setembro 10, 2014

CENAS DE BASTIDORES: PEGAR OU NÃO UM AUTÓGRAFO DO "HOMEM MAIS ODIADO DA AMÉRICA"?

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Depois de negociações via fax com a direção do presídio de segurança máxima, consigo uma entrevista com um dos assassinos mais célebres da história dos Estados Unidos – o homem que matou o pastor Martin Luther King. ( Aos que nasceram ontem: Martin Luther King é herói da luta contra a segregação racial ).
O assassino chama-se James Earl Ray. Cumpria pena de prisão perpétua numa penitenciária em Memphis, Tennessee. Chegou a ser chamado de "o homem mais odiado da América".
Uma pequena odisseia precede o encontro. Somos obrigados a fazer uma lista minuciosa de todo o equipamento que estamos conduzindo (fios, microfones, baterias).
Depois, o guarda nos ordena que deixemos numa caixa todas as cédulas, moedas e talões de cheque que tivermos nos bolsos. O dinheiro é trancafiado num cofre. Vai ser devolvido na saída. Motivo: evitar que se faça qualquer pagamento ao prisioneiro em troca da entrevista.
Por fim, passamos - eu e o cinegrafista Hélio Alvarez - por pelo menos cinco portões que isolam os detentos do resto do mundo. O próximo portão só se abre quando o anterior se fecha. Cercas eletrificadas completam o aparato.
Penso comigo: é tecnicamente impossível escapar desse inferno. James Earl Ray chega para a entrevista mascando chicletes. Os olhos azulíssimos são espertos.
O homem é articulado: fala bem, concatena com clareza suas idéias. Faço a pergunta que ele com certeza ouve há anos: você matou Martin Luther King? A resposta é sucinta: “Não”. Mas as provas são conclusivas: as impressões de James Earl Ray estavam no rifle usado para matar King em abril de 1968, na varanda de um hotel de Memphis.
Martin Luther King tinha um sonho: acabar com o preconceito racial. James Earl Ray tinha um rifle.
Termina a entrevista. Tenho em mãos um exemplar do livro que James Earl Ray publicou sobre o caso.
Vacilo intimamente: devo ou não pedir um autógrafo ao assassino? Confesso que minha porção fútil venceu. Peço que ele autografe o livro sobre o assassinato.
James Earl Ray me deseja, por escrito, “os melhores votos”.
Resisti até hoje a vender o livro num desses leilões exóticos que povoam a Internet.

Posted by geneton at setembro 10, 2014 01:22 PM
   
   
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