novembro 13, 2014

SOCORRO! ESTÃO TENTANDO ACABAR COM O SOTAQUE NORDESTINO! ESTÃO CHAMANDO "ÓLINDA" DE "ÔLINDA"! ESTÃO CHAMANDO "PÉRNAMBUCO" DE "PÊRNAMBUCO"! ESTÃO CHAMANDO "SÉRTÃO" DE "SÊRTÃO"! ESTÃO CHAMANDO "PÉTRÓLINA" DE "PÊTRÔLINA"! QUEM INVENTOU ESSA DESGRACEIRA?

Rápida navegação pelo Recife. "Missão": participar de uma mesa na Fliporto, domingo, sobre as entrevistas com Ariano Suassuna, ao lado de Vladimir Carvalho - grande documentarista - e Samarone Lima, poeta e ex-assessor de Suassuna. Faço as contas, reviro velhos recortes: vejo que a primeira entrevista que fiz com Ariano Suassuna foi publicada em 1974 no Diário de Pernambuco. 1974! Lá se vão quarenta anos de perguntas e respostas. Repórter já não tão iniciante aos dezoito anos de idade, "persegui" Ariano Suassuna por corredores da Universidade, naquele final de 1974, em busca de uma declaração para uma matéria que tratava da deturpação do famoso "espírito do Natal". Deve ser dura a vida de intelectuais convocados a dar opinião sobre tudo e sobre todos. Assim caminha ( ou caminhava ) o jornalismo.

Um rápido comentário sobre uma "praga" que vem se disseminando em TODAS as emissoras de TV de Pernambuco ( não tive tempo de ouvir, mas não duvido que a erva daninha já tenha chegado ao rádio, também ): em nome não se sabe de quê, estão assassinando o sotaque nordestino! Já tinha ouvido falar sobre este atentado, mas, agora, com os ouvidos minimamente apurados, constatei o lamentabilíssimo e risível absurdo.
Que é o seguinte: uma das características mais marcantes do falar nordestino é, sempre foi e será a pronúncia aberta das vogais. Aqui, a gente não diz "côração": diz "córação". Não diz "môrena". Diz "mórena". E assim por diante. Quem é daqui não diz "Ôlinda". Nunca, jamais, sob hipótese alguma. Nativos dizem "Ólinda". Sempre dirão. Ainda bem.
Pois bem: numa triste "macaqueção" de outros sotaques, tidos - talvez - como mais "civilizados" ( Deus do céu...), o que é que se ouve aos borbotões em TVs e rádios? Gente daqui pronunciando coisas que, a ouvidos nordestinos, como os deste locutor-que-vos-fala, soam falsas, artificialíssimas e francamente absurdas: "Ôlinda" em vez de "Ólinda"; "Pêrnambuco" em vez de "Pérnambguco"; "Pêtrôlina" em vez de "Pétrólina", "sêrtão" em vez de "sértão"; "Rêcife" em vez do pernambucaníssimo "Ricife".
O pior é que meios de comunicação cometem esta "macaqueação" em massa - mas cem por cento da população continuam pronunciando as vogais como sempre pronunciaram, nos últimos e nos próximos séculos: com as vogais abertas, é claro.
Bastaria fazer uma pesquisa: não existe um só habitante de "Ólinda" que chame a cidade de "Ôlinda" - mas as TVs e, talvez, as rádios chamam. E o que dizer de "sêrtão"? Deus do céu, Deus do céu, Deus do céu.
O locutor-que-vos-fala não é especialista em fonética, em linguística, em sotaques - mas ninguém precisa ser doutor no assunto para constatar este Festival de Pronúncias Absurdas.
Qual é o objetivo deste ataque em massa contra o sotaque nordestino? Por que diabos passaram a achar que pronunciar as vogais com o som aberto "pega mal"? Deixo no ar a dúvida: a que se deve esta praga? Quem foi o gênio que achou que "pega mal" dizer "Ólinda"? É complexo de inferioridade? É imitação pura e simples? Ninguém vai fazer nada contra?
Que se lance uma campanha ( inútil, é claro ) pela volta das vogais abertas e em defesa do sotaque nordestino - urgente, já!
Tudo devia ser tão natural: cada um deve falar - simplesmente - como se fala no lugar onde nasceu ou se criou. É assim em qualquer lugar do mundo. Mas, não....
O locutor-que-vos-fala estará de bom grado na primeira barricada que se erga em defesa das vogais nordestinas!

Posted by geneton at novembro 13, 2014 10:40 AM
   
   
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