agosto 17, 2014

A GRANDE NOITE DOS DILEMAS, A LONGA TARDE DAS DESPEDIDAS

Faz um ano. Tínhamos terminado a gravação de uma entrevista com o senador Pedro Simon, em Brasília, para a Globonews. De repente, o nome de Eduardo Campos é citado.
( Simon tinha falado sobre a grande noite dos dilemas: as horas dramáticas em que se decidia o futuro político do Brasil numa sala de hospital em Brasília. Com a ausência do presidente eleito Tancredo Neves, internado às pressas na véspera da posse, quem deveria assumir a presidência da República naquele 15 de março de 1985? José Sarney - o vice de Tancredo - ou Ulysses Guimarães, o presidente da Câmara? Pedro Simon foi voto vencido: naquela madrugada, defendia a tese de que Ulysses Guimarães é que deveria sentar na cadeira de presidente durante o impedimento de Tancredo.

A explicação de Simon fazia sentido: se o presidente eleito - Tancredo Neves - ainda não tinha tomado posse, então o vice não poderia substituí-lo. Nenhum dos dois estava exercendo seus cargos. Mas Simon foi voto vencido: o vice Sarney foi entronizado no cargo. Como se sabe, terminou cumprindo todo o mandato, porque Tancredo Neves não sairia vivo do calvário que enfrentou nos hospitais. Um acontecimento absolutamente inesperado - a doença de Tancredo, um dia antes da posse - mudou tudo ali ).
Pouco antes de se despedir, Simon faz uma confissão: tinha ficado impressionadíssimo depois de uma longa conversa com Eduardo Campos. Já se vislumbrava, ali, um possível candidato à presidência da República. Não deu outra.
( Faz sete anos. Numa conversa em "off" em 2007, em São Paulo, depois de um debate sobre jornalismo, o já ex-chefe da secretaria de imprensa da Presidência da República, o grande repórter Ricardo Kotscho, dizia que Lula tinha uma certa predileção pelo então ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos. Kotscho lembrava que o então presidente vivia chamando o ministro para acompanhá-lo em viagens - até quando a presença de Eduardo não era rigorosamente necessária na comitiva. Naquela conversa, com anos de antecedência, Kotscho fez uma aposta que se revelaria acertada: dizia que, se fosse escolher uma candidatura dentro do PT para as eleições de 2010, Lula poderia lançar Dilma. Acertou na mosca .).
Agora, outro golpe inesperado do "destino" altera de novo os caminhos da política: o candidato Eduardo Campos embarca num voo fatal menos de uma semana antes do início da campanha "pra valer" - no rádio e na TV.
Choque, perplexidade - uma dor pernambucana que se espalhou pelo país.
Imagens tristes do Recife desfilam na tevê. A "carreata" que atravessou a cidade buzinando na madrugada atrás do caminhão que conduzia o corpo do candidato produziu cenas emocionantes.
Vai ser longa a tarde das despedidas. A comoção popular é sincera.
"Ah, minha cidade suja /
de muita dor em voz baixa /(...) de vestidos desbotados / de camisas mal cerzidas / de tanta gente humilhada / comendo pouco / mas ainda assim bordando de flores / suas toalhas de mesa / suas toalhas de centro / de mesa com jarros / - na tarde / durante a tarde / durante a vida - cheios de flores / de papel crepom / já empoeiradas / minha cidade doída".
É como se a cidade lembrasse dos versos bonitos de Gullar no Poema Sujo - ou daquela velha canção de Caetano: "Guitarras / salas/ vento/ chão / Que dor no coração".
O Diário de Pernambuco divulgou o que seria a primeira peça de uma campanha presidencial que já não poderá ser feita:

Posted by geneton at agosto 17, 2014 01:36 PM
   
   
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