janeiro 10, 2006

ALERTA CONTRA OS QUE ASSASSINAM AS "VIRTUDES DA CLAREZA"

Ninguém me contou, eu vi: não existe nada tão insuportável na face do planeta quanto intelectuais franceses cheios de caspa, com o cabelo oleoso, cachecol pendurado no ombro e pronúncia cheia de vícios horrorosos- como aqueles suspiros que disparam perdigotos rumo ao rosto de interlocutores indefesos. Jamais chegue a menos de um metro de um francês. Você será banhado por perdigotos voadores. Pausa para vômito. Parágrafo.

Passei um ano e meio à beira do Sena. Dezoito meses. Faço as contas: cerca de 540 dias e noites irremediavelmente jogados no lixo. Consegui uma vaga no DEA, Diplomas de Estudos Aprofundados em Cinema na Universidade de Paris 1, a celebérrima Sorbonne. O nome é pomposo. O curso é um festival de francesises inúteis : professores caspentos evocavam Platão para falar durante horas de uma cena perdida de um filme de Hitchock. Blá-blá-blá. Inutilidades. Coisa de sebosos entediados.

Ganhei um diploma por ter frequentado os seminários. Trouxe-o para o Brasil, como herança dos dias desperdiçados. Jamais usei este pedaço de papel cheio de carimbos e assinaturas. Não tive estômago para levar adiante, na Sorbonne, o projeto de tese, aprovado, sobre "Cinema & Subdesenvolvimento" . Francês adora ouvir bárbaros terceiro-mundistas desfilando primitivices. É o que fez o meu projeto ser solenemente aceito.


Mas pedi o boné antes de cair na tentação de levar a sério aquelas teses ininteligíveis, ilegíveis, inúteis. Preferi voltar a esta republiqueta ensolarada para me dedicar a outra atividade estupidamente ridícula ( mas um pouco menos inútil do que a de autor de sub-teses intelectualóides) : o jornalismo.

(Pausa. Profundo suspiro de desânimo, provocado por outro tipo de impostura - a que viceja nas redações: gente que diz "o óculos", gente que escreve "sombrancelha", gente que constrói frases com "pra mim ver", gente que acha que gratuito é "gratuíto", enfim, gente tecnicamente habilitada a varrer o terreiro de um sítio, mas não a manusear a língua, acha-se perfeitamente capaz de dizer aos senhores leitores, ouvintes e telespectadores o que acontece no planeta. Quá-quá-quá. A platéia se contorce de risos diante de tal impostura. Mas, como os impostores de ambos os sexos não têm o mínimo senso de autocrítica, continuam a despejar em nossos olhos e ouvidos o lixo que produzem consistemente)

Por falar em Paris, sou testemunha ocular e auditiva de uma verdade inapelável: a língua francesa só é bonita no cinema. Ao vivo e a cores, o francês falado é horrível. O pior é ver brasileiros macaqueando aquela desgraça falada ( só há uma cena mais ridícula do que brasileiro fazendo biquinho para imitar suspiro de francês: é a visão de selvagens tropicais cantando "ô-lê-lê-ô-lá-lá-pega no ganzê-pega no ganzá" dentro de ônibus de excursão ou em restaurantes no exterior).

Tomar banho é um sacrifício para o francês típico. Mas o problema não é o banho. É a ilegibilidade. Em "O Capelão do Diabo", livro lançado no Brasil, Richard Dawkins trata das imposturas intelectuais de "filósofos" rigorosamente incapazes de produzir durante toda a vida um mísero parágrafo legível. Noventa por cento dos impostores são franceses. Dawkins mata a charada: diz que estes grandes empulhadores escrevem difícil porque, se optassem por um estilo claro, revelariam ao mundo o enorme, o indizível, o estratosférico vazio de suas formulações.

Dawkins reproduz um parágrafo de Félix Guattari:

"Podemos ver claramente que não há nenhuma correspondência biunívoca entre relações significantes lineares ou de arquiescritura, dependendo do autor, e essa catálise maquínica multirreferenciial e multidimensional".

Pausa para vômito coletivo dos leitores.

Que tal esse espasmo de Gilles Deleuze:

"As singularidades-eventos correspondem a séries heterogêneas que são organizadas em um sistema que não é estável nem instável,mas sim metaestável, dotado de uma energia potencial na qual as diferenças entre as séries se distribuem".

Nova pausa para lançar detergente no salão. Pouparei vossos olhos indefesos: interromperei aqui a transcrição de outras aberrações estilísticas. Citado por Richard Dawkins no livro "O Capelão do Diabo", Peter Medawar acerta o alvo : em texto escrito há três décadas, diz que estava,em marcha, uma "campanha de difamação contra as virtudes da clareza".

Os ilegíveis, obscuros e caspentos filósofos franceses ocupam um lugar de honra no batalhão dos que destróem as virtudes da clareza em nome de uma profundidade inexistente. O que escrevem é rigorosamente inútil. É intraduzível. É nauseante. O pior é que sub-empulhadores (ou seja: estudantes recém-formados e professores incapazes de uma atividade realmente produtiva ) escrevem teses e teses e teses para incensá-los.

Os subprodutos dos empulhadores são tão ruins quanto as matrizes. Juro pelo Menino Jesus de Praga: nem faz tanto tempo, tentei ler num caderno de cultura um artigo que prometia fazer um balanço da literatura. Contaminado por semiologices, o texto era cem por cento ilegível. Ilegível. Ilegível. Desisti. Pensei em pedir à empresa que publica o jornal a devolução do dinheiro que gastei na banca. Se eu entrasse na justiça, ganharia. Mas não posso perder tempo. Tenho coisa mais importante para fazer: comprar uma Coca-Cola estupidamente gelada para beber depois do jantar.

Os guerreiros que combatem a clareza estão por toda parte. Vi outro dia um fotógrafo cego pontificando sobre enquadramento. É óbvio que falava em francês. Empulhação: é como se eu começasse a ditar regra sobre o bem-vestir.

Dou um conselho tão inútil quanto um cinzeiro numa motocicleta: em nome de todos os santos, pelo amor de Deus, não percam tempo com estes empulhadores.

Há uma maneira fácil de identificá-los: se forem franceses, são suspeitos. Suspeitíssimos.

Posted by geneton at janeiro 10, 2006 06:34 PM

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