maio 16, 2004

UM PROFETA DO APOCALIPSE DENUNCIA : O COMPUTADOR PODE MATAR A HISTÓRIA



LONDRES - O sinal de alarme disparou.Pelo visto,não vai deixar de fazer zoada nem tão cedo. Historiadores e arquivistas ingleses resolveram botar a boca no trombone,para denunciar,desde já,um problema que pode ter consequências devastadoras para o estudo da História no futuro próximo : o uso amplo,geral e irrestrito de computadores pelos governos pode ter facilitado em mil por cento a comunicação, mas criou um problema que exige solução imediata,antes que seja tarde.


O motivo de tanta preocupacao dos historiadores e arquivistas : documentos que só existem na memória de um computador podem se perder para sempre quando esta maquina maravilhosa se transformar em velharia inútil . Ninguém precisa ser especialista em informática para saber que novos modelos nascem,reinam e morrem com com a velocidade de um cometa. Computadores que,há apenas cinco anos,eram o supra-sumo da modernidade hoje nao encontram usuários nem no ferro-velho.O que acontecerá com a informacao estocada nestas maquinas ?

QUE SEGREDOS GUARDA A MEMÓRIA
DOS COMPUTADORES DOS GOVERNANTES ?

Os historiadores tremem nas bases ao imaginar : o que estará estocado na memória do computador usado pelo primeiro-ministro britânico ou o presidente dos Estados Unidos - por exemplo ? Vai tudo se perder um dia ? Quando mensagens e documentos eram feitos de papel, os historiadores podiam respirar aliviados porque sabiam que, um dia, iriam deitar os olhos nesta papelada. Todo ano,no mês de janeiro,o governo inglês libera à consulta pública uma montanha de documentos oficiais que durante anos - em geral,três décadas - ficaram fora do alcance de pesquisadores,historiadores e jornalistas. Lá estão,por exemplo,relatórios confidenciais de todo tipo sobre política interna e externa. Tudo foi escrito em papel e guardado em estantes. E os relatórios confidenciais que hoje piscam na tela dos computadores dos governantes existirão daqui a trinta anos ? Como se sabe,um simples e-mail do presidente para um assessor é material de interesse historico futuro - assim como os bilhetinhos de Jânio Quadros,por exemplo.

SEM ESCRITA,NAO EXISTE HISTÓRIA

Um dos primeiros a levantar a voz para denunciar os preocupantes efeitos colaterais da revolução informática foi o historiador John Vincent, professor da Universidade de Bristol,Inglaterra. Vincent faturou manchete nos jornais ao dizer que o mundo caminha para uma nova pré-história - quando não havia a escrita. O alerta do professor é claro : o estudo da História - diz ele - se baseia há seculos em documentos escritos. Se a ''comunicação eletrônica'' de hoje dispensa a produção de documentos impressos, então o mundo pode estar vivendo o início de uma nova prehistoria.''Comunicação eletrônica significa não-História'',diz este profeta do apocalipse.
Agora,os gritos de alerta comecam a vir de todos os lados.O jornal conservador Daily Telegraph - um dos mais importantes da Inglaterra - lamentou : ''Historiadores do futuro talvez jamais tenham a chance de descobrir, exatamente, o que se passou entre o primeiro-ministro John Major e o presidente americano George Bush durante a Guerra do Golfo. E o que dizia o e-mail trocado entre o gabinete de Margareth Thatcher e o Salão Oval da Casa Branca durante a Guerra das Malvinas ?'', pergunta,preocupado,o jornal. ''Depois que a era eletrônica criou o escritório sem papel, espalha-se o temor de que arquivos vitais possam desaparecer.'' .
Quando documentos que hoje sao confidenciais forem liberados à consulta publica daqui a trinta anos,''o software usado originalmente pode ter sido substituído duas ou três vezes por novas tecnologias. Qual será o destino de todas as informações processadas e arquivadas no sistema original ?'' - insiste o Daily Telegraph.

TRINTA ANOS : TEMPO DEMAIS PARA
A IMPALPÁVEL MEMÓRIA ELETRÔNICA

Um executivo do Arquivo Público britânico - Ian MacFarlane - diz que,ao contrário do que ocorre hoje com os documentos impressos,não é possível esperar trinta anos pela liberação de documentos guardados na memória dos computadores de hoje, pela simples razao de que daqui a três décadas estas máquinas nem estarão funcionando.Já terão sido substituídas.Gigantes do setor de informática, como a Apple e a IBM, já anunciaram que vão preservar para sempre pelo menos um exemplar de cada geração de computador , para evitar que perdas irremediáveis aconteçam. Mas os arquivistas e historiadores acham pouco. A preservação de um exemplar de velhas máquinas como alternativa de salvação pode ser uma rima,mas não é a solução. O problema é novo.Pede uma solução nova - que,na prática,ainda não foi encontrada.
Por enquanto,assustados,os profetas do apocalipse tentam se acostumar à idéia de que os computadores,quem diria, podem dar um golpe mortal na História.

(1997)

Posted by geneton at maio 16, 2004 11:25 PM
   
   
Copyright 2004 © Geneton Moraes Neto
Design by Gilberto Prujansky | Powered by Movable Type 3.2