...E ELA ACORDARÁ SEGUNDA-FEIRA SONHADORA COMO SEMPRE
Termina uma campanha extraordinariamente radicalizada. E, para fechar a "Semana Musical", bem que vale ouvir de novo aqueles versos ingênuos e bonitos de "Amanhã" - de Guilherme Arantes -, cantados por Caetano Veloso:
"Amanhã / a luminosidade / alheia a qualquer vontade / há de imperar / há de imperar /(....) Amanhã / ódios aplacados /
temores abrandados / será pleno / será pleno".
"Ódios aplacados, temores abrandados": é o que se pode esperar.
Porque não custa lembrar que, acima de todas as ofensas, todos os ataques, todos os bate-bocas, todas as intolerâncias, todas as siglas, todas as divisões, todas as bandeiras, todas as paixões e todos os desamores eleitorais, ela acordará segunda-feira radiosa como sempre, carente como sempre, bonita como sempre, sofrida como sempre, sonhadora como sempre, necessitada como sempre, emotiva como sempre, alegre como sempre, tolerante como sempre, maltratada como sempre, generosa como sempre;
ela - que nunca deixou de esperar sinceramente pelo império da felicidade;
ela - que amanhã, nas ruas, nas florestas, nos planaltos, nos pantanais, nas planícies, nos sertões, nos becos, nas estradas, nas metrópoles, verá tanta gente indo para as ruas com o título de eleitor e a secreta esperança de sempre nas mãos, num espetáculo tantas vezes suprimido;
ela - que em algum momento da festa vai se lembrar comovida dos que sonharam com a democracia nos tempos de escuridão;
ela - que inventou a palavra "saudade";
ela - que nasceu para, teimosamente, reinventar o sentido de todos os futuros;
ela, a nossa Mãe Gentil, com toda certeza só espera que, "ódios aplacados/ temores abrandados", o amanhã seja pleno.
Parece ingênuo. E é. Eu me lembro da pichação feita por um estudante que, nesta época de pragmatismos, escreveu num muro: "Chega de realizações. Queremos promessas!".
E o amanhã, na pior das hipóteses, jamais deixará de ser, pelo menos, uma promessa - especialmente para quem teve a ventura de nascer nesta república belamente ancorada às margens do Atlântico Sul.
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Posted by geneton at outubro 25, 2014 12:08 PM