Quando quer parecer que não é machista, o Brasil mete os pés pelas mãos. Um ministro recém-nomeado declara que só aceitou o cargo porque a mulher mandou. Um senador diz que só voltou trás da decisão de renunciar a um cargo na comissão de ética porque a mulher quis assim. O presidente, quem não se lembra ?, levava a mulher para reuniões técnicas, numa cena constrangedora. O que ela estava fazendo ali ?
As três cenas são patéticas.
Se uma mulher anunciasse ao país que só aceitara ser nomeada para um cargo de primeiro escalão do governo porque o marido mandou,
seria chamada de quê ?
Com toda certeza, seria chamada de pamonha, frouxa, vaca, indecisa.
Por que com os homens não é assim ? Por que, quando um homem público confessa que é um pamonha diante da mulher, também não desperta os (merecidos) risos de escárnio ?
O motivo é o seguinte : país machista tolera perfeitamente pamonhices cometidas por homens. Os paus mandados sabem que, ao confessarem de público que são paus mandados, não cairão no ridículo. Pelo contrário : terminarão vistos como "anti-machistas".
Mas o que, à primeira vista, parecia ser um gesto anti-machista na verdade é a consagração máxima do machismo.
A certeza de que não levarão vaias e ovos é que faz estes cavalheiros confessarem de público que só fazem o que as respectivas mulheres mandam.
Independentemente de crença, competência, filiação partidiária e seja lá o que for, deve-se desconfiar imediatamente do homem que diz que só faz o que a mulher quer.
Isso é patético. Patético. Patético.
(O vexame público se repete na chamada "esfera privada". Já ouvi, com esses ouvidos que as labaredas do crematório um dia vão consumir, o telefone de um profissional ( competente) tocar de meia em meia hora durante uma viagem de trabalho. Era a mulher, preocupada em monitorá-lo à distância. Perdi a confiança na competência do bicho. O pior é que gente assim trata a submissão à mulher como se fosse "virtude").
Repito : só em um país cem por cento machista um homem se declara escravo da mulher sem ter medo de cair para sempre, por todos os séculos, no mais absoluto ridículo.