DIANTE DOS DESTROÇOS DESTE COMEÇO DE SÉCULO, OS ESCAFANDRISTAS DO FUTURO GRITARÃO: "QUE TEMPOS MEDÍOCRES!"
Um dia, quando os escafandristas revirarem, no fundo dos mares, os destroços deste começo de século, haverão de constatar, boquiabertos: "Que época medíocre!".
Em seguida, repetirão em coro, uns olhando para os outros, pelo visor embaçado dos escafandros: "Que tempos medíocres! Política medíocre! Cinema medíocre! Música medíocre! Literatura medíocre! Jornalismo medíocre! Teatro medíocre!".
Uma alma complacente ainda exclamará, aflita: "Não sejam tão injustos! Havia as exceções de praxe!".
A matilha de escafandristas fará um leve movimento de concordância com a cabeça, como se tivesse ensaiado o gesto coletivo, mas logo retomará o coro ensurdecedor: "Que tempos medíocres! Que tempos medíocres".
Por fim, os escafandristas caminharão pelas ruínas do começo do século, com o cuidado de não pisar nos ossos medíocres dos destroços medíocres destes tempos medíocres.
Feita essa breve projeção sobre o que ocorrerá no futuro remoto,
o locutor-que-vos-fala arrisca um palpite sobre os dias que correm: o sentimento é de que os tempos são estupidamente medíocres, sim. Mas a sensação de baixo-astral que assola o Brasil com certeza é passageira.
Quem conhece o gigante - esparramado por metrópoles, florestas, rios, mares, províncias, riachos e povoados - sabe muitíssimo bem: se entrasse num consultório psiquiátrico para se consultar, o Brasil seria diagnosticado em cinco minutos como um clamoroso e auriverde exemplo de paciente maníaco-depressivo.
Dificilmente haverá na acidentada face da terra um país que passe da euforia à depressão com tanta constância e tanto fervor.
Em suma: o aparente baixo astral já, já, some.
Uma cena que se alterna com os momentos de baixo astral tomará, então, a grande tela onde se exibe a saga brasileira: como se fôssemos todos cavaleiros montados nos belos alazões da esperança, caminharemos, felizes, contra o sol, rumo a um horizonte febril e incendiado de promessas - numa cena que ficaria perfeita no fim de um filme cheio de aventuras inacreditáveis. Em vez da palavra "fim", aparecerá, na tela, a palavra "Brasil". Sempre foi assim. E assim haverá de ser.
Posted by geneton at junho 26, 2015 12:23 PM