RELATO COMPLETO DO MEU PRIMEIRO, ÚNICO E, PROVAVELMENTE, ÚLTIMO ENCONTRO COM WOODY ALLEN
Woody Allen chega aos oitenta anos neste primeiro de dezembro de 2015. Reviro meus arquivos, não tão implacáveis, à procura da transcrição da entrevista que fiz com o homem.
Tive a chance de entrevistá-lo longamente numa suíte do sétimo andar do Hotel Dorchester, diante do Hyde Park, em Londres. É uma dessas situações surrealistas que a gente vive no exercício do jornalismo: a chance de interrogar um cineasta de fama mundial.
Quando Woody Allen começa a falar, a gente sempre espera que vá soltar uma daquelas tiradas: “Eu me separei da minha primeira mulher porque ela era infantil demais. Toda vez que eu estava tomando banho na banheira ela vinha e afundava os meus barquinhos todos sem dar a menor explicação”. Ou então: “Não, eu nunca estudei nada na escola. Ou outros é que me estudavam”.
A coleção de tiradas de Woody Allen traz, como marca registrada, uma auto-ironia marcada por um sentimento de inadaptação à realidade. A fantasia, repete Allen, é sempre melhor. A entrevista aconteceu assim: um belo dia, você recebe um telefonema em casa. A produtora de um filme de Woody Allen oferece de mão beijada uma entrevista com o homem. Você comparece ao local na hora marcada. Não movi uma palha para conseguir o “furo de reportagem”. Só tive o trabalho de pegar o metrô. Nem sempre os repórteres suam a camisa.
A antessala estava entulhada de jornalistas estrangeiros. Woody Allen vai recebê-los em grupos de cinco. O assessor cronometra as mini-entrevistas coletivas. Com sorte, cada um terá tempo de disparar umas duas perguntas à celebridade. De vez em quando, o estúdio resolve fazer um agrado a um jornal ou a uma emissora de tevê. Oferece uma entrevista exclusiva porque sabe que, assim, o espaço será maior. É tiro e queda. Eu era, na época, correspondente do Globo em Londres.
A assessora de imprensa me puxa para um canto: diz que Woody Allen falará “a sós” comigo. A megera faz uma recomendação e um pedido. A recomendação: não devo fazer fotos, para não incomodá-lo. O pedido: que eu ficasse calado. Eu não deveria dizer aos outros jornalistas que tinha sido agraciado com a chance de fazer uma entrevista exclusiva com o homem. A mulher me faz um sinal discreto. Já posso entrar na suíte. Fico sozinho, à espera do astro.
Lá vem o bicho. A assessora tinha escoltado Woody Allen até a porta. Depois, desapareceu. Woody Allen caminha sozinho em minha direção, na suíte quilométrica. A pele de mister Allen exibe uma palidez de cera ( pergunto a meus botões : há quantos anos ele não toma um bom banho de sol ?. Mas intelectual não vai à praia : intelectual faz filmes, pelo menos no caso de Woody Allen. Adiante, como para confirmar as suspeitas, ele diria que jamais se habituaria a morar numa cidade ensolarada. Gosta é de chuva, tempo nublado, engarrafamento, livraria, loja de disco, bons restaurantes, barulho, enfim, todas essas pequenas delícias e horrores que formam a civilização).
Primeira impressão pessoal: não há diferença alguma entre o Woody Allen da vida real e o Woody Allen das telas. A fala é apressada. Um olhar tímido dirigido ao chão pontua o sorriso. Quando solta uma frase engraçada, para dizer, por exemplo, que quer a imortalidade aqui e agora – e não nas cinematecas, daqui a um século -, ri um riso tímido, entrecortado por suspiros. De calça de veludo marrom e suéter verde, dá a impressão de ter alguma dificuldade para ouvir, porque se aproxima exageradamente do rosto do repórter a cada pergunta. Fico pensando: ou o Woody Allen das telas imita o Woody Allen da vida real ou é o Woody Allen da vida real que imita o Woody Allen das telas. Porque um é a cópia do outro.
O bê-a-bá do jornalismo diz que entrevista boa é aquela que traz pelo menos uma declaração inesperada. Se tivessem o despudor de dizer em voz alta o que intimamente esperam dos entrevistados, os repórteres repetiriam algo como “senhor, fazei com que este desgraçado me confie pelo menos um segredo!”.
Quando ouvi Woody Allen dizer que adorava acompanhar “qualquer tipo” de esporte em tevês de quartos de hotel, imaginei que estava a ponto de colher uma bela pepita. Bastaria perguntar qual era o brasileiro que ele admirava. Com certeza, ele citaria uma de nossas estrelas dos gramados. Mas não. Woody Allen me surpreendeu: o brasileiro que ele mais admira é…..Machado de Assis!
Uma nota pós-entrevista: encerrada a gravação, faço algo que não costumo fazer. Tiro de dentro de um envelope uma máquina fotográfica. Pergunto a Woody Allen se ele se incomodaria se eu fizesse uma foto. “Não, nenhum problema!”, ele diz. Neste momento, a assessora – que tinha me dito que eu não fizesse fotos - entra na suíte, para avisar que o tempo estava esgotado. Quando vê que empunho uma máquina, a mulher me lança um olhar que faria um guarda de campo de concentração parecer um animador de festa infantil. É óbvio que ela tinha sido mais realista que o rei.
Ao contrário do que ela tinha dito, Woody Allen não se incomodaria em ser fotografado, pelo menos ali. Cometi, então, um sacrilégio. Passei a máquina para as mãos da megera. Pedi a ela que fizesse uma foto: o entrevistador ao lado de Woody Allen. Como não poderia ser indelicada diante da estrela Allen, a megera nos clicou. Woody Allen lança um olhar levemente inquisidor para a lente da câmera. Já o entrevistador-que-vos-fala é o desastre fotográfico habitual, um amontoado desconjuntado de ossos, músculos e espantos. Nada de novo, portanto: o de sempre. A foto passou anos no fundo de uma gaveta, para preservar os olhos de internautas sensíveis. Fiz uma busca. Terminei encontrando a foto que a assessora não queria que fosse tirada. Voilà.
Eis o que interessa - a entrevista:
GMN : Fazer filmes, no fim das contas, é a melhor maneira de superar a morte – ou pelo menos ter a ilusão de que é possível?
Woody Allen: “Não há como superar a morte. O que cada um deve fazer é se esforçar bastante para se encontrar em suas tarefas seja você um diretor de cinema, um motorista de táxi, um dentista ou um professor. Se você se concentra no trabalho, não vai ficar pensando na morte. Se, pelo contrário, você não pode se concentrar, a mente vai começar a se ocupar dessa nuvem escura que nos acompanha o tempo todo. Fica difícil, então. O fato de ser diretor de cinema não nos torna menos vulneráveis…”.
GMN : Mas, nesse sentido, há sim, uma diferença entre o motorista de táxi e o diretor de cinema, porque um ator ou um realizador de certa maneira não morre: daqui a cem anos alguém poderá estar vendo Woody Allen numa tela…
Woody Allen: “Mas não me preocupo em atingir a imortalidade através do meu trabalho! Quero a imortalidade é no meu apartamento! Isso é que conta! Imortalidade artística é catolicismo de intelectual. Os católicos pensam que existe vida depois da morte. Intelectuais que eventualmente podem nem ter relação alguma com o catolicismo pensam que existe vida depois da morte através da arte. Mas os dois estão errados”.
GMN : Se um crítico disser que você é um gênio e outro disser que você é um idiota, em qual dos dois você teria a tentação de acreditar?
Woody Allen: “Não leio nada que sai sobre mim nas resenhas. Porque tenho uma tendência de acreditar na última coisa que eu li. Se o crítico de um jornal escrever ‘esta pessoa é um gênio’, vou pensar aqui comigo: ‘Ah é? Sou gênio porque foi o New York Times que disse… ’ Se, por outro lado, alguém escrever ‘ele é um tolo; o filme não presta’, vou pensar: ‘Eu realmente fiz um filme ruim. Sou um bobo`.
A verdade é que coisas assim não são reais, não têm nenhuma relevância para um projeto. O fato de dez milhões de pessoas dizerem algo sobre um filme – ‘é ótimo ou ‘é horrível’ – não significa nada. O filme, por si mesmo, anos depois é que vai ver qual é a verdade. Não há como saber, agora – tanto em relação a filmes como em relação a qualquer obra de arte. Filmes que há anos eram considerados ótimos são esquecidos depois. Transformam-se em nada. Outros filmes – que não eram tão considerados quando do lançamento – permanecem em nossas consciências. Adquirem importância. ‘A Regra do Jogo’, filme de Jean Renoir, não foi bem recebido quando apareceu. Hoje é um clássico”.
“O fato de um diretor dizer que detesta um filme não quer dizer nada”
GMN : Você pediu ao estúdio para jogar fora o filme ‘Manhattan’ quando a versão final ficou pronta, porque não gostou do resultado. Mas ‘Manhattan’ se transformou num dos seus filmes mais elogiados. A má opinião que você tinha sobre o filme é uma prova de que você não é nem um pouco confiável como crítico?
Woody Allen: “Um diretor não é confiável quando fala sobre o próprio trabalho. O fato de um diretor declarar que detesta um filme não quer dizer nada. Igualmente, é estúpido dizer ‘os críticos são uns bobos, não sabem de nada, não entendem nada.’ Porque quem não entende, na verdade, é o diretor. Os críticos entendem, o público entende – o diretor é que não.”
GMN : Você divide os realizadores em duas categorias: os que fazem prosa e os que fazem poesia. Woody Allen faz o quê: poesia ou prosa?
Woody Allen: “Todo diretor tem filmes que adotam uma abordagem poética – e outros que utilizam a prosa. Filmes meus, como ‘Bullets Over Broadway’ e ‘Manhattan Murder Mistery’, são prosa. Já ‘Another Woman’ é poético.”
GMN : Quem é o melhor poeta da história do cinema?
Woody Allen: “Ingmar Bergman. Para mim, é o melhor. Kurosawa, com certeza, é um grande poeta. Bunuel, igualmente. Os três são os maiores poetas.”
GMN : A poesia é superior à prosa?
Woody Allen: “Não necessariamente, porque filmes como ‘Ladrões de Bicicletas’, ‘A Grande Ilusão’ ou ‘A Regra do Jogo’ são prosa: não são poéticos. Isso não quer dizer que não sejam grandes filmes. ‘Oito e Meio’ é um filme poético, assim como ‘Persona’. Não acho, então, que uma seja superior a outra.”
“Sou um não-artista de público pequeno”
GMN : Você lamenta que nem sempre exista uma correlação entre os melhores filmes de um diretor e o sucesso comercial.
Woody Allen ( interrompendo ): “É verdade! Frequentemente, não existe…”
GMN : “A Rosa Púrpura do Cairo”, um dos seus filmes favoritos, atraiu o que você chama de “pequeno público”. Você acredita então que existe uma contradição entre boa qualidade artística e mercado de massa?
Woody Allen: “É interessante o que você me pergunta. Saul Bellow articulou o conceito de artista de público pequeno e artista de grandes públicos. Fiz uma distinção entre um autor como Charles Dickens – um artista de grande público – ou James Joyce, consumido por um público pequeno. Isso é verdade também no cinema. Chaplin e Buster Keaton têm um público grande – e são artistas! Bergman e Bunnuel têm um público pequeno. Fico numa posição desconfortável, no meio do ar…Eu sinto que não sou um artista desse nível. Sou um não–artista de público pequeno…(ri)”
GMN : Mas você é considerado um diretor intelectual que atinge o mercado de massa…
Woody Allen – “Não concordo nem com uma coisa nem com outra. Não sou um intelectual. Não atinjo o mercado de massas. Meus filmes não atingem. Bem que eu gostaria. Também gostaria de ser intelectual. Mas não sou.”
“A realidade da vida é desagradável, difícil e dolorosa. Mas você pode criar uma realidade própria”
GMN : Você gostaria que seus filmes tivessem a popularidade de um filme de aventuras de Indiana Jones?
Woody Allen – “Não me incomodaria. Quando lanço um filme, gosto que o público goste. Prefiro ver o público satisfeito. Mas jamais faria algo para atrair o público- como, por exemplo, mudar o filme. Quando o público gosta, fico feliz.”
GMN : Você diz que tem problemas para delimitar o terreno entre a realidade e a fantasia. É esta a razão que o levou a se tornar um realizador: tentar resolver, através do cinema, a confusão entre fantasia e realidade?
Woody Allen : “Que bom que você tocou neste assunto. O que acontece é que a realidade da vida é desagradável, difícil, dolorosa. Quando você trabalha com pintura, com poesia, com literatura, com cinema, com teatro, você pode criar uma realidade própria, sobre a qual você exerce controle: você usa os personagens de que gosta, no cenário que prefere, para fazer com que o destino de cada um se realize da maneira que você quer. É ótimo.”
GMN : Você já sentia a confusão entre realidade e fantasia antes de se tornar cineasta?
Woody Allen- “Não é bem uma confusão. A verdade é que eu sentia que a fantasia é boa. A realidade é ruim. Muitos dirão: a verdade é bela, a realidade é bonita. Fantasia, não. Mas não sinto as coisas dessa maneira. Para mim, a fantasia é que é boa. A realidade não é nem um pouco atraente.”
GMN : Uma pergunta direta e boba: por que você faz filmes?
Woody Allen – “Faço porque cresci gostando de filmes. Quando entrei no show business me pareceu que todo mundo queria fazer cinema. Parecia ser a mais expressiva forma de arte, a de maior comunicação com o público. Além de tudo, você poderia exercer um controle sobre o produto- o filme. Depois, vi que havia gente disposta a me dar dinheiro. Em filmes- como na arquitetura- você precisa de um bocado de dinheiro para realizar um projeto. As empresas, então, começaram a me dizer: ‘Você terá cinco milhões de dólares para ou dez milhões de dólares para fazer um filme.’ Nem discuti.”
“Não me incomodo de ter encontros assim, com jornalistas – uma vez por ano”
GMN : Você não reconhece a ‘integridade’ ou a ‘credibilidade’ dessas escolhas do “melhor filme do ano.” Você quer ser visto sempre como um outsider?
Woody Allen – “Não comecei com essa história de outsider, mas ela terminou acontecendo. Vivo em Nova Iorque, Faço meus filmes. Acontece que, devido à minha personalidade e à maneira como vivo, me transformei num outsider, sem necessariamente querer ser. Eu teria disposição, se houvesse uma comunidade cinematográfica em Nova Iorque, para sair com outros diretores e amigos, almoçar com eles. Mas não tenho amigos nem diretores.”
GMN : Quando um filme como Manhattan estreou, nem em Nova Iorque você quis ficar. Igualmente, você não compareceu à cerimônia do Oscar. Agora, para divulgar o filme “Mighty Aphrodite” (“Poderosa Afrodite”), você aceita falar sobre cinema diante de um jornalista de um país distante- o Brasil. O que foi que mudou?
Woody Allen- “Geralmente não vou a cerimônias de premiação. Mas ficou caro promover e anunciar filmes. Quero, então, cooperar. Se dependesse de mim, eu faria o filme e diria: ‘Fiz; vocês que vendam.’ Mas os produtores dizem: ‘Por favor, ajude. Não podemos comprar espaço em jornais e na TV’. Eu prefiro, então, ser amigável…
Quanto aos encontros com jornalistas, não me incomodo de ter encontros assim. Eu não faria o ano todo, mas uma vez por ano, ou uma vez cada dois anos, não me incomodo de ter esses contatos, porque quero ouvir o que é que os jornalistas dizem ou que tipo de pergunta fazem.
GMN : Se você fosse convidado a escrever o verbete “Allen, Woody” numa enciclopédia, quais as primeiras palavras que você usaria para se definir?
Woody Allen- “Eu diria que Woody foi um realizador que fez filmes – alguns bons; outros não. Creio que seria um retrato exato.
Eu ficaria feliz se um dia, quando eu deixar de fazer filmes, pudesse ter feito um ou dois que fossem tão bons quanto os melhores que vi. Eu me sentiria realizado se fizesse um filme tão bom quanto ‘A Regra do Jogo’ ou ‘O Sétimo Selo’. Para mim, seria o suficiente.
Ah, eu ficaria muito feliz, sim.”.
“Sempre que faço um aniversário significativo, tenho um sentimento desagradável. Datas assim dão um tom dramático ao fato de que estou envelhecendo”
GMN : Você já confessou que prefere os romancistas russos, como Dostoievski, porque eles se ocupam de “temas espirituais”, ainda que outros romancistas, como Flaubert, sejam ‘tecnicamente superiores’. Você- que também se ocupa de temas espirituais no cinema- gostaria de ser visto como o Dostoievski das telas?
Woody Allen- “Não necessariamente. Sou muito mais engraçado do que Dostoievski”.
GMN : Todo mundo fala da “crise dos quarenta.” Agora, depois de completar sessenta anos de idade, você já entrou em crise? ( a entrevista foi feita duas semanas depois do aniversário de sessenta anos de Woody Allen, em dezembro de 1995)
Woody Allen: “Eu me senti mal quando fiz cinqüenta anos, um tempo pouco prazeroso para mim. Fazer sessenta também não é agradável. Sempre que faço um aniversário significativo, tenho um sentimento desagradável. Porque datas assim dão um tom dramático ao fato de que estou envelhecendo”.
“Quando vou a um país, passo a acompanhar os esportes locais”
GMN : Você – que é um grande fã de esporte – também gosta de futebol? ( faço a pergunta certo de que ele vai cobrir de glórias o futebol brasileiro. Quebro a cara pela primeira vez).
Woody Allen- “Conheço melhor o futebol americano. Gosto de todos os esportes, na verdade. Quando vou a um país, passo a acompanhar os esportes locais. Posso ver uma partida de críquete. Já fui a jogos de futebol.”
GMN : Já teve algum ídolo brasileiro, na área do futebol? ( aqui, tenho certeza de que ele citará nossos craques. Quebro a cara pela segunda vez).
Woody Allen- (depois de uma pausa para pensar) “Ídolo brasileiro? Há pouco tempo, li Machado de Assis. Achei que é um escritor excepcional. Uma amiga me deu um livro de Machado de Assis- ‘Epitaph for a Small Winner’ (título da tradução para o inglês de ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’). Fiquei muito, muito impressionado. Dei o livro a meus amigos. Porque Machado de Assis não é bem conhecido.”
GMN : O que é impressionou tanto você no livro?
Woody Allen – “Machado de Assis é excepcionalmente espirituoso, dono de uma perspectiva sofisticada e contemporânea, o que é incomum, já que o livro foi escrito há tantos anos. Fiquei muito surpreso. É muito sofisticado, divertido, irônico. Alguns dirão: ele é cínico. Eu diria que Machado de Assis é realista.”
GMN : Quem lhe passou o livro?
Woody Allen- “Nem me lembro agora do nome da pessoa que me passou o livro. Apenas ela disse: ‘Você deve gostar…’ Respondi: ‘Nunca ouvi falar de Machado de Assis.’ Mas li- e gostei muito.”
GMN : Você consideraria a possibilidade de filmar ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’? ( Jogo a cartada final, na esperança de que ele vá me revelar em primeiríssima mão que planeja levar às telas um autor brasileiro.Quebro a cara pela terceira vez).
Woody Allen- “Gosto de escrever meus próprios filmes. Mas Machado de Assis é um maravilhoso momento na literatura. Dei cópias do livro para minha filha e para os meus amigos.”
GMN : Você é um símbolo de Nova Iorque. Teria coragem de viver um dia numa cidade pequena e calma, longe de tudo?
Woody Allen- “Eu ficaria louco. Não poderia viver num lugar assim nem por dois dias- nem por um fim-de-semana. Preciso de cidades- seja Londres, Paris, Nova Iorque…Preciso de atividade, barulho, carros, restaurantes, livrarias, filmes. Sou viciado em civilização.”
GMN : Além de só gostar de cidade grande, é verdade que você detesta sol?
Woody Allen- “Adoro este tempo (olha para a janela do hotel; lá fora tudo cinzento: a chuva fina cai há umas doze horas).Gosto de Londres e Paris no inverno. Todo dia é bonito. É como um fotógrafo que gostasse de tons suaves.”
GMN : Você jamais viveria num país tropical?
Woody Allen : “Não! Não gosto de calor.”
GMN: Você prefere planos longos. É este o segredo que o leva a conseguir realizar um filme por ano?
Woody Allen: "Usar planos longos é mais fácil, mais rápido e mais barato. Além de tudo, os atores preferem. Quando a gente usa planos longos, os atores fazem tudo de uma vez só. Não precisam se preocupar em se ajustar a nada que tenha sido filmado anteriormente. Para mim, o que conta é a rapidez. Se tenho uma cena que ocupa cinco páginas de script, faço tudo num plano só. Outros diretores passariam o dia inteiro filmando. Para dizer a verdade, a razão principal por que filmo planos longos é que não tenho paciência".
Posted by geneton at novembro 30, 2015 01:15 PM