinatários certos : estudantes de Jornalismo e jornalistas que, a exemplo de Joel, acreditam que a reportagem é, sempre foi e será a alma da profissão.

A cortina caiu. Mas a voz continuará a ser ouvida.

Posted by geneton at 06:19 PM

O MAIOR REPÓRTER BRASILEIRO SE VAI, ÀS TRÊS E QUARENTA E UM DA TARDE

A cortina caiu, literalmente, às três e quarenta e um da tarde desta quinta-feira, no crematório do Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro. Três e quarenta e um. Neste momento, um funcionário invisível da Santa Casa de Misericórdia acionou o mecanismo. A esteira onde estava o caixão com o corpo do maior repórter brasileiro começou, então, a se mover, lentamente.

Não se vê o rosto de quem aciona a máquina. Nada, ninguém. É como se o espetáculo da morte dispensasse coadjuvantes. Os parentes e amigos ficam sentados como se estivessem num pequeno auditório. O palco é ocupado pelo caixão - que desliza sobre a esteira até desaparecer, literalmente, atrás de uma cortina parecida com essas usadas no setor de bagagem dos aeroportos.

A última cena protagonizada por Joel Silveira transcorreu assim.

O corpo se vai. Fica o que conta: uma obra jornalística de qualidade excepcional.

Joel me pediu há poucos dias uma fotocópia do belo texto que Sérgio Augusto escreveu sobre ele. O texto de Sérgio Augusto foi publicado no livro "As Penas do Ofício". Ficou feliz, claro, quando eu repeti, por telefone, as louvações que Sérgio Augusto escreveu sobre os despachos que ele, Joel, enviou da Itália na época da guerra. Fiz a fotocópia. Não houve tempo para entregar. Igualmente, ele me perguntou várias e várias vezes quando é que ele poderia ver uma entrevista que gravei na Alemanha com Niklas Frank, o filho de um carrasco nazista. A "víbora" Joel queria saber o que o filho do carrasco tinha dito. Não houve tempo para ele visse a entrevista.

É sempre assim: um dia, o tempo falta, tanto para as grandes tarefas quanto para as banalidades.

Mas resta uma boa notícia: já tínhamos acertado, há meses, com a Editora Globo, a publicação de um livro em que reuniríamos nossas conversas ao longo de vinte anos de convivência. O título já estava escolhido: "Diálogos com o Último Dinossauro".

Deve ter sido o último compromisso profissional de Joel.

Virou tarefa: o livro vai ser feito. Nestas duas décadas, gravei uma série de entrevistas e conversas com Joel sobre o assunto que nos apaixonava: o Jornalismo. Eu, discípulo e aprendiz, ouvia o que o maior repórter brasileiro tinha a dizer sobre os personagens que conheceu e as situações que viveu ao longo de tanto tempo. Não é pouca coisa.

Diante do grande repórter, agi como repórter: gravei e guardei tudo.

Os depoimentos de Joel nos "Diálogos com o Último Dinossauro" terão destinatários certos : estudantes de Jornalismo e jornalistas que, a exemplo de Joel, acreditam que a reportagem é, sempre foi e será a alma da profissão.

A cortina caiu. Mas a voz continuará a ser ouvida.

Posted by geneton at 12:21 PM

JOEL SILVEIRA, REPÓRTER, APURA O NÚMERO DE AVIÕES VISTOS DA JANELA DO HOSPITAL

.
O que dizer de um grande repórter ?

Diga-se que, numa tarde, sem ter o que fazer num quarto de hospital, ele foi capaz de contar o número de aviões que cruzavam os céus.

A cena, testemunhada pelo abaixo-assinado:


Enrolado num lençol verde para atenuar o frio do ar-condicionado ligado na potência máxima, o ex-correspondente de guerra Joel Silveira descobriu uma maneira originalíssima de combater o tédio que se abatia sobre ele nas tardes infindáveis do quarto 1122 do Hospital dos Servidores do Estado,no centro do Rio, numa das vezes em que esteve internado : resolveu contar quantos aviões passavam no céu. O quarto 1122 oferece uma bela vista da Ponte Rio-Niterói. Da cama de Joel, era possível enxergar o intenso tráfego de aviões que se dirigiam ao Aeroporto Santos Dumont. “Já contei quarenta e três aviões. Agora, chega” – disse,ao dar por encerrada a apuração de dados aeronáuticos para uma reportagem que,ele sabia,jamais seria escrita.

A contagem de aviões nos céus do centro do Rio foi a última tarefa jornalística daquele que era chamado por Assis Chateaubriand de “a víbora”.O apelido lhe foi dado pelo chefão dos Diários Associados depois que Joel escreveu uma reportagem recheada de ironias sobre as damas do soçaite paulistano. O título de “maior repórter brasileiro” também acompanhou inúmeras vezes o nome de Joel Silveira – que,aos trinta e dois anos,foi enviado por Chateaubriand para os campos de guerra na Itália,na Segunda Guerra Mundial.”Fui para a guerra com 32 anos.Voltei com 80.O que a guerra nos tira – quando não tira a a vida - não devolve nunca mais” – diria,pelo resto da vida. Viu o sargento Wolf ser fuzilado por uma patrulha alemã.O texto que Joel mandou para os Diários Associados começava na primeira pessoa : “Vi perfeitamente quando.....”.

Joel Silveira era representante de uma categoria rara : a dos repórteres que dão um toque pessoal e inconfundível ao que escrevem. Passou a vida lamentando não ter abordado Ernest Hemingway que,solitário,bebia conhaque num café da Paris do pós-guerra.”Perdi a chance de pedir uma entrevista. O pior que poderia acontecer era levar um soco de Hemingway- o que garantiria uma bela matéria”. Rubem Braga foi companheiro de Joel na aventura européia durante a guerra.

Com Nélson Rodrigues – de quem foi companheiro de redação em publicações como a Manchete a e Última Hora - Joel tinha relações distantes.

Depois de ficar em silêncio observando Joel datilografar furiosamente um artigo na redação, Nélson Rodrigues soltou uma exclamação: “Patético !”. Dias depois, Joel devolveu o gesto. Diante da mesa de Nélson Rodrigues, bradou : “Dramático !”. O humor afiado transformou-o em personagem de incontáveis histórias dos bastidores do jornalismo. Sempre que tinha chance,encaixava em seus artigos uma observação contra dois tipos que detestava gratuitamente : os tocadores de cavaquinho e os alpinistas. “O cúmulo do ridículo,beirando o grotesco,é um marmanjo,gordo e barrigudo,tocando cavaquinho”- escreveu,num dos seus livros.Em outro texto,perguntou : “Pode haver algo mais idiota do que um alpinista ? “.

Depois de consumir quantidades oceânicas de uísque,passou os últimos anos da vida abstêmio.”Já não tenho com quem beber.Meus amigos se foram.Nada é tão triste do que beber sozinho”.Passou os últimos anos declarando :“Sou a maior solidão do Brasil”.

Repórter a vida inteira,dizia que,se houvesse justiça na hierarquia das redações, os donos dos jornais seriam subordinados aos repórteres. Só teve uma experiência como dono de jornal. Publicou,no início dos anos cinqüenta,um jornal,Comício,que reunia um time de primeira : Clarice Lispector,Rubem Braga,Fernando Sabino,Carlos Castelo Branco. Dizia que tinha perdido a conta de quantos livros publicara.Entre os títulos mais conhecidos,estão “A Guerra dos Pracinhas”, “Tempo de Contar” e o autobiográfico “Na Fogueira”. Em entrevista gravada no ano passado, resumiu assim uma trajetória iniciada num jornalzinho de escola em Sergipe,em 1935 : “Passei a vida vendo a banda passar.É o que todo repórter deve fazer”. Conheceu pessoalmente dois cardeais que, depois, seriam indicados Papas : João XXIII e Paulo VI.Teve um encontro com Pio XII.Os encontros com os Papas não foram suficientes para transformá-lo em homem religioso . Cético, gostava de repetir o poeta Murilo Mendes : “Deus existe.Mas não funciona”.

Atento aos fatos até o último momento, disse-me, por telefone, na semana passada :"Estou morrendo. É o fim".

Ontem, dia quinze, às duas da tarde, pontualmente, a kombi placa LFR 1236, a serviço da Santa Casa de Misericórdia, estacionou em frente ao prédio onde Joel morava, na rua Francisco Sá, em Copacabana. Joel tinha morrido às oito da manhã.

(ver, abaixo, texto A VIDA IMITA O POETA NA MORTE DE JOEL SILVEIRA: O AGENTE FUNERÁRIO CHEGOU NA HORA. E A PLACA DO CARRO ERA LFR 1236).

Hoje, às três da tarde, o corpo de Joel Silveira será cremado no Cemitério do Caju.

Posted by geneton at 09:32 AM

agosto 15, 2007

A VIDA IMITA O POEMA NA MORTE DE JOEL SILVEIRA: O AGENTE FUNERÁRIO CHEGOU NA HORA. E A PLACA DO CARRO ERA LFR 1236

Faz pouco tempo, descobri um belo poema de Lawrence Ferlinghetti. O poeta diz, com outras palavras, que o mundo é um belo lugar, mas um dia, cedo ou tarde, ele virá : o agente funerário sorridente.

E o agente veio. Acabo de sair da casa de Joel Silveira. Não quis ver a saída do corpo. A Santa Casa de Misericórdia avisou que o agente chegaria às duas horas. Pensei comigo: "Com a pontualidade brasileira, ele vai chegar lá para as quatro da tarde".

Engano. Nem uma hora e cinquenta e nove minutos nem duas horas e um : eram duas em ponto quando o agente apertou a campainha, no apartamento de Joel Silveira, no sexto andar de um prédio da rua Francisco Sá, em Copacabana.
O agente encenava, sem suspeitar, o poema de Lawrence Ferlinghetti.
Era como se dissesse: tudo pode atrasar no Brasil, mas a morte, quando vem, chega exatamente na hora, sem tolerância. Nem um segundo de atraso.

Desci do sexto andar. Lá embaixo, tive o gesto inútil de observar a placa da Kombi branca da Santa Casa de Misericórdia: LFR 1236. A Kombi trazia, nas laterais, o nome da Santa Casa e o telefone: 0800 257 007.

Joel tinha inveja de um personagem de Vitor Hugo que, minutos antes de ser guilhotinado, dizia, resignado, que estava pronto para a execução,mas "gostaria de ver o resto". Ou seja: o personagem gostaria de descrever a própria morte.

Que palavras Joel usaria ?

Quanto a nós, discípulos e aprendizes, já não há o que fazer, além de anotar a placa da Kombi : LFR 1236, três letras e quatro números amargamente inúteis.
.

.
O poema de Ferlinghetti:

''The World is a beautiful place
to be born into

If you don't mind happiness
not always being
so very much fun
If you don't mind a touch of hell
now and then
just when everything is fine
because even in heaven
they don't sing
all the time


(...) Yes, the world is the best place of all

for a lot of such things as making the fun scene
and making the love scene
and making the sad scene
and singing low songs and having inspirations
and walking around
looking at everything
and smelling flowers
and goosing statues
and even thinking
and kissing people and
making babies and wearing pants
and waving hats and
dancing
and going swimming in rivers
on picnics
in the middle of the summer
as just generally
''living it up''

Yes,
but then right in the middle of it
comes the smiling
mortician''

Posted by geneton at 03:42 PM

DÚVIDA NORDESTINA

Depois de anos & anos no Rio, confesso esta fraqueza: nunca entendi por que os cariocas dizem "murango". O certo não é morango ? E por que diabos dizem "culégio" ? O certo não é colégio ?

Pior do que "murango" e "culégio", só o "dizoito" que tanto atormenta os tímpanos do co-tamanqueiro Amin Stepple.

Posted by geneton at 01:35 PM

A VIDA IMITA O POETA NA MORTE DE JOEL SILVEIRA: O AGENTE FUNERÁRIO CHEGOU NA HORA. E A PLACA DO CARRO ERA LFR 1236

Faz pouco tempo, o Sopa de Tamanco publicou um belo poema de Lawrence Ferlinghetti. O poeta diz, com outras palavras, que o mundo é um belo lugar, mas um dia, cedo ou tarde, ele virá : o agente funerário sorridente.

E o agente veio. Acabo de sair da casa de Joel Silveira. Não quis ver a saída do corpo. A Santa Casa de Misericórdia avisou que o agente chegaria às duas horas. Pensei comigo: "Com a pontualidade brasileira, ele vai chegar lá para as quatro da tarde".

Engano. Nem uma hora e cinquenta e nove minutos nem duas horas e um : eram duas em ponto quando o agente apertou a campainha, no apartamento de Joel Silveira, no sexto andar de um prédio da rua Francisco Sá, em Copacabana.
O agente encenava, sem suspeitar, o poema de Lawrence Ferlinghetti.
Era como se dissesse: tudo pode atrasar no Brasil, mas a morte, quando vem, chega exatamente na hora, sem tolerância. Nem um segundo de atraso.

Desci do sexto andar. Lá embaixo, tive o gesto inútil de observar a placa da Kombi branca da Santa Casa de Misericórdia: LFR 1236. A Kombi trazia, nas laterais, o nome da Santa Casa e o telefone: 0800 257 007.

Joel tinha inveja de um personagem de Victor Hugo que, minutos antes de ser guilhotinado, dizia, resignado, que estava pronto para a execução,mas "gostaria de ver o resto". Ou seja: o personagem gostaria de descrever a própria morte.

Que palavras Joel usaria ?

Quanto a nós, discípulos e aprendizes, já não há o que fazer, além de anotar a placa da Kombi : LFR 1236, três letras e quatro números amargamente inúteis.

É assim que uma vida se acaba, exatamente no meio de agosto.


O poema de Ferlinghetti:


''The World is a beautiful place to be born into
If you don't mind happiness not always being so very much fun

If you don't mind a touch of hell now and then just when everything is fine

because even in heaven they don't sing all the time

(...) Yes, the world is the best place of all

for a lot of such things as making the fun scene

and making the love scene

and making the sad scene

and singing low songs and having inspirations

and walking around

looking at everything

and smelling flowers

and goosing statues

and even thinking and kissing people and

making babies and wearing pants

and waving hats and

dancing and going swimming in rivers

on picnics in the middle of the summer as just generally ''living it up''


Yes, but then right in the middle of itcomes the smiling mortician''


Posted by geneton at 12:25 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 5

Desprendo os dedos do teclado. É imperativo. Sinto que vacila a velha máquina, antes tão fiel, tão submissa, tão ingenuamente certa do que fazia. Vacilam os tipos, vacilam as palavras que não querem ser mais usadas, porque aprenderam que nunca foram ou serão ouvidas. Esmaecidas e exaustas, as teclas parecem implorar:

-Deixa-nos em paz. Não vês que perdemos a voz ?

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:22 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 4

Ir aos poucos, com lucidez e cálculo, e sem qualquer arroubo, cortando as pontes atrás de si : um prazeroso, estimulante exercício.

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 11:22 AM

A MORTE DO MAIOR REPÓRTER BRASILEIRO: JOEL SILVEIRA

aqui, um perfil de Joel Silveira:

http://www.geneton.com.br/archives/000114.html

Posted by geneton2 at 10:45 AM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 3

Tudo - pessoas, acontecidos e lembranças - vai se tornando cada vez mais remoto. Eu próprio : pode haver coisa mais remota ?

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 10:22 AM

JOEL SILVEIRA MORREU

Eis uma notícia que eu não gostaria de dar : a morte do maior repórter brasileiro.

Joel Silveira morreu dormindo às oito horas da manhã desta quarta-feira, em casa, na rua Francisco Sá, em Copacabana. Nasceu em Sergipe, no dia 23 de setembro de 1918. Tinha oitenta e oito anos, portanto. Vivia no Rio desde 1937. Com a saúde debilitada, deixou instruções: não queria velório. Pediu para ser cremado o mais rápido possível.

Disse-me, por telefone, há poucos dias :"Geneton, estou morrendo. É o fim". Há dez dias, em casa, tinha disposição para conversar.

O que fica ? Um excepcional trabalho jornalístico: os textos de Joel sobre a guerra são clássicos. Páginas como a descrição do encontro com Getúlio Vargas, idem ( ver trecho abaixo).

O Joel que fica é o repórter talentosíssimo, o precursor brasileiro do chamado "novo jornalismo", a "víbora" divertida e ferina.

Joel foi mestre e amigo. A morte é, como sempre, uma piada de péssimo gosto. O Joel de nossas lembranças vai ser sempre o que se revelava em conversas como estas:

http://www.geneton.com.br/archives/000104.html

*****************************
ou:

http://www.geneton.com.br/archives/000025.html

e:

http://www.geneton.com.br/archives/000114.html

Posted by geneton at 10:13 AM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2

Velho desejo meu: evitar o futuro. Estou quase conseguindo.

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 09:23 AM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Como me alegra apito de navio se despedindo ! É como se eu estivesse dentro dele.

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 08:24 AM

agosto 14, 2007

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2

O Brasil está sempre "virando uma página da História". Só não dizem que a maioria é de páginas em branco.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 01:39 PM

O FIM DA LINHA

O "relativismo cultural" tolera tudo. É tudo certo, tudo lindo, tudo explicável. Logo aparece um idiota para justificar qualquer coisa.

Mas ontem, em questão de minutos,diante de milhões de espectadores, em duas reportagens diferentes, duas entrevistadas, com aparência de classe média bem remediada, capricharam na pronúncia da palavra "esteje" . Uma das entrevistadas era, se não me engano, professora. Pode ?

Os vizinhos do cemitério de Santo Amaro, no Recife, sentiram um leve tremor sob os pés. Era meu professor de português, Manoel Torres, se revirando no túmulo.

Posted by geneton at 01:39 PM

A DOCE ILUSÃO : PUBLICAR LIVROS

O Departamento de Blogs do planeta Terra funciona assim : um cita o outro - que cita o outro, numa corrente sem fim. O blog Todoprosa.com.br traz um link para uma radiografia do mercado editorial. O Sopa de Tamanco pede licença para repetir o link.

Por trás de toda discussão, fica no ar uma pergunta: por que, afinal, um autor novo tenta a todo custo publicar um livro por uma grande editora, se um número equivalente de leitores pode, em tese, ser atingido via Internet ? Não é mais fácil,mais prático, mais rápido e menos dispensioso expor um texto num blog ou num site ?

Arrisco-me a dizer: autores preferem enfrentar a ciranda das editoras porque nada, nada, nada conseguiu, até hoje, substituir o "fetiche" do objeto-livro. Nada é tão prático, nada é tão portável, nada é tão "guardável". Um blog, neste caso, não serve como substituto. São duas "plataformas" distintas, para usar palavra tão de agrado dos comunicólogos.

Os textos que povoam a Internet podem até ficar estocados por décadas e décadas, ao alcance de qualquer busca do Google. Não são,portanto, tão perecíveis. O "problema" é que, independentemente desta eventual permanência, tudo o que circula na Internet carrega, tatuada na pele luminosa dos monitores, a marca da transitoriedade : tudo parece fugaz, rápido, fugidio. Já o livro sempre ostentou, por todos os séculos, uma nobreza que permanece intocada : a da permanência.

Quando desembarca numa biblioteca, um livro, por mais medíocre que seja, pode não sobreviver como obra literária, mas resistirá como objeto. Com cem por cento de probabilidade, terá uma vida incomparavelmente mais longa que a do autor. Um dia, quem sabe, um livronauta pousará na biblioteca para folhear aquelas páginas. Feitas as contas, a doce ilusão da permanência é que move um autor a enfrentar a empreitada de publicar um livro. É como se o eterno jogo de esconde-esconde com a morte pudesse ser, ilusoriamente, resolvido com uma arma de papel.

Eu me arrisco a dizer que todas as outras motivações são secundárias.

Quem entende como funciona a máquina de fazer livros pinta este retrato:

"Com o meu ponto de vista de quem trabalhou vários anos numa editora de grande porte, acho curioso que tanta gente boa tenha tanta vontade de ser editado por uma dessas ditas grandes casas editoriais. Porque, pela minha experiência, isso não ajuda em nada. Não sei se tem a ver com um desejo muito forte de reconhecimento, de ser notado pelo meio editorial, supostamente por especialistas (nhé!, duplo nhé!). Mas rola esse fetiche da distruibuição nacional, de ter os livros expostos em livrarias, essas coisas que não passam disso mesmo: fetiches. O resultado prático disso é o que vocês já podem imaginar: nenhum. Um autor brasileiro desconhecido que tem um livro lançado por uma grande editora não vende. As pessoas não compram, ora. Sei lá por quê, com certeza há vários motivos na psique do consumidor brasileiro de livros (essa figura misteriosa). Mas já vi investimentos razoáveis em marketing, anúncios, até resenhas boas, nada disso faz as vendas decolarem. Nada".

( aqui, o texto completo:http://terapiazero.blogspot.com/2007/08/divagaes-sobre-o-mercado-editorial.html)

Posted by geneton at 01:38 PM

ABERTA A TEMPORADA NACIONAL DA IMPLICÂNCIA

Diante do espanto provocado por pronúncias esquisitas ("dizoito", "murango", culégio"), o Sopa de Tamanco declara oficialmente aberta a temporada nacional da implicância. A partir de hoje, os tamanqueiros se dedicarão em tempo integral ao saudável exercício de listar as idiotices que merecem ser combatidas com doses maciças de implicância, três vezes ao dia.

Um exemplo ?

Por que diabos nove em cada dez frases pronunciadas em solo de São Paulo começam com a palavra "então" ?

Posted by geneton at 01:33 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Eu nunca soube do caso de um maluco - e falo dos verdadeiros - que primasse pela modéstia. Mesmo nos doidos mais mansos, a loucura é fundamentalmente exibicionista.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:40 PM

agosto 13, 2007

PIAUÍ - 2.OU: FERNANDO HENRIQUE : "A PARADA DE SETE DE SETEMBRO É UMA PALHAÇADA" ;"COLLOR EMBOLSOU E PRONTO"; "O INÍCIO DE SERRA NÃO FOI BRILHANTE"

Quanto à revista Piauí, outro pequeno reparo : há uma discrição, uma elegância, uma timidez exagerada na apresentação das matérias. É óbvio que ninguém espera que a Piauí berre nas bancas como um tablóide sensacionalista inglês. Mas uma boa chamada com declarações feitas por Fernando Henrique Cardoso na no perfil assinado por João Moreira Sales certamente chamaria a atenção de leitores distraídos, aqueles que precisam ser conquistados quando passam os olhos nas capas dependuradas nas bancas:

"A PARADA DE SETE DE SETEMBRO É UMA PALHAÇADA"

"Em que momento nos sentimos uma nação ? Talvez só no futebol. O carnaval é uma celebração. A parada de sete de setembro é uma palhaçada. Quem se sente irmanado no Brasil ? O Exército -e talvez só ele. Os americanos têm os seus founding fathers. Pode ser uma bobagem,mas organiza a sociedade. A França tem os ideais da Revolução. O Brasil não tem nada"

"COLLOR SEQUER PAGOU IMPOSTOS SOBRE AS SOBRAS DE CAMPANHA: EMBOLSOU E PRONTO"

"Li que Collor sequer pagou os impostos sobre as sobras de campanha. Embolsou e pronto. Como pode ? O pessoal do meu partido diz que o que ele fez é menos grave que os escândalos do PT. Isso lá é desculpa ? O problema do Brasil não é nem o esfacelamento do Estado. É algo anterior : é a falta de cultura cívica. De respeito à lei. Sem isso, como fazer uma nação ?".

"INÍCIO DE SERRA NÃO FOI BRILHANTE"

"Serra seria um bom presidente. Quebra lanças. Aécio é mais conservador, acomoda mais. Isso dito, politicamente Aécio é fortíssimo. Pode ser menos preparado que Serra, mas é popularíssimo. Não precisa provar mais nada.Serra precisa. O governo dele em São Paulo é que decidirá- e o início não foi brilhante"

"ERA MELHOR LULA DIZER :FULANO ME AJUDOU A COMPRAR O APARTAMENTO"

"Não acredito que Lula tenha práticas de enriquecimento pessoal. O que há é que ele é um pouco leniente (...) Era melhor ele dizer : fulano me ajudou a comprar o apartamento; o partido me deu tal dinheiro. Lula não pensa em dinheiro. Ele gosta de poder. Gosta de vida boa".

Posted by geneton at 01:42 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2

Modesto como um pavão, o literato explica:

-Eu nunca disse que eu era o centro do universo! Meu umbigo é que é...


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 01:42 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Lá está no vídeo o imponente entrevistado com o intróito de sempre:

- Veja bem....

Ponho os óculos, olhos lá na frente, olho atrás, olho dos lados, olhos em cima e embaixo, e não vejo nada, absolutamente nada.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:42 PM

agosto 12, 2007

A MÚLTIPLA ESCOLHA

Os jornais publicam uma foto de uma noite de autógrafos que há de provocar devaneios existenciais nos leitores. Você preferiria:
a) passar quarenta e cinco anos ardendo no fogo do inferno
b) penar durante cinquenta horas a bordo de um barco sacolejante
c) perder-se numa mata infestada de mosquitos e cascavéis
d) ir a uma livraria em que uma ex-Big Brother, sob os olhares do Alemão e de uma matilha de sub-celebridades, autografa a grande obra que realizou: as fotos em que aparece pelada.

Peço trinta dias para estudar a resposta.

Posted by geneton at 01:45 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2

Além de pretensiosa, "Eu" é uma das palavras mais feias e mais ocas do nosso vocabulário.

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 01:45 PM

PAUSA NAS TAMANCADAS. VIDA LONGA ÀS REVISTAS PIAUÍ E ROLLING STONE !

A raça dos jornalistas adora dar diagnósticos "catastrofistas". Já se escreveu mil e uma vezes que a grande reportagem morreu.

É verdade que Dona Reportagem anda problemas de saúde. Os jornais já não dão a ela o espaço merecido. Já não investem como antes em repórteres que poderiam - e deveriam - passar semanas a fio apurando uma grande história. Em nome da tal da objetividade, houve, sim, um empobrecimento assustador do texto jornalístico. Mas as notícias sobre a morte da reportagem são exageradas.

Dois exemplos:

1. A edição brasileira da revista Rolling Stone tem publicado reportagens de "fôlego", nada parecidas com os despachos telegráficos estampados nos nossos jornais. A Rolling Stone brasileira não é boa. É ótima. Caminha, célere, para se transformar em leitura habitual de quem quiser saber o que vai pelo ar, além de aviões com reverso travado. A nova edição traz - entre tantas outras coisas - uma reportagem especial sobre o Líbano ; perfis da super-jogadora de futebol Martha e de Céu, bela novidade da música brasileira ; uma extensa matéria sobre as andanças de Caetano Veloso às voltas com platéias jovens; o tráfico de fósseis do sertão nordestino para o exterior etc.etc. O cardápio, como se vê, é extremamente variado. Bola na rede.

2.A revista Piauí vai se firmando, também, como refúgio da chamada "grande reportagem". Ou seja: aqueles textos que vão fundo, esmiuçam os personagens, dissecam um assunto. A nova edição, a de número onze, é leitura para horas e horas. Lá estão um belo relato sobre as peregrinações de Fernando Henrique Cardoso por universidades do exterior ; retratos de personagens interessantes como o "guru" Mangabeira Unger, o dramaturgo Roberto Athayde, o "agitador" Bruno Maranhão, militante do MLST. Leitor, faço um pequeno reparo : não há qualquer motivo para que os textos que abrem a revista, na seção Esquina, não sejam assinados. Quem lê quer saber o nome de quem escreve. Como se diz lá no Piauí, "what is the point? ". Por que omitir os autores ? Os textos da seção Talk of The Town da revista New Yorker, uma das inspirações da Piauí, são assinados. "Detalhes tão pequenos" não comprometem, no entanto,o acerto geral. Bola na rede.

Carpideiras, recolham os lenços, por enquanto. Os sinais vitais de Dona Reportagem estão parcialmente preservados. É o que nos mostram a Piauí e a Rolling Stone.

Quando eu crescer, quero trabalhar numa revista dessas.

Posted by geneton at 01:44 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Do compadre, tirando lentamente os olhos do jornal ( que é que ele teria lido ?):

-Brasileiro tem mania de inventar coisas, mas, em compensação, desinventa com a mesma facilidade....


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:45 PM

agosto 11, 2007

A CHATICE DESIMPORTANTE

QUATRO ASSUNTOS CHATOS MAS IMPORTANTES:

1.COTAÇÃO DO DÓLAR
2.QUALQUER COISA SOBRE PROGRAMAS DE COMPUTADOR, SOFTWARES & BICHOS AFINS
3.PRESERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA
4.DEFESA DO CONSUMIDOR


QUATRO ASSUNTOS CHATÍSSIMOS E DESIMPORTANTES:

1.DISCUSSÃO SOBRE BEIJO GAY EM NOVELA
2.PSEUDO-CELEBRIDADE FALANDO SOBRE EDUCAÇÃO DOS FILHOS
3.VIAGEM DE GRUPINHO FOLCLÓRICO PARA SE APRESENTAR NA EUROPA
4.AS METÁFORAS FUTEBOLÍSTICAS DO PRESIDENTE

Posted by geneton at 01:48 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2

Quando eu morrer, gostaria que enrolassem meu corpo na bandeira do Kiribati - e me cremassem enrolado nela. A bandeira é muito bonita. E, pensando bem, no fundo eu sempre me senti um tanto kiribitano - ou é kiribitanês ?

Posted by geneton at 01:46 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Ou tombam logo essa tal da Bossa-Nova ou a dita desmorona de vez. Dia destes vi o intragável João Gilberto assoviando e sussurando na televisão. Tudo nele era rachadura, infiltração e goteira.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:46 PM

agosto 10, 2007

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

O ideal na vida seria ser o único passageiro de um trem sem maquinista que, a duzentos quilômetros por hora, corresse em direção a lugar nenhum.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 01:49 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA 2.OU: O SALÁRIO BRUTO, O SALÁRIO LÍQUIDO E O SALÁRIO GASOSO

Os salários do povaréu, no Brasil, se dividem em três partes : a bruta, a líquida e a gasosa , prevalecendo esta última.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 01:48 PM

agosto 09, 2007

OPERAÇÃO DE VOLTA PARA CASA : RIO DE JANEIRO PARA HAVANA, EM TEMPO RECORDE

Há algum tempo, o Sopa de Tamanco publicou :

Uma iluminação inesperada pode surgir logo ali, na esquina.Ao trafegar pelo blog de Nelson Vasconcelos, no Globo On Line, recebo a informação de que um leitor fez a grande descoberta: O Brasil pode ser o inferno de outro planeta.

http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/nelson/


Por que ninguém chegou, antes, a esta conclusão tão óbvia? Imagino que o esquema deva funcionar assim : quem resolver chorar para comover a platéia, depois de ter sido flagrado com a mão no dinheiro público; quem gostar de novela em que atores fazem papel de débeis mentais para parecerem engraçados ; quem escrever, cantar,ouvir e propagar pagode; quem andar pela rua de bandana; quem trabalhar em agência de telemarketing; quem usar celular com música engraçadinha; quem começar frase com "veja bem"; quem posar para a revista Caras com cara de satisfação diante de uma cesta de frutas num falso café da manhã; quem, enfim, em algum lugar do universo, cometer pecados parecidos com estes é despachado para o Brasil quando morre.
Agora,ficou tudo claro.

Poucas semanas se passaram. Eis que dois atletas cubanos devem estar, neste momento, com a sensação de que o Brasil é de fato uma sucursal do inferno, habitada por uma variada fauna de demônios.

Os dois vieram disputar os jogos pan-americanos. Não queriam voltar para Cuba. O Brasil poderia, por exemplo, conceder asilo à dupla. Não é assim que o mundo civilizado trata os dissidentes ?
Mas o que fez o Brasil ? A Polícia Federal entrou em campo para caçar os cubanos e deportá-los em tempo recorde de volta para Cuba.

Diga-se e repita-se: é um caso suspeitíssimo de eficiência policial. É o que o Sopa de Tamanco vem dizendo desde o início.

O Brasil não poderia - nem deveria - ter agido assim com os atletas cubanos ( nem com qualquer outro dissidente de qualquer regime).

É pule de dez: há qualquer coisa de podre nessa Operação De Volta para Casa. Cuba pediu os atletas de volta, o Brasil deu de bandeja.

Quando o Brasil vivia sob uma ditadura, toda viagem para Cuba era tida como suspeita. Mas nunca uma viagem de volta a Cuba foi tão mal explicada quanto esta, co-patrocinada pelo governo brasileiro.

Posted by geneton at 02:45 PM

QUANTO É QUE VOCÊ PAGA ?

O Departamento de Contabilidade do Sopa de Tamanco continua - obsessivamente - fazendo as contas, para estudar a gravidade do caso IS de cachê superestimado. Como já foi dito e repetido, Ivete Sangalo pediu 600 mil reais para se apresentar numa festa de boiadeiros no interior de São Paulo. O pedido foi recusado.

Se William Shakespeare fosse vivo, cobraria apenas 15 mil reais para fazer uma conferência. A única exigência: um jantar à base de fish and chips, água mineral sem gás, condução para levá-lo de volta ao hotel. Thoman Mann iria por 12 mil, uma diária de hotel com café da manhá incluído, uma vã com ar-condicionado e um chucrute na hora do lanche.

Posted by geneton at 02:44 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2

Em toda a minha vida, jamais conheci um pilantra de alto coturno que não estivesse sempre bem vestido, não fosse bem falante e não mexesse o gelo do uísque de classe com o indicador de unha bem polida. E que, paternal e insinuante, não tivesse botado a mão no meu ombro e tivesse dito:

- Você precisa dar um jeito na vida....


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 02:43 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Fulano é tão antigo em tudo o que diz e escreve que, em seu cartão de visitas, devia acrescentar logo debaixo do nome : "Codinome : Outrora".


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 02:42 PM

O SOM RELATIVO

Cientificamente comprovado : o som mais irritante já emitido nos arredores do Atlântico Sul vem da Banda Calypso ( por que a vocalista não procura, urgente, um fonaudiólogo ?). Ninguém é obrigado a ouvir, claro, mas o que fazer quando você é nocauteado, sem aviso prévio, pelos grunhidos ?

O relativismo cultural diz que a Banda deve ser talentosíssima e fenomenal, porque faz sucesso de público.

É o fim.

Posted by geneton at 02:42 PM

COMO DIZIAM OS MUROS DE MAIO DE 68 EM PARIS....

A humanidade só será feliz no dia em que o último praticante de Tai Chi Chuan for pendurado nas tripas do penúltimo.

Posted by geneton at 01:50 PM

COMO DIZIAM OS MUROS DE MAIO DE 68 EM PARIS....

A humanidade só será feliz no dia em que o último praticante de Tai Chi Chuan for pendurado nas tripas do penúltimo.

Posted by geneton at 01:50 PM

agosto 07, 2007

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

O mal de Aracaju, onde nasci, é que lá ainda tenho muito amigo de infância.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 11:29 AM

agosto 06, 2007

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

-Você sabe por que baiano fala devagar, quase parando, como quem se espreguiça ?
-Não.
-Para esticar o máximo possível a falta de assunto.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 11:34 AM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA - 2

Tentar de toda maneira fugir de um fim de semana com todos os seus apelos e tentações - eis aí um sério problema para quem quer sobreviver nesta cidade do Rio de Janeiro. Tremo da cabeça aos pés, sinto frio na medula quando sexta à tarde ou no começo da noite o telefone toca e alguém do outro lado pergunta:

-Você já tem programa para amanhã ?

O que me salva é que estou sempre saindo de uma hepatite - doença que nunca tive.

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 11:33 AM

PERGUNTA FEITA AOS CÉUS

Lady Francisco ( !!!!) continua solta ?

Posted by geneton at 11:33 AM

CACHÊ DE 600 - 2

Ivete Sangalo cobrou 600 mil para se apresentar numa festa de boiadeiro no interior de São Paulo.

Mozart, se estivesse vivo, iria feliz e satisfeito por 28.500 reais.

Posted by geneton at 11:32 AM

agosto 04, 2007

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Não entendo quando leio nas colunas sociais referência à "mocidade" da badalada flor do nosso soçaite - uma senhora de 37 anos.

Quando eu tinha 37 anos já era velhíssimo.

Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 11:49 AM

agosto 03, 2007

SOMOS TODOS VÍTIMAS DA SÍNDROME DE WOODY ALLEN

O exercício do jornalismo uma vez me deu a chance de gravar uma longa entrevista exclusiva com Woody Allen, na suíte de um hotel de frente para o Hyde Park, em Londres. Eu me lembro especialmente de uma declaração. Lá pelas tantas, ele disse que, assim que terminava um filme, começava imediatamente a fazer outro, porque, se não fosse assim, passaria a olhar obsessivamente para uma nuvem escura que flutua à altura de nossos ombros e nos acompanha por toda parte: a morte. Em outras palavras, ele dizia que os filmes podem até ser dispensáveis, mas precisam ser feitos, porque impedem que os olhos passem o tempo todo fixados na tal nuvem escura.

Tenho esta sensação quando entro numa livraria. Noventa e sete por cento dos livros são dispensáveis. O mundo existiria sem eles. Mas os autores precisam escrevê-los. Noventa e oito por cento dos filmes são dispensáveis.O mundo existiria sem eles. Mas os diretores precisam fazê-los. Noventa e nove por cento dos blogs são dispensáveis. O mundo existiria sem eles. Mas os blogueiros precisam abastecê-los.

Somos todos vítimas da Síndrome de Woody Allen.

Ainda bem.

Posted by geneton at 11:43 AM

agosto 02, 2007

A "MÁQUINA DE FAZER LIVROS" NA HORA JÁ EXISTE!

Os tamanqueiros que frequentam este blog haverão de se lembrar: faz poucas semanas, o Sopa de Tamanco registrou a previsão de uma revista inglesa, a Prospect, sobre o futuro do livro. Em pouco tempo, o leitor chegaria à livraria, escolheria o título numa lista e apertaria um botão. Uma máquina imprimiria na hora um exemplar - com acabamento igual ao de qualquer outro livro.

Assim, diziam os profetas, os custos serão barateados: não haveria transporte, estocagem etc.etc. O melhor: não haveria encalhes. O livro é impresso "a pedido".

Demorou pouco para que a previsão se realizasse.

Hoje, primeiro de agosto, o site Blue Bus noticia que a tal máquina já começou a funcionar, na Biblioteca Pública de Nova York.

Nunca vi uma previsão se realizar em tão pouco tempo.

(Quer ver uma imagem da máquina? É só clicar: http://www.bluebus.com.br/show.php?)p=2&id=78415)

Posted by geneton at 11:58 AM

SÓ PAÍSES INSEGUROS E NARCISISTAS VIVEM EM BUSCA DE UMA IDENTIDADE NACIONAL. E NARCISISMO É SEMPRE UMA AGRESSÃO AO PRÓXIMO. PALAVRA DE HISTORIADOR

De uma entrevista com o historiador Evaldo Cabral de Melo:

GMN - O senhor diz que a busca permanente por uma identidade nacional é uma característica de "países inseguros". A busca por uma identidade não seria, pelo contrário, um sinal de vitalidade ?

ECM - Pode ser um sinal de vitalidade, mas este detalhe não exclui o fato de que normalmente os países não se perguntam por suas identidades ! Os países vivem suas vidas sem perguntar e sem levantar este problema !. A tendência a proclamar a identidade em face do mundo, como ocorre hoje com o Brasil, me soa como uma espécie de narcisismo coletivo que acho desagradável, como todo tipo de narcisismo. Todo tipo de narcisismo ,individual ou coletivo, é uma agressão em relação ao próximo. A mania de ficar lançando aos olhos da humanidade a nossa grande originalidade nacional me parece uma coisa de gosto duvidoso".

GMN -...Mas a busca por uma identidade nacional gerou obras fundamentais, como Casa Grande & Senzala; livros importantes, como "Teoria do Brasil" - de Darcy Ribeiro - e até movimentos culturais, como o Manifesto Antropofágico, por exemplo. O senhor nega o valor dessas obras ?ECM - Claro que não nego o valor dessas obras, essenciais para a cultura brasileira no século vinte. O que estou dizendo apenas é que elas correspondem a uma receita cultural que, como toda receita cultural, se esgota ao longo do tempo, como as escolas literárias ou escolas de pintura se esgotam. Toda essa preocupação com a identidade na cultura brasileira já vem dando evidentes sinais de cansaço. Já não produz hoje os livros que produziu há cinqüenta, sessenta anos. Pelo contrário : nota-se um declínio pronunciado na qualidade dos livros. Porque não há como falar indefinidamente de um assunto que, por natureza, é esgotável".

(aqui, a entrevista completa:http://www.geneton.com.br/archives/000120.html)

Posted by geneton at 11:52 AM

"O BRASIL É UMA REPÚBLICA FEDERATIVA CHEIA DE ÁRVORES E DE GENTE DIZENDO ADEUS" ( OSWALD DE ANDRADE)

Se o Brasil fosse freguês de analista e chegasse a um consultório todo pimpão em busca de um diagnóstico, sairia de lá com um pedaço de papel em que estaria escrito: "Maníaco-Depressivo".

É improvável que exista na cartografia mundial o registro de um país que passe com tanta frequência e com tanta facilidade da euforia à depressão.

Em um momento, esta "república federativa cheia de árvores e de gente dizendo adeus" vai ser o farol que iluminará o Atlântico Sul com raios de originalidade, vitalidade, grandeza, como se fosse um filme épico.

Quarenta e cinco segundos depois, o país é uma republiqueta desqualificada,
um grande equívoco histórico, o refúgio de uma elite branca incurável, um enorme aglomerado de ineficiências, frustrações e promessas adiadas, como se fosse um filme B dirigido por incompetentes e estrelado por canastrões.

Depois de quarenta e cinco segundos de hesitação, cravo a coluna do meio, o que só reforça, em minhas florestas interiores, a impressão de que vivemos todos numa enorme gangorra verde-amarela.

Posted by geneton at 11:51 AM

agosto 01, 2007

UM BLOG QUE NÃO PERDOA : O SOPA DE TAMANCO

(é só clicar:
http://www.sopadetamanco.blogspot.com)

Posted by geneton2 at 12:51 PM

PÍLULAS DE VIDA DO DOUTOR SILVEIRA

Quando, em encontro ocasionais (e, para felicidade minha, cada vez mais raros), tenho de suportar Fulano com aquele sorrisinho que pretende ser sarcástico, e encarando-me com aquela inchada suficiência, penso comigo mesmo:
-"Que grande, irremediável idiota!"

Exatamente o que ele na certa pensa de mim.


Joel Silveira, datilografado por GMN

Posted by geneton at 12:01 PM

UM REI ITALIANO SE APAIXONA POR JOGADORES DA SELEÇÃO BRASILEIRA...(E ACABA DE SAIR DO FORNO "JOGO DURO", A BIOGRAFIA DE JOÃO HAVELANGE)

Qual é o espaço para a chamada "grande reportagem" hoje, na imprensa brasileira ? Quase nenhum. Dá para contar nos dedos da mão de um mutilado de guerra o número de casos em que os jornais e revistas investem tempo, dinheiro e talento naquilo que um dia se chamou de "reportagem de fôlego".

Generalizou-se a sensação de que o leitor não quer ler. A crença na suposta inaptidão do leitor para a leitura se espalhou como uma praga. Resultado: é tudo curto, tudo telegráfico, tudo uniformizado. Não estou aqui, óbvio, idealizando a figura do leitor, esta entidade que entra numa banca sem ser visto,passa o olho na revistas e jornais, escolhe eventualmente a pior leitura e some sem deixar vestígios. É provável que ele se satisfaça com o reino dos textos telegráficos. Mas não é possível que não exista uma faixa de leitores pronta para consumir substância, conteúdo, consistência).

Hoje, no Brasil, o espaço nobre para a grande reportagem é o livro.
As editoras já descobriram há tempos este filão. Os repórteres deveriam acender uma vela na porta de entrada das editoras, transformadas na "fronteira final " da grande reportagem.

Acaba de sair do forno uma "reportagem de fôlego" em forma de livro : o jornalista Ernesto Rodrigues entrevistou Deus e o mundo para compor uma biografia quase-não-oficial do brasileiro que durante décadas mandou e desmandou no futebol mundial: João Havelange, o ex-presidente da CBD e da Fifa. Título do livro : "Jogo Duro". Editora :Record.

Digo "quase-não-oficial" porque Havelange colaborou com a biografia. Gravou horas e horas de depoimento. Teve a chance de ler o texto antes da publicação. Implicou com algumas coisas apuradas pelo repórter. Mas o livro saiu. Havelange, autocrata, autoritário, metido a imperador, ególatra, não deve, no entanto, cometer o ridículo que Roberto Carlos cometeu. Não tentará proibir o livro.

Lá, além de uma radiografia dos bastidores do poder do futebol, o leitor conhecerá histórias mais prosaicas, como, por exemplo, um problema enfrentado pela chefia da delegação brasileira durante uma excursão que passou pela Tchecoslováquia, em 1968 :
"O problema foi explicar à imprensa a substituição de vários titulares, sem revelar que o motivo não era panturrilha, mas gonorréia. Em Portugal, escala para um amistoso em Angola, o rei da Itália no exílio, Humberto II, se apaixonou, no sentido carnal, por vários jogadores".

Uma declaração de Havelange sobre o general Médici é a síntese da ação de homens como o ex-presidente da Fifa que, numa atitude tipicamente brasileira, batem no peito para se vangloriar de terem convivido bem com todo tipo de político e presidente, seja de esquerda, direita, ditador, democrata, bandido ou benfeitor:

- "Eu não tive nada a ver com o AI-5, não tive nada a ver com a Revolução. Eu respeitei o regime que havia no país, que era a minha obrigação como cidadão. Se foi bom ou se foi ruim, eu nada pude fazer".

Ah, a doce desfaçatez dos carreiristas...

"Jogo Duro": bem apurado, bem escrito, o que não é surpresa em quem já produziu a melhor biografia de Ayrton Senna.

O Sopa de Tamanco recomenda "JOGO DURO" e assina embaixo : é o futebol tal como se joga fora do campo, no silêncio dos gabinetes, longe do barulho dos geraldinos e arquibaldos.

Posted by geneton at 12:00 PM

"A VONTADE LOUCA DE CADA BRASILEIRO : TORNAR-SE UM FUNCIONÁRIO PÚBLICO"

Caetano Veloso:

"Joaquim Nabuco atribuía à escravidão a estrutura do pensamento do homem brasileiro como ser social : é a sensação paralisadora que o brasileiro tem de que tudo se deve às autoridades oficiais; toda queixa deve ser feita contra elas;todas as exigências devem ser feitas a elas;quase nenhuma responsabilidade resta para o cidadão.É essa vontade louca de cada brasileiro se tornar um funcionário público,uma estrutura que leva a coisas que me indignam. Sou,por exemplo,um obsessivo pela obediência às leis do trânsito.Sempre me pareceu absolutamente inaceitável que as pessoas no Brasil não considerem o sinal de trânsito um sinal nítido e simples,uma lei de convivência social paradigmática de todas as outras leis de convivência social".

(aqui, a entrevista completa: http://www.geneton.com.br/archives/000201.html)

Posted by geneton at 11:53 AM