outubro 30, 2015

QUAL TERÁ SIDO O VERSO MAIS BONITO JÁ ESCRITO NO BRASIL? OU: "ASSIM TE LEVO COMIGO, TARDE DE MAIO"

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Que argumento o poeta Ferreira Gullar usaria para fazer um jovem se interessar por poesia?
Em entrevista que irá ao ar neste sábado, às nove da noite, no DOSSIÊ GLOBONEWS ( ver post anterior ), Gullar diz que citaria um dos versos que considera mais belos, entre os tantos que nos foram legados por Carlos Drummond de Andrade.
O trecho que Gullar sempre recita como exemplo de beleza é este - de "Tarde Maio":
"Como esses primitivos que carregam por toda parte o
maxilar inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio"
Se o locutor-que-vos-fala fosse votar uma hipotética eleição do verso mais bonito, escolheria o "fecho" de A Máquina do Mundo, também de Drummond:. Depois de dispensar a grande dádiva que lhe fora feita - a de desvendar os enigmas da máquina do mundo - o personagem segue adiante, por uma estrada pedregosa de Minas. Alta, altíssima poesia:
(...) baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.
A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,
se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas".
O próprio Gullar faz uma bela pergunta, num poema que Sérgio Chapelin lê no DOSSIÊ GLOBONEWS: "Onde escondeste o verde clarão dos dias?".
É parte do poema "A Vida Bate":
"Onde escondeste o verde
clarão dos dias?
E passamos
carregados de flores sufocadas.
Mas, dentro, no coração,
eu sei,
a vida bate.
Subterraneamente,
a vida bate.
Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi,
sob as penas da lei,
em teu pulso,
a vida bate.
E é essa clandestina esperança
misturada ao sal do mar
que me sustenta
esta tarde
debruçado à janela de meu quarto em Ipanema
na América Latina”

Posted by geneton at outubro 30, 2015 11:47 AM
   
   
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