setembro 08, 2011

DOUGLAS FEITH

“CÉREBRO DA INVASÃO DO IRAQUE” DIZ COMO DECISÃO FOI TOMADA: “O PRESIDENTE CONCLUIU QUE ERA MAIS PERIGOSO DEIXAR SADDAM NO PODER DO QUE IR À GUERRA”

A Globonews exibe à meia-noite e meia, dentro da série DOSSIÊ GLOBONEWS : SEGREDOS DE ESTADO, entrevista inédita com o homem que ocupou um posto-chave no Pentágono durante o governo Bush. A exibição de episódios inéditos da série ocorre sempre às 20:05, mas, hoje, excepcionalmente, será à meia-noite e meia, em virtude da transmissão ao vivo do pronunciamento do presidente Obama sobre a economia. A série vai ao ar até o sábado, dia 10.

Douglas Feith vai passar o resto da vida explicando uma decisão extremamente polêmica que foi tomada quando ele ocupava um posto importante no Pentágono durante o governo de George W. Bush : a invasão do Iraque, em 2003, como parte da chamada “Guerra ao Terror”.

Poucas decisões foram tão criticadas. O custo – em dinheiro e em vidas – foi imenso. Cerca de cinco mil soldados americanos morreram. Quarenta mil foram feridos. Calcula-se em dez mil o número de militares iraquianos mortos – e, em cem mil, o número de civis ( o número foi citado por um agente da CIA que, durante anos, atuou no Oriente Médio: Robert Baer, personagem de um dos programas da série DOSSIÊ GLOBONEWS : SEGREDOS DE ESTADO). Vincent Bugliosi, promotor que ficou famoso nos anos sessenta por ter atuado no julgamento da Família Manson ( o bando de assassinos que matou, entre outros, a atriz Sharon Tate ), quer que Bush seja julgado como “criminoso de guerra”.

Feith era homem de confiança total do então secretário de Estado, Donald Rumsfeld. Ocupou o posto de subsecretário. Em suas memórias, Rumsfeld diz que encomendou a Feith um relatório detalhado sobre o que deveria ser feito no Iraque.

Quando estava no poder, raramente Feith falava com jornalistas. Fora do Pentágono, disse que se arrepende do mutismo. Deveria ter se pronunciado com mais frequência.

Hoje, é diretor do Centro de Estratégias para Segurança Nacional do Instituto Hudson, em Washington. Publicou um livro, inédito no Brasil: “War and Decision”. Quando nos recebeu, estava apressado, porque tinha um compromisso marcado para logo depois, fora do Instituto. Mas não se furtou a responder a nenhuma pergunta, inclusive sobre temas que o deixam levemente irritado, como, por exemplo, o fato de ter sido chamado de “falcão” pela imprensa. Ou as suspeitas de que o petróleo estaria, no fim das contas, por trás da decisão de invadir o Iraque. A entrevista terminou se estendendo.

Douglas Feith fala com clareza sobre um ponto fundamental : diz que, desde o início das discussões internas sobre como os Estados Unidos deveriam aos ataques do 11 de Setembro, ficou claro qual seria a Estratégia Bush. A decisão tomada foi a seguinte : a prioridade não era punir os autores do ataque – o que seria feito, também -, mas evitar que outros atentados ocorressem. Assim, nasceu a ideia ( controversa) da intervenção no Iraque, país que, sob o regime de Saddam Hussein, acumulava um histórico de hostilidades contra os EUA.

Sempre tive curiosidade de ouvir de alguém do governo Bush uma explicação sobre o Caso do Iraque. Que explicação ele daria sobre a “velha” dúvida: se o Iraque não tinha relação com a Al-Qaeda - a organização terrorista responsável pelos atentados de 11 de Setembro – por que os EUA invadiram o país ? Douglas Feith era o destinatário perfeito da pergunta, porque, desde o início, participou das discussões sobre a reação dos EUA aos atentados do 11 de Setembro. ( Repórter existe poara fazer perguntas e ouvir. Ponto. Simples assim. Fazer julgamento é papel dos comentaristas ).

Feith chegou a descrever uma cena típica de bastidores : quando as tropas da chamada “coalizão” chegaram a Bagdá, um soldado americano tratou de encobrir a cabeça de uma estátua de Saddam Hussein com a bandeira americana. A imagem foi transmitida para o mundo todo. Sem que ninguém soubesse, o gesto do soldado provocou uma correria nos bastidores do poder, em Washington : o próprio Douglas Feith correu ao telefone para pedir aos comandantes militares que mandassem o soldado tirar imediatamente aquela bandeira americana da cabeça da estátua Saddam. O gesto do soldado, com toda razão, poderia ser visto como uma provocação gratuita. Em questão de segundos, o soldado tirou a bandeira americana da estátua. Douglas Feith acha que nem houve tempo de a reclamação chegar aos ouvidos do soldado. É provável que o próprio soldado tenha se dado conta da besteira que estava fazendo.

A entrevista de Feith é um belo documento sobre o que pensa um estrategista que embarcou, sem titubear, numa decisão que será tema de discussão pelas próximas décadas ( a íntegra do que ele disse vai no ar no DOSSIÊ GLOBONEWS: SEGREDOS DE ESTADO) :

“O Iraque representava um perigo à segurança nacional já antes do 11 de setembro. Era um problema que o governo Bush herdou do governo Clinton e do governo do Bush pai. Por toda a década de 1990, houve inúmeras resoluções para tentar lidar com os perigos do regime iraquiano. Quando assumiu, em 2001, o presidente Bush tinha de lidar com o fato de que a estratégia de contenção que a ONU havia criado para o regime de Saddam Hussein estava desmoronando. O problema geral do Iraque foi, então,reexaminado à luz dos ataques do 11 de setembro. O presidente decidiu que o problema iraquiano era ainda mais importante e urgente à luz dos ataques do 11 de setembro. O Iraque era um elemento da rede terrorista internacional e um dos principais patrocinadores estatais de grupos terroristas. Não quer dizer que estava ligado ao 11 de setembro, mas era parte da rede global que nos preocupava. Sobre a razão de termos agido contra o Iraque ao invés de outros países, a maioria perguntava: Por que não atacar o Irã? Por que não atacar a Coreia do Norte? A resposta curta é que, antes de considerar a ação militar, temos que ter certeza de que tentamos tudo o que era possível para resolver o problema. Estava claro que muita diplomacia seria necessária para ver se podíamos lidar com o problema norte-coreano ou com os problemas e ameaças iranianos. Eram problemas que exigiam diplomacia. Quanto ao caso do Iraque, incontáveis esforços diplomáticos foram feitos ao longo de anos para lidar com o problema. O presidente, sensatamente, concluiu que havíamos esgotado todos os meios pacíficos para lidar com essa perigosa ameaça”.

“Se você olhar para os fatos que baseiam a análise do presidente Bush e da equipe do governo sobre a razão de termos tomado ações militares contra os perigos impostos por Saddam, verá que foi um plano muito bem elaborado. Mas houve erros. O mais famoso foi a crença de que o Iraque tinha estoques de armas de destruição em massa. Havia erros no plano. Isso era um grande problema. De um modo geral, o plano envolvia elementos sobre o histórico iraquiano de agressão contra seus vizinhos, hostilidade contra os Estados Unidos, apoio a grupos terroristas, uso e busca de armas de destruição em massa. Pode ser verdade que eles não tinham os estoques, mas esses outros elementos eram parte importante da análise. Baseado em tudo o que se sabia, o presidente concluiu – de forma sensata – que era mais perigoso deixar Saddam no poder do que ir à guerra. Por mais que ir à guerra fôsse muito perigoso. Isso não criou um mau precedente nem serviu de incentivo para outros irem à guerra por razões fúteis. Os Estados Unidos pesaram essas razões com muito cuidado, discutiram o tema com vários países e o presidente tomou uma decisão sensata”.

“A pergunta é se eu aceito ser chamado de falcão? Não sei exatamente o que as pessoas querem dizer com o termo! Durante meses, houve deliberações sobre se a ação militar era necessária no Iraque. Participei dessas deliberações como uma de muitas autoridades. Concordei com a decisão do presidente de que ação militar era necessária. O presidente tomou a decisão certa. O mundo ficou muito melhor depois de termos removido Saddam Hussein do poder”.

Posted by geneton at setembro 8, 2011 01:40 PM
   
   
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