setembro 13, 2009

ABDEL BARI ATWAN - PARTE 2

UM TELEFONEMA ENIGMÁTICO DE UM MILITANTE DA AL-QAEDA. TEMPOS DEPOIS, VEIO O 11 DE SETEMBRO

Eis a segunda das três partes do depoimento de Abdel Bari Atwan, dono de um jornal de língua árabe sediado em Londres – o homem que encarou Bin Laden:

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Atwan: contatos imediatos com Bin Laden (Foto: GMN)

É verdade que o senhor recebeu informação prévia sobre aquele que viria a ser o pior ataque terrorista da história?

“Eu estava esperando um ataque da Al-Qaeda contra os Estados Unidos. Mas, para ser sincero, não esperava que fosse na escala do que aconteceu em Nova York, no 11 de setembro.

O braço direito militar de Bin Laden tinha me dito que a Al Qaeda iria ensinar aos Estados Unidos uma lição muito, muito grande , algo de que os americanos jamais se esqueceriam. Recebi, portanto,a informação de que “alguma coisa” iria acontecer, porque Osama Bin Laden estava se preparando para algo “grande”. A ligação telefônica que recebi dizia : “Pode esperar que alguma coisa vai acontecer”.

Imaginei que a Al-Qaeda iria atacar uma embaixada americana. Mas nunca me ocorreu que eles fossem tão longe, a ponto de planejar um ataque ao World Trade Center, o maior centro financeiro do mundo. Mas eles planejaram o ato muito bem, o que, para mim, foi uma surpresa” .

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Atwan : sinais da Al-Qaeda (Foto : GMN)

O senhor se arrepende de não ter avisado a ninguém sobre a possibilidade de um grande ataque?

“Recebemos, durante todo o tempo, informações sobre ataques que, no fim, terminam não acontecendo. Pensei, então, que este tipo de telefonema que recebi trazia um tipo de informação igual a tantas outras.

Nós, árabes, habitantes do mundo islâmico, estamos sempre ameaçando atacar ou praticar vingança. As ameaças às vezes se realizam mas, em outras, não. Eu não estava realmente certo de que eles estavam preparando um ataque da escala do que aconteceu. Não levei o aviso a sério. Mas, se eu pudesse evitar um ataque maciço como aquele, eu evitaria”

“Quando eu mencionava os Estados Unidos, podia ver o sangue subir à cabeça de Bin Laden”

Que tipo de comentário Bin Laden fez ao senhor sobre a possibilidade de fazer um grande ataque contra os Estados Unidos?

“Bin Laden estava cheio de ódio contra os Estados Unidos. Pude ver. O que ele queria era se vingar, fazer um grande ataque. Era o tempo todo assim. Quando eu mencionava os Estados Unidos, podia ver o sangue lhe subir à cabeça."

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Bin Laden me disse que queria se vingar. Queria atacar. Queria promover um ataque muito, muito grande. Queria atingir os Estados Unidos no bolso. Ou seja: abalar o nervo financeiro do país de uma maneira ou outra. Mas não havia como dizer. O que ele me disse é que um grande ataque exige muita preparação. Não é fácil. Um ataque assim demanda tempo e preparo. Ao me dizer estas coisas, talvez ele estivesse se referindo ao que viria a acontecer no 11 de setembro”.

Qual foi o momento mais assustador do encontro que o senhor teve com Bin Laden?

“Houve três coisas assustadoras.

Primeira: quando estávamos indo para o encontro, em Tora Bora, passamos por estradas primitivas e estreitas. Eram estradas feitas para camelos e burros, não para carros. Quanto mais alta a estrada, mais escorregadia. O motorista devia ter uns dezoito anos. Dirigia como se estivesse numa autoestrada. Fiquei morrendo de medo.

“O motorista respondeu: ” Um grupo estava passando por aqui. Uma grande pedra caiu. Esmagou o carro. Todos morreram. Estão com Deus agora, no paraíso. São mártires”

Segunda: quando a gente estava chegando ao topo da montanha, vi pedras que rolavam sobre a estrada. O motorista parava o carro na estrada, para remover as pedras do meio do caminho. Tudo indicava que outras pedras iriam cair, adiante. Perguntei: “Isso é normal?”. Porque era assustador ver pedras caindo na estrada. O motorista respondeu: “É normal! Dez dias atrás, um grupo estava passando por aqui. Uma grande pedra caiu. Esmagou o carro. Todos morreram. Estão com Deus agora, no paraíso. São mártires. Então, se acontecer algo assim, será bom, porque iremos para o paraíso!”.

Eu disse: “Talvez seja cedo para eu ir para o paraíso. Porque quero fazer a entrevista….”.

Terceira: cinco minutos depois de chegar à caverna, ouvi barulho de tiro, foguetes, tudo.Todo mundo que estava dentro da caverna correu para fora, com suas armas. Fiquei onde estava, na caverna. Quase não me mexi. O som de tiros durou uns quinze,vinte minutos. Eram foguetes, eram bateria anti-aérea.

Quando voltaram, eles disseram: “Isso foi um exercício militar. Os americanos poderiam ter seguido você. Fazemos estes exercícios rotineiramente”.

Quando o exercício ia começar pela segunda vez, segurei um dos soldados e disse: “Por favor, fique comigo! Estou assustado!”. Os outros foram para fora da caverna, mas este ficou comigo. Temi que os americanos poderiam nos atingir. Se atingissem, tudo estaria acabado para nós ali.

“Estava dormindo no mesmo quarto que Osama Bin Laden. Botei a mão embaixo da cama. Puxei. Era um revólver”

“Depois, quando eu estava dormindo no mesmo quarto que Osama Bin Laden, em camas que na verdade eram feitas de galhos de árvores, logo senti que havia alguma coisa incomodando minhas costas. Não eram camas apropriadas. Não estávamos no Hotel Sheraton, afinal de contas. Como a cama era ruim, eu não conseguia dormir direito. Tentei, então, ver o que estava me incomodando. Botei a mão embaixo da cama. Puxei. Era um revólver.

Puxei as outras coisas: era uma caixa de granadas de mão! Descobri que estava dormindo sobre um arsenal!

Bin Laden estava ao lado – dormindo. Posso dizer que ele não roncava. Se alguém quisesse matá-lo, aquela era a melhor oportunidade. Porque eu tinha os revólveres, as granadas, tudo. Mas eu pensaria em algo assim….”

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Atwan : escolhido pela Al-Qaeda para a missão (Foto:GMN)

Qual foi a impressão pessoal mais marcante que Bin Laden deixou no senhor?

“Fala pouco. Não é feito nós, árabes do Oriente Médio ou talvez latino-americanos, que são barulhentos e usam as mãos para falar…Não.

“É calmo. Ri raramente. Fala com suavidade. Jamais interrompe você”

É calmo. Ri raramente. Fala com suavidade. Jamais interrompe você. Espera que você termine de falar. Quando fala, usa poucas palavras. Não é feito nós, que falamos sem parar. Ao mesmo tempo, ele tem senso de humor. Disse-me: “Precisamos da América. Queremos cooperar com eles. Precisamos vender o petróleo que temos. Não podemos beber petróleo. Não dá para beber…”.

A partir do que ouviu de Bin Laden, como é que o senhor explica o ódio extremo que ele desenvolveu contra a civilização ocidental?

“Os Estados Unidos são odiados por Osama Bin Laden – que vive cheio de ódio contra a administração americana, não contra o povo. Bin Laden é contra as políticas americanas, porque sente que, quando estava combatendo as tropas soviéticas no Afeganistão , foi usado pelos americanos e,depois, descartado, como se fosse um lenço de papel. Milhares de árabes mujahedins foram mortos na luta para manter as tropas soviéticas fora do Afeganistão. Osama Bin Laden ficou amargurado. Depois que eles derrotaram as tropas soviéticas, os Estados Unidos os descartaram. Como se não bastasse, os combatentes passaram a ser considerados de terroristas. Ou seja: cumpriram um papel, foram abandonados e, no fim das contas, ainda foram acusados de ser terroristas.

Bin Laden lutou no Afeganistão para libertar o país de tropas estrangeiras. Mas, quando voltou para a Arábia Saudita, viu que havia meio milhão de soldados americanos lá, justamente no país em que ele nasceu. Perguntou: “Qual é a diferença? O que ocorria no Afeganistão era uma ocupação soviética. Aqui, é ocupação americana”.

Feitas as contas, ele sentia que tinha sido deixado de lado e traído pelos americanos. Para ele, os americanos estavam fazendo, na Arábia Saudita, a mesma coisa que os soviéticos tinham feito no Afeganistão”.

A SEGUIR: ÚLTIMA PARTE DO DEPOIMENTO. AS FOTOS DE BIN LADEN. UMA RADIOGRAFIA DA AL QAEDA, A ORGANIZAÇÃO TERRORISTA QUE ELEGEU OS ESTADOS UNIDOS COMO ALVO NÚMERO UM.

Posted by geneton at setembro 13, 2009 01:55 AM
   
   
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