[O Estado Geral das Coisas: Notas (Quase) Diárias]
OS ENIGMÁTICOS "PERIGOS" DA PRESIDÊNCIA
Fiz, uma vez, uma longa entrevista com o ex-presidente José Sarney, no gabinete que ele ocupava no Senado Federal.
( a íntegra da entrevista ocupa 51 páginas do nosso livro "Dossiê Brasília: os Segredos dos Presidentes". Lá estão, também, entrevistas com Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso ).
A certa altura, ao passar em revista as atribulações que sofreu no exercício do Poder, o ex-presidente Sarney deu uma declaração intrigante e algo enigmática:
"A Presidência é um cargo perigoso, porque expele os ocupantes - pela doença, pela incompetência, pela deposição ou pela renúncia".
( Sarney disse que, num momento de crise agida com o Congresso, resolveu, sozinho, que iria renunciar ao cargo de Presidente da República. Chamou o ministro da Justiça, Paulo Brossard, para comunicar a decisão. A crise acabou contornada ).
Pelo jeito, chegou a hora de a Presidente Dilma Rousseff - uma mulher pessoalmente honrada, até prova em contrário - sentir na pele os "perigos" da Presidência.
Não deve ser fácil.
[O Estado Geral das Coisas: Notas (Quase) Diárias]
QUE POLÍCIA É ESSA?
Cinco jovens metralhados pela polícia dentro de um carro. Cinquenta perfurações de bala na lataria. Não há, em lugar algum do mundo, "tática" policial que justifique tal selvageria. Só há uma esperança: a de que a imagem ( chocante ) do carro perfurado por cinquenta balas se transforme num "divisor de águas". Tomara que a indignação, por fim, vença a indiferença. Que polícia é essa?
[O Estado Geral das Coisas: Notas (Quase) Diárias]
RELATO COMPLETO DO MEU PRIMEIRO, ÚNICO E, PROVAVELMENTE, ÚLTIMO ENCONTRO COM WOODY ALLEN
Woody Allen chega aos oitenta anos neste primeiro de dezembro de 2015. Reviro meus arquivos, não tão implacáveis, à procura da transcrição da entrevista que fiz com o homem.
Tive a chance de entrevistá-lo longamente numa suíte do sétimo andar do Hotel Dorchester, diante do Hyde Park, em Londres. É uma dessas situações surrealistas que a gente vive no exercício do jornalismo: a chance de interrogar um cineasta de fama mundial.
Quando Woody Allen começa a falar, a gente sempre espera que vá soltar uma daquelas tiradas: “Eu me separei da minha primeira mulher porque ela era infantil demais. Toda vez que eu estava tomando banho na banheira ela vinha e afundava os meus barquinhos todos sem dar a menor explicação”. Ou então: “Não, eu nunca estudei nada na escola. Ou outros é que me estudavam”.
A coleção de tiradas de Woody Allen traz, como marca registrada, uma auto-ironia marcada por um sentimento de inadaptação à realidade. A fantasia, repete Allen, é sempre melhor. A entrevista aconteceu assim: um belo dia, você recebe um telefonema em casa. A produtora de um filme de Woody Allen oferece de mão beijada uma entrevista com o homem. Você comparece ao local na hora marcada. Não movi uma palha para conseguir o “furo de reportagem”. Só tive o trabalho de pegar o metrô. Nem sempre os repórteres suam a camisa.
[O Estado Geral das Coisas: Notas (Quase) Diárias]
"A ARTE É JOGAR BOLA" - DISSE O SAMBISTA. ENTÃO, "TUDO EM CIMA NOVAMENTE" COM A "TORCIDA CAMPEÃ"
Fui uma vez na vida ao Sambódromo do Rio de Janeiro para ver o desfile das escolas de samba. Ano: 1986. Recém-chegado ao Rio, fui matar a curiosidade de ver o espetáculo "ao vivo e a cores". Valeu o ingresso. Vi um show de bola.
Desde então, em toda Copa do Mundo eu me lembro da cena bonita: a Beija-Flor fazia um desfile em homenagem à paixão brasileira pelo futebol. Desabou um temporal daqueles logo antes do desfile. Ensopado, todo de branco, Joãozinho Trinta - o que apostava na alegria - comandava a festa.
[O Estado Geral das Coisas: Notas (Quase) Diárias]
SOMOS TODOS VÍTIMAS DA SÍNDROME DE WOODY ALLEN
O exercício do jornalismo uma vez me deu a chance de gravar uma longa entrevista exclusiva com Woody Allen, na suíte de um hotel de frente para o Hyde Park, em Londres ( nestes próximos dias, voltarei ao assunto ). A entrevista foi feita para jornal.
Eu me lembro especialmente de uma declaração. Lá pelas tantas, ele disse que, assim que terminava um filme, começava imediatamente a fazer outro, porque, se não fosse assim, passaria a olhar obsessivamente para uma nuvem escura que flutua à altura de nossos ombros e nos acompanha por toda parte: a morte. Em outras palavras, ele dizia que os filmes podem até ser dispensáveis, mas precisam ser feitos, porque impedem que os olhos passem o tempo todo fixados na tal nuvem escura.
Tenho esta sensação quando entro numa livraria. Noventa e sete por cento dos livros são dispensáveis. O mundo existiria sem eles. Mas os autores precisam escrevê-los. Noventa e oito por cento dos filmes são dispensáveis.O mundo existiria sem eles. Mas os diretores precisam fazê-los. Noventa e nove por cento das coisas que se vêem em tevê são dispensáveis. O mundo existiria sem elas. Mas alguém precisa faze-las.
Em resumo: somos todos vítimas da Síndrome de Woody Allen.
Ainda bem.
[O Estado Geral das Coisas: Notas (Quase) Diárias]
DOSSIÊ GLOBONEWS: A PALAVRA DO PERSONAGEM DE UM DRAMA QUE CHOCOU O MUNDO: O ATAQUE AO ALOJAMENTO DOS ATLETAS ISRAELENSES NAS OLIMPÍADAS DE MUNIQUE
O DOSSIÊ GLOBONEWS traz, neste domingo, às 15:30,
o depoimento do personagem de um drama que chocou o mundo: o ataque de um comando terrorista palestino contra o alojamento dos atletas israelenses, nas Olimpíadas de Munique, em 1972 - uma cartada ousadíssima, surpreendente e, no fim, trágica.
A Alemanha queria transformar aquelas Olimpíadas nos "jogos da paz". A segurança na Vila Olímpica foi relaxada: os policiais alemães não portavam armas, por exemplo.
Uma cena marcante aconteceu na abertura dos jogos: o estádio aplaudiu os atletas israelenses - que participavam de um evento mundial justamente no país que, apenas três décadas antes, tinha sido cenário do horror nazista.
[O Estado Geral das Coisas: Notas (Quase) Diárias]
LEMBRANÇAS SOLTAS DO VERÃO DA ANISTIA EM PERNAMBUCO. UM MENINO DE QUATORZE ANOS ESPERAVA PELA VOLTA DO AVÔ - MIGUEL ARRAES
Julho de 1979. Repórter da sucursal do Recife do jornal o Estado de S.Paulo, o locutor-que-vos-fala faz, para a revista Istoé, uma reportagem especial sobre os preparativos para o retorno do mais célebre dos exilados pernambucanos: o ex-governador Miguel Arraes de Alencar. Fui à casa do escritor Maximiano Campos, na rua Conde de Irajá, no bairro da Torre, para ouvi-lo sobre o grande dia - que se aproximava. Maximiano era genro de Arraes.
Ficara decidido que, assim que desembarcasse no Recife, o ex-governador iria para a casa de Maximiano - escolhida como cenário da primeira e concorridíssima entrevista coletiva que Arraes daria em solo pernambucano.
[O Estado Geral das Coisas: Notas (Quase) Diárias]
LEMBRANÇAS SOLTAS DO VERÃO DA ANISTIA EM PERNAMBUCO. UM MENINO DE QUATORZE ANOS ESPERAVA PELA VOLTA DO AVÔ - MIGUEL ARRAES
Julho de 1979. Repórter da sucursal do Recife do jornal o Estado de S.Paulo, o locutor-que-vos-fala faz, para a revista Istoé, uma reportagem especial sobre os preparativos para o retorno do mais célebre dos exilados pernambucanos: o ex-governador Miguel Arraes de Alencar. Fui à casa do escritor Maximiano Campos, na rua Conde de Irajá, no bairro da Torre, para ouvi-lo sobre o grande dia - que se aproximava. Maximiano era genro de Arraes.
Ficara decidido que, assim que desembarcasse no Recife, o ex-governador iria para a casa de Maximiano - escolhida como cenário da primeira e concorridíssima entrevista coletiva que Arraes daria em solo pernambucano.
[O Estado Geral das Coisas: Notas (Quase) Diárias]
INTERVALO MUSICAL: JOHN LENNON POR LOU REED
Pérola rara: o grande Lou Reed cantando "Mother", uma das mais belas canções de John Lennon, durante um concerto em homenagem ao ex-beatle, em Liverpool.
Lennon canta a versão original de "Mother" com voz rascante, dilacerada, sofrida. A versão de Reed é o extremo posto: transforma "Mother" numa espécie de balada tristonha. As duas versões - a de Lennon e a Reed - batem forte.
Em um post antigo, arrisquei uma tese: Lennon conseguiu resumir, em apenas um verso de "Mother", tomos e tomos das obras completas de Freud: "Mãe, não vá embora / Pai, volte para casa":
( aqui, o original - de Lennon: https://goo.gl/IZw21d )
[O Estado Geral das Coisas: Notas (Quase) Diárias]
E ANASTÁSIA GRITOU EM VÃO
Numa navegação pela internet, tropeço numa das melhores canções da música pop: "Sympathy For The Devil", clássico dos Rolling Stones.
A letra, fantástica, fala de situações em que o "demônio" estava rondando:
"Eu estava por perto quando Jesus Cristo teve seus momentos de dúvida e de dor ( ...) / Eu apareci em São Petersburgo quando vi que era hora de mudança / matei o czar e seus ministros / Anastásia gritou em vão / Eu gritei: quem matou os Kennedys? - quando, no fim das contas, fui eu e você / (...) Prazer em conhecer você / Espero que você tenha adivinhado meu nome...".
Bateu de repente uma lembrança de quando eu tinha meus dezesseis, dezessete anos, na cidade do Recife. Ouvia os Rolling Stones & Beatles & Jimmy Hendrix & Janis Joplin & Joe Cocker & Eric Clapton no meu velho toca-discos Philips.
Tentava entender as referências da letra de "Sympathy for the Devil".
Anastásia, como se sabe, era uma das filhas do último czar russo. Toda a família foi executada, a tiros e facadas, de madrugada, no porão de um casarão, por uma "patrulha" bolchevique. Quando morreu, Anastásia tinha dezesseis anos.
A família real russa achou que iria partir para o exílio, mas o comando da revolução, por temer, num primeiro momento, que a monarquia fosse restaurada, decidiu pela execução. E as ordens - secretíssimas - foram cumpridas.