DUAS OU TRÊS COISAS SOBRE A VELHA BATALHA POR UM TEXTO MINIMAMENTE LEGÍVEL
Escrever não é ciência exata. Se fosse, não teria "graça".
O aprendizado não acaba nunca: recomeça a cada parágrafo. Fico me lembrando das primeiras lições que tive a chance de aprender, faz séculos, na redação do Diário de Pernambuco. "Corria o ano de 1972". Eu transitava dos quinze para os dezesseis anos de idade. Quem terá sido o "professor" improvisado, em meio à correria da redação? Pode ter sido um "copidesque" chamado Rômulo. Ou terão sido todos, no dia-a-dia? Devo ter anotado em algum lugar as primeiras lições. Nunca deixei de segui-las. Não custa nada seguir os bons conselhos. Alguém me ensinou que fica feio começar uma frase com o verbo no gerúndio. Não é errado: é feio. Alguém me ensinou que fica feio emendar uma frase na outra com um "e que". Não é errado: é feio. Quebra o ritmo do texto. Alguém me ensinou que fica feio usar advérbios de modo em excesso. Não é errado: é feio. Idem com os adjetivos. Alguém me ensinou que não se deve fazer trocadilho: é o caminho mais curto para o desastre. Alguém me ensinou que é melhor não colar uma frase à outra com um gerúndio. Não é errado: é feio. Alguém me ensinou que a primeiríssima obrigação de quem escreve é ser claro. "A clareza, a clareza, a clareza!" - é o que nos implora, todo dia, o Nosso Senhor do Bom Texto.
Alguém me ensinou que o texto jornalístico deve seguir minimamente o padrão culto da língua. Não se escreve "tá" e "tão", mas "está" e "estão". Não se escreve "né?", mas "não é?". Alguém me disse que uma das funções do jornalista é, sempre foi e será o de zelar pela língua. É o mínimo que se pode fazer. Alguém me disse que não existe exceção: só escreve bem quem lê muito. Ponto. Alguém me disse que a vaidade e a empáfia são dignas de riso no jornalismo. Porque jornalistas que se julgam importantes jamais serão tão importantes quanto um dia pensaram que fossem. Alguém me disse que fazer jornalismo é simples: basta contar da maneira mais fiel e mais atraente possível o que foi visto e ouvido. É tudo. E assim haverá de ser.
Posted by geneton at julho 27, 2015 12:18 PM