RAFAEL MASCARENHAS, O FILHO DE CISSA GUIMARÃES : CHEGA DE TRAGÉDIA. O QUE FICA É A ALEGRIA DE UM MENINO COM UMA GUITARRA
É assim : seja qual for a situação, morrer jovem é um imenso,um grande,um intolerável absurdo.
A morte de Rafael Mascarenhas, o filho da atriz Cissa Guimarães e do músico Raul Macarenhas, provocou comoção ainda maior, diante das circunstâncias do acidente.
Não há o que dizer. O sentimento de perda é, sempre, devastador – mas há o que perguntar,sim.
Ninguém precisa ser policial para constatar que o atropelador cometeu não um, mas vários crimes.
Nada, absolutamente nada, nenhum argumento, nenhuma desculpa, nada justifica o que ele fez : deixou a vítima de um atropelamento agonizando no asfalto. Pisou no acelerador e abandonou a cena do acidente. Isso é moralmente indesculpável. Funciona, aliás,como um atestado de culpa. Ponto.
A lista de absurdos começou antes: o motorista estava dirigindo carro dentro de um túnel interditado. Como se não bastasse, fez um retorno proibido. Testemunhas dizem que ele estava disputando um pega. Resultado: atropelou um rapaz de dezoito anos. Pior : deixou o local sem prestar socorro à vítima.
A sucessão de crimes não pára aí : abordado por uma viatura da polícia em local próximo ao atropelamento que acabara de cometer, o atropelador recebeu “autorização” para seguir para casa, como se nada tivesse acontecido. Vale lembrar: neste exato momento, a vítima agonizava no asfalto, dentro do túnel. A autorização dada pela polícia é suspeitíssima. Não por acaso, os policiais já foram afastados de suas funções.
A nota divulgada pela PM do Rio é um insulto e um escárnio : dizia que os policiais não detiveram o carro porque não notaram nenhum sinal de acidente.
Horas depois, quando o carro apareceu, o Rio de Janeiro viu a dimensão do absurdo: a frente do carro do atropelador estava totalmente danificada. Um cego teria notado que aquele carro tinha se envolvido num acidente. Os policiais que o abordaram não “notaram”.
Em suma: um carro com evidentíssimos sinais de ter se envolvido num acidente sai de um túnel interditado. É abordado pela polícia, mas segue viagem.
A polícia continuou errando : qualquer criança sabe que o local do acidente deveria ter sido isolado e preservado. Não foi. Doze horas depois do acidente, um fotógrafo do jornal O Globo fotografou, no local, evidências que, eventualmente, poderiam ser úteis à investigação.
Em seguida, o atropelador despachou o carro para uma oficina num bairro distante – outro gesto suspeito.
É óbvio que somente um inquérito pode reconstituir,na medida do possível, o que aconteceu. Mas…a soma de absurdos é,desde já, escandalosa.
O pior já aconteceu. Fica pelo menos uma pergunta (e uma esperança) : não haverá, em toda a polícia do Rio de Janeiro, alguém que ponha fim a este escárnio ?
O jornalista Jorge Antônio Barros, titular do blog “Repórter de Crime” no site do jornal O Globo,lembrou bem : ao comando da PM cabe apurar que tipo de serviço, afinal, estes policiais estão aptos a prestar à população ( http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/reporterdecrime/)
Mas chega de tragédia.
Os que conviveram com Rafael Mascarenhas certamente não vão guardar lembranças tristes. Pelo contrário.
Sala de aula: José, Priscila (professora de música),Rafael e Zeca
Nem faz tempo, fui a uma apresentação que meu filho Daniel,aluno da Escola Parque, faria em companhia de amigos. O grupo – todos eles com quinze, dezesseis,dezessete anos – era formado por garotos que, no Século XXI, amavam ídolos dos anos sessenta, como Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Jimi Hendrix. Lá estava Rafael, também aluno da Escola, na guitarra. Tocaram “Hey Joe” e ” Purple Haze” (“Névoa Púrpura”). A letra falava em “kiss the sky” ( beijar o céu).
Ah, sim: chega de tragédia, agora e sempre.
Quando alguém falar de Rafael Mascarenhas não haverá de lembrar de atropeladores, bandalhas, fugas ou policiais suspeitos. Não. Cenas assim haverão de ficar confinadas num filme de terror que ninguém jamais quererá ver de novo.
A imagem que fica, felizmente, é outra. Nem de longe sugere tristeza : garotos empunhando guitarras - como Rafael e seus amigos – sugerem música, juventude, alegria. É a imagem que ele deixa. E, feitas as contas, é o que há de ficar.
Rafael: "Purple Haze" na guitarra
Felipe, Lucas, Daniel, João Werneck, Rafael : dia de show
Daniel, João Werneck, Rafael : fãs de Jimi Hendrix
Posted by geneton at julho 22, 2010 10:52 AM