Já avisei. Mas aperto a campainha de novo, para acordar os desavisados: o livro do ano, por enquanto, é um relançamento. Título do bicho: "O Afeto Que se Encerra", nova edição da quase autobiografia escrita por Paulo Francis em 1980.
Correi às livrarias, físicas ou virtuais, oh incréu! É tarefa urgente!
A maior contribuição de Paulo Francis ao jornalismo brasileiro não foram as tiradas politicamente incorretas, as pirraças, os ataques, os chiliques.
Era tudo ótimo.
Mas o "maior legado" de PF, como se diz na tribuna das câmaras de vereadores, foi ter dado uma grande contribuição para que se consolide no Brasil a tradição de uma "prosa clara e instruída".
Não é pouco, num país em que sempre houve confusão entre escrever bem e escrever difícil. Basta passar os olhos sobre os textos produzidos por nossos advogados: se esta república fosse realmente uma democracia, eles deveriam receber voz de prisão por agressões repetidas à comunicabilidade. Idem para noventa por cento dos autores de teses acadêmicas. Idem para críticos literários ilegíveis. Ia faltar espaço no Carandiru, se o presídio ainda existisse ( em tempo: a expressão "prosa clara e instruída" é da lavra de Francis).
A construção de uma "prosa clara e instruída" num país infestado de bacharelices é um trabalho lento, uma tarefa coletiva, um edifício que se ergue tilojo por tijolo, geração após geração.
Jovem jornalista, aliste-se no Exército dos Defensores do Texto Claro e Instruído.
Vista a farda. Estufe o peito. Bata continência para o general Francis ( e um punhado de outros).
A influência do texto de Francis sobre as novas gerações é cem por cento benéfica, portanto.
O que ele dizia sobre nossos jornais um dia pode deixar de ser verdade,
se os cultores da "prosa clara e instruída" se multiplicarem a cada geração:
"Nossa imprensa: empolada, previsível, chata. Como é chata, meu Deus".
Tomara que eu tenha citado certo.
Fiz minha boa ação do dia: recomendar "O Afeto Que se Encerra"; buzinar em favor da "prosa clara e instruída".
Já posso voltar a relinchar e a comer farelo.
( aqui, um texto de Ivan Lessa sobre os dez anos sem PF:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/02/070205_ivanlessa_tp.shtml)